quarta-feira, abril 26, 2006

Relógio de Pêndulo - Apresentação

“Relógio de Pêndulo” não vem acrescentar nada ao muito que por aí se escreve, com maior ou menor qualidade. Passará discreto. É essa a sua vocação! Não entrará seguramente nas discussões idealistas sobre a importância dos blogs na democratização do nosso espaço público. Aliás, não tenho ilusões quanto aos blogs como instrumento de intervenção social. Queira-se ou não, a vida é lá fora e a política faz-se na praça pública. Tenho como adquirido que, no mundo da blogsfera, todos são “primos e primas” numa pequena aldeia global, alimentando pequenos clãs de afectos ou de meras simpatias, nas quais cada um se (re)conhece e (auto)reproduz como grupo, numa relação lassa e, certamente, gratificante, mas geralmente destinada a extinguir-se na espuma efémera dos dias...

Ao que venho, portanto? Direi que venho jogar-me numa folha em branco. Escrever é falar de nós. Mesmo quando nos ocultamos nas palavras que aos outros oferecemos. No jogo de máscaras - que as palavras, tantas vezes, são! - o rosto acaba sempre por se desvendar na sua verdade transparente. Dito de outra maneira, a palavra é sempre ideológica: diz-me como falas, ou do que falas, dir-te-ei quem és!..

E gostaria também de poder seduzir. Pela palavra, está bom de ver. Desejaria que os meus textos fossem apreciados por quem, eventualmente, os possa ler. É que a palavra, falando de nós, dá sabor à vida. Oferece-nos aos outros na dimensão dionisíaca do prazer. Diria até que a retórica da palavra (e a arte em geral) contribui para a erotização da vida. Diria... se a palavra erotismo não estivesse tão poluída!...

Mas sejamos claros: falarei da “margem esquerda” da vida. Falarei de banalidades. Do riso e das lágrimas. Dos homens e mulheres concretos. Das emoções envergonhadas. E das gargalhadas expontâneas. Quem me dera ter talento para falar das qualidades (e defeitos) do Povo do meu País. E ser cronista das suas lutas...

Não tenho heróis. Mas confesso que os anti-heróis têm lugar cativo ante o écran em que me projecto. E as ideias heréticas e vencidas, que antes de tempo irrompem como húmus de futuro, são aquelas que povoam o meu ideário ...

Porque, apesar de tudo, a Terra move-se...

4 comentários:

lique disse...

Gosto de quem se joga assim, afoitamente, numa folha em branco e de quem consegue seduzir. Só por isso, acho que vale a pena vir cá espreitar a ver se consegues cumprir essa intenção (a de seduzir, pois claro!).
Beijos e boa sorte por aqui.

mjm disse...

Recebido o convite, vim ver o Pêndulo do Herético e tive uma estranha sensação: este texto poderia ter sido escrito por mim! Forma e conteúdo têm a minha cara, o que me deixa apreensiva, e expectante.
Se, no entanto, se move, mova-se, portanto!

M. disse...

Para já, fiquei seduzida.
E ainda bem que nos visitaste no Fotoescrita, assim passámos a conhecer-te.
M

Menina Marota disse...

"...Falarei de banalidades. Do riso e das lágrimas. Dos homens e mulheres concretos. Das emoções envergonhadas. E das gargalhadas expontâneas. Quem me dera ter talento para falar das qualidades (e defeitos) do Povo do meu País. E ser cronista das suas lutas..."


... só por isto, e muito mais que já li, valeu a pena cá ter entrado. Voltarei de certeza...

Bom fim de semana ;)

CELEBRAÇÃO DO TRABALHO

  Ao centro a mesa alva sonho de linho distendido como altar ou cobertura imaculada sobre a pedra e a refeição parca… e copo com...