sexta-feira, janeiro 11, 2008

Revista da Imprensa - "Confiança na América ?!..."

(...) ”Tivemos uma overdose de medo nos tempos recentes. Disseram-nos para termos medo, para podermos proteger menos a nossa Constituição, ser menos cuidadosos com a lei internacional, menos respeitadores em relação aos nossos aliados, menos perspicazes na nossa procura da verdade e menos rigorosos quando questionamos o que os nossos líderes nos dizem.

Fomos exortados pela Casa Branca a abraçar uma cultura de medo que guiou e limitou a nossa política externa, ao mesmo tempo que envenenou a nossa capacidade de comunicar efectivamente com os outros. Uma manifestação de medo é a incapacidade de pensar seriamente sobre perspectivas alternativas.

A posição da América no mundo tem estado em queda livre nos últimos anos porque o nosso país é visto como tentando impor a sua própria realidade - costurar um mundo que é seguro e confortável para nós, com pouca consideração pelas ideias dos outros.

(...) Não ao nuclear, dizemos, enquanto possuímos o maior arsenal mundial. Respeitem a lei, exigimos, enquanto menosprezamos as Convenções de Genebra. Ou estão connosco ou estão contra nós, declaramos, enquanto ignoramos o impacto das nossas acções na Turquia e no Médio Oriente. Tirem as mãos do Iraque, avisamos, enquanto as nossas tropas ocupam Bagdad. Cuidado com o poderio militar chinês, clamamos, enquanto gastamos em defesa quase tanto como o resto do mundo inteiro. Honrem o futuro, pregamos, enquanto desertamos em relação às mudanças climáticas.

Precisamos de aprender a olhar para nós como os outros fazem. O mundo considera ridículo que nós - com toda a nossa riqueza e poder - tenhamos tanto medo de terroristas, de Estados párias, de imigrantes legais e da concorrência económica estrangeira.

As pessoas colocam-se no nosso lugar e esperam que possamos agir com confiança, e assim devia ser, mas a verdadeira confiança é demonstrada pela vontade em entrar em debates difíceis, em responder às críticas, em tratar os outros com respeito e em fazer a nossa parte, ou até mais, na resolução dos problemas globais.

Somos quatro por cento do planeta, que é metade asiático, metade pobre, um terço muçulmano (...). Para muitos, a Administração Bush é a América. A nossa reputação está em ruínas. Não iremos recuperar agindo motivados pelo medo, mas sim conhecendo o mundo à nossa volta, aprendendo línguas estrangeiras, respeitando outras crenças, estudando as muitas dimensões da verdade histórica, aproveitando a tecnologia moderna para fins construtivos e olhando para além de noções simplistas de Bem e Mal.

Rezo para que o próximo Presidente, quando tomar posse, tenha como prioridade não a necessidade de nos amedrontar, mas a necessidade de restaurar a nossa fé no ideal americano. Esse ideal baseia-se no sentimento de unidade e de compromisso uns com os outros. Esse ideal assenta na crença na democracia e desenvolve-se com o nosso sentido de responsabilidade para com as gerações passadas e vindouras.

(...) Combinemos a fé nas nossas tradições com a confiança para procurar o valor nos outros e teremos uma plataforma muito mais forte para a liderança americana do que qualquer apelo ao medo”.


Madeleine K. Albrigt - in “Publico”- 10.01.08
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Como se sabe, Madeleine Albrigt foi Secretária de Estado de Bill Clinton, entre 1997 e 2001.

Estava longe de admitir que um dia iria transcrever tão ilustre senhora. Mas, por vezes, um pouco de decência basta-me...

Acresce que o texto cai como mel na resposta aqueles que aceitam a limitação da democracia e dos direitos dos cidadãos com o argumento que “quem não deve, não teme...”

24 comentários:

bettips disse...

É...eu também sou pela decência!
Um pequeno passo.
E que diferença faz num mundo do avesso.
Abçs

Frioleiras disse...

o mundo está, sempre esteve e estará ao avesso!

não tenho, de todo, fé na humanidade.

já não ...

Zé do Telhado disse...

Nunca tinha reparado que essa dama tinha olhos( e ou outras partes físicas) de crodilo, tem piada.

Um @bração do
Zé do Telhado

hfm disse...

Belo texto! Madeleine Albrigt foi para mim uma revelação quando, em Londres, em casa dum amigo, li uma biografia dela. Fazia-a tão diferente. Gosto quando as pessoas clareiam em mim o bom que têm.

samuel disse...

O maior perigo é exactamente começar a ter medo.
É aí que ficamos nas mão de toda a sorte de canalhas e "vendedores de segurança".

