Soube-se que o Presidente do Governo espanhol, José Rodriguez Zapatero, no passado dia 6 p.p, aceitou o plano marroquino para o Saara Ocidental, que nega a independência do Povo Saraui, prevendo apenas a autonomia “como base para impulsionar o diálogo entre as partes e encontrar uma solução definitiva.”
A posição de Rodriguez Zapatero foi já criticada pela Argélia e pelo Presidente da República Saaraui (no exílio), Mohamed Adelaziz, que a qualificou como destabilizadora.
Não certamente por acaso, Madrid firmou recentemente um acordo de fornecimento de armas Rabat, recebendo como contrapartida o acesso dos barcos de pesca espanhóis às águas saarauis, que Marrocos ocupa, violando princípios elementares do direito internacional.
Como se sabe, seis dias antes da morte de Franco, em 14 de Novembro de 1975, por acordo assinado em Madrid, a Espanha cedeu a Marrocos e à Mauritânia o Saara Ocidental, atraiçoando as aspirações do povo saraui, num acto que não encontra paralelo em toda a negra história do colonialismo europeu em África.
Entretanto, a Mauritânia já reconheceu a República Árabe Saaraui Democrática, bem como mais de sessenta Países de todo o Mundo.
O povo saraui leva, portanto, mais de 30 anos de luta pelo reconhecimento de direitos fundamentais, a começar pela autodeterminação nacional e o fim da ocupação marroquina. Em concreto, no passado dia 26 de Fevereiro cumpriram-se três décadas da chamada "Marcha Verde" com que o imperialismo marroquino impôs a ocupação do Saara Ocidental, com a colaboração da Espanha franquista.
No dia seguinte, 27 de Fevereiro de 1976, em Bir Lahlou, Secretário-Geral da Frente Polisario proclamou a independência da República Árabe Saaraui Democrática, impedida, até hoje, de exercer os seus direitos colectivos e individuais, como povo livre.
Coincidindo com o trigésimo aniversário da luta armada e, agora, com a Espanha em regime democrático, a Frente Polisario mantém que "Espanha continua a ser responsável legal e política pelo sofrimento do povo saraui e continuará a ser até o Saara Ocidental poder exercer o direito de autodeterminação".
O líder da Frente Polisario e Presidente da República no exílio, Mohamed Abdelaziz, definiu como "vergonhosa" a actuação espanhola retirando-se da ex-colónia sem cumprir o seu compromisso de garantir um referendo de autodeterminação e cedendo às forças de ocupação marroquinas o controlo e a repressão do povo saraui.
Também os organismos internacionais e, em especial, os organismos da União Europeia, estão a permitir o sofrimento de todo um povo, sob o domínio da monarquia autocrática marroquina.
Apesar dos contínuos apelos da Frente Polisario a um processo autodeterminação com base em referendo, a verdade é que a passividade da ONU e da União Europeia e a complacência interessada do Estado espanhol contribuem diariamente para a violenta anexação marroquina e a exploração desenfreada da riqueza pesqueira e os jazigos de hidrocarbonetos existentes no subsolo do Saara Ocidental
A actuação espanhola em todos estes anos, através dos diferentes governos, desde os franquistas aos da UCD, PSOE, PP e novamente PSOE, foi sintetizada, num comentário recente do representante da imigração saaraui em Lanzarote (Canárias), Hammudi Iselmo, como "a traição mais vergonhosa ao nosso povo".
Porém, com grande sentido de independência, ao longo dos tempos, o Povo Saaraui resistiu a todas as tentativas de dominação, quer dos portugueses (os primeiros colonizadores), quer dos sultões marroquinos, quer dos espanhóis. Não será certamente, apesar dos ventos contrários, que o Povo Saaraui irá claudicar, ainda desta vez... Assim tenha a solidariedade activa das pessoas e dos Povos...
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Ocorrem-me à memória ressonâncias antigas: “... a vida aqui tão perto e nós aqui neste deserto”! Vá lá saber-se porquê!...
sexta-feira, março 16, 2007
... " e nós aqui neste deserto!.."
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CELEBRAÇÃO DO TRABALHO
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19 comentários:
Desejo-te um bom fim-de-semana!
