"Tudo que os fazedores de opinião apregoam como sagrado, nobre, intangível; o que dizem ser as características da nossa civilização, garantindo a estabilidade social ou promovendo o progresso material e moral, tudo isso é apresentado de forma a constituir poeira que se atira aos olhos dos outros para que não vejam a realidade das coisas.
Quando a revolução social é pregada como transformação principalmente económica, os conservadores tornam-se idealistas e acusam os revolucionários de só pensarem no estômago, de não se elevarem acima da preocupação mais inferior. E entoam hinos à espiritualidade da vida!
Se a revolução é pregada como transformação não só económica, mas política e moral, visando a modificação das instituições respectivas, os conservadores levantam os braços ao ar e manifestam, por todas as formas, o seu horror à tremenda catástrofe. Então é poeira às mãos cheias, atirada aos olhos dos ingénuos, dos simples, para lhes infundir a sagrada aversão de tais heresias e dos heréticos pregadores; e pede-se repressão em nome da defesa das instituições civilizadoras...
Como os ingénuos e os ignorantes são legião, não é difícil conseguir-se o que se pretende, tanto mais que vão ao encontro de hábitos, de ideias inveteradas e de preconceitos aos quais repugnam sempre inovações.
A sua tarefa é, sem dúvida, mais fácil que a nossa; mas não fora a força legal de que dispõem e que baptizam com o nome legítima, usando dela para se impedir a propaganda a que chamam, com toda a razão, dissolvente, porque tende a dissolver os privilégios de que gozam, não fora essa força e bem depressa, apesar das múltiplas dificuldades, se conseguiria desfazer preconceitos e que todos vissem claro...”
(...)
Se queremos revolução, é para que a moral social seja uma verdade (...); para que a justiça não seja campo onde o dinheiro e soberano para condenar pequenos gatunos e absolver grandes ladrões; (...) para que acabe tudo onde há humilhação, resignação dolorosa, revolta abafada em lágrimas, espírito de independência sufocado, acordo forçado, dissimulação, toda essa série de actos que reflectem o rebaixamento da personalidade e que se executam para não se ficar sem o ganha pão, para não se fazer sofrer os que se estimam, para não se ser banido como empestado e, quanto mais não seja, por instinto de conservação...
(...)
Porém, leitor observa e indaga e hás-de ver que todo este caudal de misérias morais tem como factor de grande importância, se não como causa directa ou indirecta, próxima ou remota, aparente ou oculta, a dependência económica. Pensa bem e reconhecerás que abolida ela, assegurada a existência a todos que trabalhem, esta vida de mentiras se transformaria para melhor e começaríamos então a praticar essa moral e esse civismo por cujo desaparecimento tanto tartufo se mostra agoniado, quando ouve falar em revolução social...”(...)
Emídio Costa – in “SEARA NOVA” – nº2 – 05.11.1921
Admito que ando um pouco preguiçoso. Espero que me desculpem. Em minha defesa, invoco a vantagem de vos dedicar leituras mais estimulantes...
quinta-feira, outubro 25, 2007
A propósito de "Fazedores de Opinião"...
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17 comentários:
Não li o teu post, embora, pelo título, deva ser muito interessante mas venho agradecer a tua passagem pelo meu blog e deixar-te um beijinho.
Ou talvez mais a propósito da importância do modelo económico nessa revolução tão desejada.
Isto foi escrito em 1921. Muito água já passou debaixo das pontes mas essa importância parece manter-se. E os fazedores de opinião parecem ter o mesmos vícios. Talvez já não devesse era haver tanta ingenuidade e ignorância.
E já agora: faz favor de escrever alguma coisa, que isto de "escritas mais estimulantes" não pega... :))**
claro que desculpamos....
é sempre saudável o tempo de dar tempo à preguiça...
:)
___________________e depois ficamos compensados. depois de o ler.
assim. assertivo.
____________________________.
Fazedores de opinião... O texto é tão actual. É realmente assim: "poeira que se atira aos olhos dos outros para que não vejam a realidade das coisas."
Um abraço.
O impacto do que se diz depende quase em exclusivo dos que ouvem.
O texto é excelente, mas o último parágrafo deixa-me com algumas dúvidas.
Um abraço.
A Seara Nova, tão actual, hoje em dia.
Um abraço
"todo este caudal de misérias morais tem como factor de grande importância, se não como causa directa ou indirecta, próxima ou remota, aparente ou oculta, a dependência económica"
É um facto, a divergência é "o remédio".
ao lado é que se respira.
mesmo por vezes ao frio.
beijO
bom tempO......................
Preguiçar de vez em quando até faz bem.
Mas não te habitues...
Abraço.
NÃO SE PREOCUPE
O SÓCRATES ESTÁ A NEGOCIAR
A INDEPENDENCIA DO KOSOVO
INTIMIDANDO PUTIN COM OS EXCEDENTÁRIOS DA FUNÇÃO PÚBLICA
Vale a actualidade do texto pela falta das tuas palavras.
deixa lá a preguiça. Foste desafiado. Topas?
§(~_~)§ beijo da Afrodite
(uma carinha d'anjo num corpo espectacular, com tudo no sítio, muito dentro do prazo, sem aditivos nem silicones)
Qual é a sua opinião sobre a desconfiança?
Bom domingo, boa semana, abraço.
Bem podia ter sido escrito numa crónica qualquer de um qualquer dia desta semana :)
Tens-te dedicado nestes último dias á leiturado "Elogio da Preguiça"? Todos temos direito a ela de vez em quando. Aliás, só lhe sabe dar valor quem não preguiça o resto do tempo.
Um beijinho e resto de um bom domingo. Preguiçoso á maneira :)
Estás desculpado. A moleza do(s) outono(s)...
Pretexto para saborosas releituras.
Abraço.
ÀS vezes sabe bem ser preguiçoso e depois partilhar outras escritas tmabém é bastante positivo; assim tenho acesso a obras e opiniões que nem sonhava que existiam.
Bom fim de semana
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