quinta-feira, março 29, 2007

Soberania Alimentar?!... Que é isso?

Realizou-se no Mali, em Fevereiro de 2007, o “Fórum Mundial de Soberania Alimentar "Nyéléni". O Mali, como se sabe, é um dos dez países mais pobres do mundo, se a pobreza for medida em dinheiro. No entanto, o país tem recursos naturais, como ouro e algodão – do qual é um dos principais produtores do continente.

Porém, a maior riqueza está no facto de 80% da população continuar a exercer, quotidianamente, a sabedoria de cuidar e produzir os seus alimentos, ou os remédios, ou os seus animais, ou as fibras para o vestuário, ou os materiais das suas habitações, apesar da inegável vulnerabilidade dos seus recursos, face aos mercados e às mudanças tecnológicas,...

Uma forma de resistência à globalização? Certamente!... Mas dir-se-ia, sobretudo, uma forma de sobrevivência... Contra quem?

Contra o imperialismo, o neoliberalismo, o neocolonialismo e todo sistema que empobrece a vida e os recursos naturais, bem assim como os agentes que os promovem, as multinacionais, as instituições financeiras internacionais e a Organização Mundial do Comércio.

Contra as tecnologias e as práticas que causam erosão na capacidade de produção alimentar no futuro, danificam o meio ambiente e põem em perigo a saúde das populações, designadamente, a agricultura e pecuária transgénicos, a aquacultura industrial, as monoculturas dos bio-combustíveis industriais e as práticas pesqueiras destrutivas.

Talvez, pela imensa riqueza de contrastes, o Mali tenha sido o cenário ideal para esta iniciativa, que juntou mais de 500 delegados de 118 países e de diversos movimentos sociais, constituídos por camponeses, trabalhadores sem terra, migrantes, mulheres, pastores, pescadores artesanais, consumidores e ecologistas.

Em Nyélény se encontraram gentes variadas, mistura de saberes ancestrais e modernas técnicas, miscigenadas no nobre propósito de definir estratégias comuns tendo em vista a soberania alimentar, concebida como o direito e a capacidade dos povos, a partir de bases locais, poderem produzir alimentos de qualidade, suficientes e acessíveis à sua população. Um direito fundamental, sem dúvida alguma...

Uma jornada de estudo e de luta em Nyélény!... Para quê? Para quem?

Para que todos os Povos do globo possam decidir do seu sistema alimentar...

Uma jornada de estudo e de luta em Nyélény para que, à escala planetária, se reconheçam e respeitem os direitos das mulheres na produção de alimentos, bem como em todos os órgãos de tomada de decisões...

Uma jornada de estudo e luta para que os povos, em todo o Mundo, vivam com dignidade e possam subsistir nos seus locais de origem.

Uma jornada de estudo e luta para que a soberania alimentar seja um direito humano básico, reconhecido e respeitado pelas comunidades, pelos Povos, pelos Estados e pelas instituições internacionais.

Uma jornada de estudo e de luta tendo em vista uma verdadeira Reforma Agrária que garanta aos camponeses plenos direitos sobre a terra que cultivam...

Bom seria que a “Declaração de Nyélény sobre Soberania Alimentar” pudesse servir de inspiração política aos nossos governantes, sobretudo, porque muito se ufanam de pertencerem a anafada Europa, mau grado o elevado deficit alimentar do País, a desertificação do interior e a ruína da nossa agricultura e das nossas pescas...

Ou então, porque Portugal, eufórico, se apresta para presidir aos destinos da União Europeia, que tantas responsabilidades tem nesta matéria, designadamente, nos desbragados apoios financeiros à sua agricultura industrial, que sufoca as livres trocas comerciais e os preços agrícolas nos países do Terceiro Mundo...

Bom seria!... Mas não me atrevo à ingenuidade de acreditar. Conforta-me, porém, a certeza – para além deste voto piedoso – que nos locais mais inesperados “o mundo pula e avança”!... Em Nyélény, por exemplo...



ver: Nyélény 2007

16 comentários:

Isamar disse...

Saio sempre bem mais rica do que quando entrei.Os teus posts são interessantíssimos.
Beijos

Anónimo disse...

"Saio sempre bem mais rica do que quando entrei.Os teus posts são interessantíssimos."

Bem que eu gostaria de afirmar o mesmo, não fosse o conteúdo tão alheado da realidade económica que se vive a nível da mundialização (e não só da globalização).

isabel mendes ferreira disse...

o mundo avança mas não aos pulos....





e lá mais ao sabor do tempo da espera....


beijo Herético....:))))


e boa noite.

Anónimo disse...

Olá,
arranja-se por aí um isqueiro?

Maria disse...

Bom seria, sim, mas não acreditamos.
E que o mundo pula e avança, é uma verdade indesmentida.
Sempre foi assim. Sempre assim será, mesmo contra os que não querem que seja.

M. disse...

Não sabia. Muito interessante este movimento. E bonito, nas sua grandeza humana.

Licínia Quitério disse...

Seria tão bom que os povos pudessem permanecer nos seus territórios de origem, sem arrrastarem mundo fora o fantasma da fome. Interessante Movimento este!

SÓNIA P. R. disse...

Bom fim de semana. Gostava da sua opinião no Suck. Abraço.

Bernardo Kolbl disse...

Não avança mas não faz mal. Importante é fazer ou tenyar.
Bom fim de semana.
Um abraço.

JM disse...

Interessantíssima a atitute do povo do Mali... desconhecia.
Também acredito que em alguns lugares, em algumas ocasiões, "o mundo pula"... infelizmente não me parece que "avance".

Um abraço

Unknown disse...

o mundo é bola e bola pula. pena que não meta golo no cesto da paz.

olá herético

Cris disse...

Não sabia. fico contente por dentro, Aqui fica um beijinho de bom fim de semana.

Cris

disse...

A inconsciência ou inexistência de vontade própria do individuo, canaliza potenciais violadores da condição humana para o seio da sua própria existência, tornando amorfos os seus direitos.

Frioleiras disse...

sempre...
a
ler-te !...
bj
F.

PintoRibeiro disse...

Bom fim de semana, abraço.

Vladimir disse...

a globalização trouxe coisas boas e menos boas....Como era sábado, o Vladimir inspirou-se e decidiu dar forma ao pensamento.

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