segunda-feira, abril 21, 2008

Derramam-se na cidade...

Rubros os mastros. E as colinas.
Nas ruas confluências
De abraços. E de pétalas...

Derramam-se na cidade rios e memórias.
E os murais...

Soltam-se os poetas.
Em gesto largo sobre o gume dos olhares
Maiakóvski – vindo de um Futuro grisalho
De tanta saudade e teimosia! –
Abre-se no palco...

E grita no seu jeito gutural e bárbaro:
-“Este é o meu Povo. Ainda!...”
A seu lado a Mulher de Vermelho
Soletra a lágrima da fome
E a criança loira das espigas...

E então
- palavra de cristal em riste! -
Arranca os olhos e rasga-se na febre
E vê agora a chama pitonisa
Erguendo-se na aurora dos dias que hão-de vir...

Na densa nuvem
A multidão ignara ri e chora...

E o velho caminheiro andrajoso -
De fadigas e da idade - sobe então ao mais alto mastro
E a(s)cende em lume o rubro das bandeiras...

Fremente em seu grito de sangue:

- “Viva a Liberdade!...”

..................................................

Vamos comemorar o “25 de Abril”. Sair à rua. Nas avenidas e praças do País. Talvez encontrem a Mulher de Vermelho no olhar firme de uma jovem mãe desempregada ou com contrato de fome (a prazo). Ou então Maiakóvski ébrio de cor. Ou o velho caminheiro levando pela mão uma criança...

17 comentários:

Maria disse...

Deixaste-me sem palavras, mas com lágrimas nos olhos....
Obrigada pelo poema, e vamos todos para a rua, SIM!
Vamos descer a Avenida, vamos cantar, vamos gritar, vamos rir, que Abril é Festa!

Beijos

bettips disse...

"Eles não sabem que o sonho..."
ainda nos comanda a vida.
Pelos que tão pouco têm, a liberdade vale muito!

Jorge Castro (OrCa) disse...

Belo poema. Que nos salve a poesia!

Comemorações do 25 de Abril, para mim, terão início às 24 horas do dia 24 e será, todo ele, dia de festa.

Possa eu (possamos nós) fazer do 25de Abril o pão nosso de cada dia.

Justine disse...

Saiamos sim, de mão dada,ao encontro de todos os sonhos e de todas as esperanças.
Mês de emoções de de força, este Abril nosso - como o poema que nos ofereces.

M. disse...

Como foi bom o 25 de Abril de 74 onde o entusiasmo se fez notar acima dos ódios! Agora, o próximo, não sei se será vivido com a mesma esperança e sonho, que as pessoas parece terem deixado de acreditar. É ao que leva, a desilusão.

Graça Pires disse...

Soltam-se os poetas. A palavra de cristal em riste. Viva a Liberdade.
Excelente o poema. Sair à rua. Recuperar a alegria desses dias...
Um abraço.

vida de vidro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria Laura disse...

Um belíssimo poema. Mas quem duvidaria? Quanto ao espírito, gostava de ter esse entusiasmo. Ou gostava de acreditar que é possível recuperar a alegria desses dias.
Tem um óptimo 25 de Abril!

Tinta Azul disse...

Viva!

Unknown disse...

Como eu gosto destas tuas aparições poéticas!...

Não deixas de ser TU...
És tão TU, de outra maneira!

Será que te reconheceria no meio da multidão?
Maiakóvski ébrio de cor?
Caminheiro, levando pela mão uma criança?

[BEIJO de 25 de Abril, sempre...]

Eme disse...

a Hora tem destas coisas. desbrava caminhos. revela-nos e às coisas.

O 25.. ainda falta :)

Tinta Azul disse...

e eu tenho uma flor para o dia 25 que lembro com a limpidez da memória de uma criança de 11 anos que não percebe muito bem o que se passa, mas que trata de perceber...

jawaa disse...

Eu vou sair à rua, sim!
Viva a liberdade, também para ler e escrever tudo o que alma quer e a voz entoa!
Para eu ler o teu poema bonito.

Oliver Pickwick disse...

Uma flor é uma flor. Precisa ser regada, sempre.
Uma boa comemoração.
Um abraço!

Anónimo disse...

Um abraço pelas memórias comuns e a vontade inquebrantável de não vergar nunca...

Por Abril... SEMPRE

SILÊNCIO CULPADO disse...

Herético

Abraço SEMPRE

Por tudo em que acredito (ainda).

mjm disse...

Este poema está soberbo!
Uma carga de granadas certeiras, de punhos cerrados feita.
Será este um País AINDA ???
O Poeta, esse, é-o! E grita.

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