Justine disse...

Um bom retrato do Império dos Bárbaros, no espendor das suas contradições!
Pode ser que a Senhora Albright, com a idade, tenha tido um lampejo de lucidez, mas não é com as suas rezas que a coisa vai mudar...

mdsol disse...

é sempre tempo! (sem cinismo algum)

São disse...

Estou a teu lado , também nunca pensei estar de acordo com semelhante criatura...mas que , desta vez, tem razão, tem.
Bom resto de sábado.

Espaços abertos.. disse...

Enquanto bocas que não se abrem,e olhos que não vêem continuaremos a deambular num mundo completamente ás cegas.
Bom fim de semana
Bjs Zita

Leonor disse...

creio que muitas vezes certas pessoas nao se mostram como realmente sao devido a certas imposiçoes do sistema em que se integram. e seria o caso de albright.
outras pessoas se tiverem a chence e nada de medo em expressar-se como realmente pensam nos surpreenderiam tambem.
penso que tal discurso foi muito bem escolhido para colocares aqui.
beijinhos

isabel mendes ferreira disse...

e continuamos tão "pouco"...ou será "apoucados"....?




bjj.

Maria disse...

Às vezes ainda me espanto...
... com alguns... "rebates de consciência?"

Bom domingo.
Beijo

tolilo disse...

ui , fiquei com tanto medo

de tudo


em quem é que devo confiar
se
sou pequenino?


Chuac!_

un dress disse...

“quem não deve, não teme...”

pressupõe a existência de uma entidade em que não acredito!!

deus!!!????

é que o bom senso tornou-se tão frágil quanto falível!

e assim, essa coisa assusta-me:

:muitO!!


tens muita razão!




.beijO

PintoRibeiro disse...

Boa semana, um abraço.

Oliver Pickwick disse...

Fizeste bem em não vacilar, e transcrever esse artigo de uma precisão milimétrica acerca do governo Bush. Nem Hugo Chaves escreveria com tanta ênfase.
Excelente post, Herético!
Abraços!

Maria P. disse...

Ainda é bom ser surpreendido.

Beijinho*

Maria Laura disse...

É justo reconhecer uma análise correcta, venha ela donde venha.
Só não acredito muito que as orações da senhora resolvam os problemas inerentes à "liderança americana".

Stella Nijinsky disse...

Oi Herético

Tu realmente estás sempre a dar-lhe-nos!
Assim é que é, por aqueles que não têm fé!
Haja quem lute!
O não ao nuclear, o desrespeito pela lei internacional, o ficar à margem de Quioto, etc. etc., provam a hipocrisia de algo que se chama de democracia, mas que põe cada vez mais em causa a liberdade, seu fundamento. Não chega dizer que se é uma democracia, é preciso sê-lo.

Há muitas causas por detrás da queda da suposta pax americana, a descrença nos ideais dos pais fundadores poderá ser a mais forte.
Os princípios foram desvirtuados e a democracia entra cada vez mais pelas vidas dos cidadãos adentro.
Não só na América, já falámos disso no post anterior.
Será o início de uma nova era para os regimes democráticos?
O ideal era aperfeiçoar cada vez mais a democracia, para que o conjunto das decisões agradasse cada vez mais o conjunto dos cidadãos. Mas o "menos mal" dos regimes cada vez mais se parece com isso mesmo apenas, o "menos mal", não sabemos a que é que esta desvirtuação nos vai levar na próxima era.

Quanto à Madeleine, chegou a uma idade em que já pode dizer as verdades, até porque já não está em funções governativas, mas disse-o bem!

Fiquem todos bem!

Stella

Menina Marota disse...

Gostei desta tua frase... aí algures onde a fui buscar:

"jamais? prefiro "j´amais"..."

Pois... sabes que não "discuto" política... só passei para te deixar um beijo e desejar-te um FELIZ 2008, cheio de saúde e muito Amor... :-)))

São disse...

Se fosse possível comentares o texto que coloquei em Silêncio Culpado ficaria grata.
O link está nas minhas Netamizades!
Bom dia.

Graça Pires disse...

Todos um dia tomamos consciência de que o "poder" torna as pessoas ridículas. Vais ver que foi o que se passou (inteligentemente) com Madeleine Albrigt.
Um abraço.

foryou disse...

Confiança nos americanos é coisa que eu não tenho nem um bocadinho daqueles muito pequeninos!
Quem não deve não teme mas às vezes mesmo assim sai lixado.



beijooooooooo

M. disse...

Fiquei surpreendida. Não imaginava a senhora assim. Gostei.

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