sexta-feira, abril 27, 2007

A Segunda-Feira negra de Guernica...

Em 26 de Abril de 1937, no decurso da Guerra Civil de Espanha, a força aérea nazi, apoiante das tropas fascistas de Franco, destruiu a cidade de Guernica, numa monstruosa manifestação de violência gratuita. Esclareça-se que não foram os alemães os ideólogos desta tragédia; foram os fascistas espanhóis quem solicitou a tremenda barbaridade: um ataque aéreo massivo sobre a povoação desarmada.

A escolha da pequena Guernica não foi por acaso. A cidade era alvo fácil, sem protecção antiaérea. E, sobretudo, albergava um velho carvalho (“guernikako arbola”), sob o qual os monarcas espanhóis ou seus representantes, desde os tempos medievais, juravam respeitar as leis e costumes dos bascos, bem como as decisões da “batzarraks” (a assembleia basca).

O levantamento militar de Franco foi também contra a autonomia das nações de Espanha. A destruição de Guernica serviria de lição aos que almejavam uma Espanha federalista e descentralizada – os republicanos!...

Era uma 2ª Feira, dia de mercado, na pequena cidade da Biscaia. Das redondezas chegavam os camponeses do vale de Guernica, trazendo seus produtos. A praça estava movimentada quando, antes das cinco da tarde, os sinos tocaram a rebate... Tratava-se de mais uma incursão aérea.

Até ao dia 26 de Abril de 1937, Guernica só havia visto os aviões nazis da "Legião Condor", no céu azul, passarem sobre ela em direcção a alvos mais importantes, situados mais além, em Bilbau...

Aquela 2ª feira, porém, foi o martírio. A primeira leva de “Heinkels-11” despejou a carga mortífera sobre a cidade. Eram 16.45 horas da tarde. Durante as 2 horas e 45 minutos seguintes pessoas indefesas viram o inferno desabar sobre eles. Desesperadas saíram para os arredores, onde mortíferas rajadas de metralhadora disparadas pelos caças os mataram aos magotes... Depois da “heróica” jornada militar contaram-se 1.654 mortos e 889 feridos, numa população não superior a 7 mil habitantes...


Na realidade a tragédia começou oito meses antes, na noite de 25 de Julho de 1936, quando, entre os acordes de uma ópera wagneriana, Hitler decidiu apoiar Franco. Na semana anterior, Hitler estava em Bayreuth para o tradicional festival musical, quando recebeu uma carta do caudilho espanhol. Tratava-se de saber se o governo nazi contribuiria com uma dezena de aviões de transporte e algumas armas...

Hitler não hesitou. Os estrategas da Luftwaffe alemã e Goering estavam excitados para aplicar, de forma maciça, a sua táctica da terra queimada. Qual seria o efeito dos bombardeamentos concentrados? Que efeito produziriam bombardeamentos sucessivos com bombas diferentes - de fragmentação e incendiárias - lançadas em formação compacta de aviões?!...

Guernica foi o teste para os bombardeamentos da 2ª Guerra Mundial. Mais tarde, noutras latitudes, o horror da guerra transmutado em Hiroshima ...

Passados 60 anos, o mundo tem presenciado muitas outras “guernicas”. Tantas que já nem nos assombramos. Nem sequer o facto de sabermos que, hoje, no Iraque, se utilizam armas, bem mais sangrentas ainda, que matam indiscriminadamente...

Porque não há pintores imortais para nos horrorizarem com o horror da guerra?!... Ou porque um quadro basta para simbolizar todas as bestialidades do mundo?!...

6 comentários:

Diafragma disse...

Em 2004, salvo erro, três jovens artistas tiveram uma ideia fabulosa para relembrar a data: De um helicóptero, bombardearam Guernica com milhares de poemas!

Maria disse...

Sabes que a primeira vez que vi o quadro de Picasso fiquei umas quatro horas a olhar?
A olhar e a VER!
Ainda hoje quando volto (e já está noutro sítio) descubro um ou outro pormenor que me passou...

Um génio a pintar um horror...

Bom fim de semana

Maria disse...

Herético

Vai ao meu blog para tomares conhecimento de uma nomeação...
Estás à vontade para não dares seguimento... ou fazeres o que entenderes...

Beijinhos

Jorge Castro (OrCa) disse...

Estou a ler o "Pintor de Batalhas", de Arturo Pérez-Reverte, curiosamente. Isso trouxe-me para muito perto da questão que colocas... Talvez ali estejam algumas das possíveis explicações. E, por certo, muitas outras haverá.

Em qualquer caso, o horror da guerra, a morte do homem pelo homem por razões perversas de dominação, com o seu cortejo de "danos colaterais" que são vidas ceifadas gratuitamente - se ceifar vidas pudesse, se algum modo, não ser gratuito - faz-me sempre pensar que a Natureza, no seu sábio, mas titubeante caminhar, se distraiu algures ao dar condições para o aparecimento do homo sapiens.

E há distracções que se pagam bem caro!

Como sempre, meu caro, uma referência o teu texto, o teu discernimento. Grato por nos havermos conhecido.

Manuel Veiga disse...

estarei, por uns dias, fora de Lisboa, mergulhado no "Portugal profundo" com acesso muito limitado à net, à espera do prometido "choque tecnológico"...

peço a vossa compreensão para a minha ausência na leitura dos vossos blogs, para mim sempre muito gratificante...

António Melenas disse...

ATé de um cenário de morte Um génio pode criar uma obra imortal, como é o caso da Guernica.
A brutalidde daqies anos, mantem~se hpje mais selvagem ainda. No Iraque não são só as milharers de vidas que as bomas americanas destroiem são também obras com milhares de anos que remontam à mais remora origem da humanida que naquela região teve o seu berço
Um abraço e bom 1º de Maio

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