terça-feira, abril 10, 2007

Outras Personagens III - Adriano Correia de Oliveira

Adriano Correia de Oliveira teria feito, na passada Segunda Feira, dia 9 de Abril, 65 anos de idade. Morreu cedo de mais. Com quarenta anos. Mas se lhe foi breve de mais a vida, não foi, porém, vivida em vão...

Nascido, no Porto, a 9 de Abril de 1942, cresceu em Avintes, vendo correr as turbulentas águas do Douro. E, como um rio que, por vezes, galga as margens, também Adriano Coreia de Oliveira, na sua humanidade, soube romper os asfixiantes limites que o oprimiam. Com a esperança no olhar e na sua voz bem timbrada. E uma arma em cada canção...

"Há sempre alguém que resiste. Há sempre alguém que diz não...”

Adriano foi o mais generoso e o mais corajoso dos cantores do seu tempo, aquele que nunca se recusou a cantar o que era necessário cantar. Poemas extraídos dos livros a "Praça da Canção" e de "O Canto e as Armas" de Manuel Alegre, quando esses poemas eram proibidos e quando gravá-los ou cantá-los em público constituía um risco e um grande desafio.

Adriano Correia de Oliveira foi para Coimbra aos 17 anos, em 1959, com o objectivo de se licenciar em Direito, que não realizou. Desenvolveu, porém, grande actividade nos organismos estudantis da Academia: cantou e foi solista no Orfeão Académico, fez parte do Grupo Universitário de Danças Regionais e integrou o CITAC – Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, onde representou várias peças.

Nessa altura, vivia-se em Coimbra uma das fases mais ricas da sua história académica, que muito contribuiu para alargar a consciência política de algumas gerações de estudantes, carne para canhão na guerra colonial. E, através da guerra, “contaminar” os militares das forças armadas portuguesas, que mais tarde seriam os generosos “capitães de Abril”.

É também em Coimbra que Adriano toma contacto com o movimento antifascista juvenil, ao qual adere desde a primeira hora e inicia a sua militância política, que manteve até morte. No âmbito do Partido Comunista Português, importa sublinhá-lo. Na sua música, de extrema emotividade, está sempre presente a sua dedicação aos trabalhadores, ao povo, aos ideais de liberdade, da democracia e do socialismo...

Antes e depois do 25 de Abril percorreu o País e o mundo com a sua voz, sempre carregada de esperança, em espectáculos musicais empolgantes, vibrantes de patriotismo e de esperança num País mais justo, mais fraterno e solidário... Morreu em Avintes, em Outubro de 1982. Tinha 40 anos...

Faz falta a sua voz livre e solidária!...



“Em memória de Adriano” - poema de José Carlos Ary dos Santos

Nas tuas mãos tomaste uma guitarra
copo de vinho de alegria sã
sangria de suor e de cigarra
que à noite canta a festa da manhã.

Foste sempre o cantor que não se agarra
O que à terra chamou amante e irmã
Mas também português que investe e marra
Voz de alaúde e rosto de maçã.

O teu coração de oiro veio do Douro
Num barco de vindimas de cantigas
Tão generosas como a liberdade

Resta de ti a ilha dum tesouro
A jóia com as pedras mais antigas
Não é saudade, não! É amizade...”

12 comentários:

Anónimo disse...

Ele está por aqui presente,nos cds,mas mais do que isso, no som da sua voz no seu espírito que volteia a sua inconfundivel voz..
Um abraço do Morfeu

Maria disse...

O Adriano faz falta a todos quantos com ele lidaram, pela sua generosidade, pela sua camaradagem, pela sua boa disposição. Sempre.
Passei o dia de ontem a ouvi-lo, especialmente, pois o Adriano é voz frequente aqui em casa.
Onde conversámos tanto, onde petiscámos muito, onde também discutíamos e trabalhávamos.
Ele era um ser solidário. Verdadeiro.
Um Homem. Autêntico.
Um Amigo. Que continua entre nós.

Obrigada por este post, que só hoje li...

Anónimo disse...

Abre no peito o luar
Companheiros acercai-vos

Arde em nós a luz do dia
Companheiros revezai-vos

(Urbano Tavares Rodrigues)

Porque ele foi um Companheiro. Um dos melhores.

António Melenas disse...

Adriano foi dos cantores da resistência, uma das vozes mais solidárias, masi fraternas mais francas, mais honestas e também, por acréscimo, da mais boniaas e bem timbradas... e também das mais esquecidas, infelizmente
Bem fizeste em o recordar aqui
um abraço

Licínia Quitério disse...

o soldadinho não volta? há-de sempre voltar. há-de estar sempre presente no nosso espanto perante os humilhados e ofendidos. cantemos com ele!

um abraço, Herético.

Anónimo disse...

é assim que os grandes se tornam imortais.

Unknown disse...

É mais uma estrela que cintila no céu, mas que permanecerá sempre entre nós!
Obrigada por este excelente trabalho.

♥*´¯`*.¸¸.*Beijinhos*.¸¸.*´¯`*♥

Cris disse...

No seu canto, viverá para sempre!

Bjo
C.

vida de vidro disse...

Dói um pouco pensar em quanto mais teria para nos dar, naquela voz espectacular que acorda em nós o sentido da luta contra tudo o que é opressão.
A obra está aí, ainda que bastante esquecida no que respeita aos media. Tu lembraste-te. **

JM disse...

Neste "post" trazes-me uma dupla saudade...
O meu conterrâneo Adriano Correia de Oliveira, a voz da nossa consciência, a projecção da nossa coragem e as palavras de José Carlos Ary dos Santos, um dos grandes poetas portugueses.

Um abraço

Jorge Castro (OrCa) disse...

Quantos dos que conheço, nestes mares de proximidade, erguem o estandarte que ele ajudou a empunhar?

É essa a nossa homenagem. Que viva sempre na nossa memória e nos nossos actos, para que sobreviva.

"Este parte, aquele parte..." e todos nos havemos de ir. Espera-se que a nossa passagem relembre, à nossa volta, o pó de estrelas que nos enforma. Tal como Adriano.

Um grande abraço.

Cris disse...

Beijinhos e Bom Wk!!! Passa lá por Terra, já temos o post "tonto" de 6ªFeira.

Cris

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