Beijinhos
A opção de Zapatero decorre, não tanto de solidariedades espúrias com o país ocupante da RASD, mas sim de uma aliança oportunista com vista a manter o "status quo" em Ceuta e Mellila.
Curiosamente a memória do PSOE é curta e ignora que foi a guarda-moura marroquina que ajudou, e de que maneira, o Caudilho a assassinar milhares de republicanos, muitos deles socialistas.
Ora aqui está um tema que desconheço quase em absoluto.
E lá me obrigas a fazer uma pesquisa sobre este tema, baseado no teu resumo histórico.
Obrigado Prof. Herético! :)
É lamentável de facto, vindo ainda por cima de um governo socialista...
Pois... e Ceuta?
Estou como o Diafragma. Sei muito pouco da triste história deste povo. Mas aqui mesmo já aprendi mais um pouco, PROF.
Curiosamente, sendo algo que geograficamente se passa realmente "perto", parece-me que o desconhecimento das circunstâncias da situação que referes no post é enorme. Eu confesso o meu conhecimento muito superficial. E, portanto, a impossibilidade de comentar com fundamento.**
O que determina acordos bi ou multilaterais são sempre interesses de toda a ordem, vindo no final da lista o reconhecimento dos povos.
Espanha achará que lucrará mais atrasando o reconhecimento do povo Saaraui, e age em conformidade.
África vai ter de esperar muito tempo para ser olhada como merece. Dói, mas parece ser assim.
Lamentável, claro está.
Um abraço
Pois é o capital não tem pátria nem se rege por moral ou ideologias de qualquer epóecie. Quando os interesses economícos e políticoa falam mais alto, adeus moral adeus ideologia.Neste aspecto o Aznar não faria melhor!
Um abraço
Eu sei do que falas, que nunca lhes falte a vontade, a persistência, a fúria silenciosa e persistam como gente, como povo independente que o são! E estão aqui perto, ao virar da esquina, na próxima maré....
bj
C.
Eu é que gosto de vir aqui, são excelentes lições que se podem reter das tuas palavras e sabedoria.
Uma boa semana*
um dos meus desertos é Wadi Rum...aonde regresso sempre....
conheço bem aquela parte do mundo....e aquela soberania de alma....
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gostei especialmente deste post.
um beijo.
Este subscrevo todo. Apesar de ter sido sempre um descrente relativamente a Timor. Abraço,
Deduz-se claramente de muitos dos comentários que recebes o franco estatuto de serviço público destas pendulares dissertações.
Professorais, sim. Divulgadoras, também. Estimulantes, como se vê.
Aplauso, meu caro, e chapelada.
Acabas de prestar um excelente trabalho em prol da causa do povo saraui.
até tu, meu caro Jorge (OrCa)!... "professorais" as minhas croniquetas?! não me lixes, pá!
se forem "estimulantes" e "divulgadoras", cumprem-se!
grato. um abraço
Uma exposição muito lúcida de um assunto de que apenas conhecia os contornos, apesar de aqui tão perto.
A posição de Zapatero é criticável, por certo.
Mas não dentro dos pormenores históricos da região para ter opinião própria sobre este assunto (para além dos que afloras).
Sei é que a Frente Polisario já é velhinha...
Um abraço.
Para os que querem saber algo mais sobre a autonomia do Sara, visitem o site:
http://www.corcas.com/Default.aspx?alias=www.corcas.com/esp
agradeço a informação,que registo.
a questão, porém, não é "permitir a todos los saharauis administrar democráticamente sus asuntos, en el respeto de la soberanía y la integridad territorial del Reino",
mas sim a realização do direito de autodeterminação daquele povo mártir,conforme o direito internacioanl e as deliberações das Nações Unidas.
É tão fácil falar (quando se vive "na outra banda"), como criticar os factos que mais se assemelham às nossas aversões pessoais e, tudo isto, sentado numa rica poltrona, dá-nos aquela "sensação de bem-estar", de "militar" pela "justa causa", mesmo quando estamos bem longe da verdade. Por vezes, seria melhor ver primeiro e depois crer! espreite aqui e, se entender Francês ficará mais elucidado sobre a Polisário:
http://www.dailymotion.com/video/xm65h_polisario-bande-de-terroristes_news
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