sábado, janeiro 10, 2009

Solicitude das palavras

Tacteio o olhar das coisas como se brisa
Fosse no rosto inocente das palavras por dizer...

Seminais estas veredas em que me espraio
- Ondas e inaudíveis sons de canto austero -
Tão breves que se esfumam em mistério
Como o decair da tarde em zénite de sol.

Ou apenas o odor acre da terra
Depois da chuva...

Acolho-me a esta solicitude das palavras
Umas pelas outras. Reflexos doirados
Alimentando-se das entranhas do vento...

Sem outra glória que não seja a emoção alada
E o fio ténue de mim que as segura...
..........................................

Habitamos as palavras e elas nos habitam
E no corpo das palavras fecundamos a vida.
E o tempo...

28 comentários:

hfm disse...

Habitam-nos mesmo... e habitam o tempo ou os tempos.

Belíssimo!

Eme disse...

E o tempo escorre pela ampulheta mais lenta do mundo enquanto mais palavras fermentam na terra que somos nós..

Arábica disse...

E o tempo habita-nos na sua fecundidade térrea de plantar novas palavras ao vento.

Ao vento.


Um beijo e bom fim de semana.

Licínia Quitério disse...

Assim caminhamos com as palavras pelo tempo que nos cabe.

Obrigada por assim escreveres.

jrd disse...

Poesia fecunda, a tua.
Mesmo quando as palavras, feitas lágrimas, nos escorrem pela face, fecundamos a vida.
Um abraço de admiração

vida de vidro disse...

Que as palavras continuem a ser para ti refúgio e semente! Belo poema. **

SILÊNCIO CULPADO disse...

Herético
Os teus poemas são bons de mais para se perderem aqui.

"É verdade que habitamos as palavras e elas nos habitam
E no corpo das palavras fecundamos a vida".
Mas também é verdade que há palavras que ferem, matam e traem.Tanto que hoje temo demasiado as palavras.

Abraço

escarlate.due disse...

"Habitamos as palavras e elas nos habitam
E no corpo das palavras fecundamos a vida.
E o tempo..."

gostei especialmente desta reciprocidade
e o tempo... pois... o tempo...

mariab disse...

Quem assim se acolhe (e recolhe) na solicitude das palavras, fazendo delas emoção e alimento, só pode ser um verdadeiro poeta. É um prazer ler-te. Beijos

P.S: se tiveres tempo para voltar ao meu espaço, convido-te para uma valsa.

São disse...

Lindo poema, este!
Um feliz semana para ti, companheiro!

M. disse...

Muito belo.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

habitamos as palavras...também acho que sim...

gostei muito deste poema. sabes eu quando leio um poema tambem o leio da seguinte maneira, como abaixo transcrevo:


E o tempo...
e no corpo das palavras fecundamos a vida.
habitamos as palavras e elas nos habitam
-------------------------
E o fio ténue de mim que as segura...
sem outra glória que não seja a emoção alada

alimentenado-se das entranhas do vento...
Umas pelas outras.Reflexos doirados
Acolhe.me esta solicitude das palavras.

depois da chuva...
Ou apenas o odor acre da terra.

Como o decair da tarde em zénite de sol
Tão breves que se esfumam em mistério
-Ondas e inaudiveis sons de canto austero.
Seminais estas veredas em que me espraio.

Fosse no rosto inocente das palavras por dizer...
Tacteio o olhar das coisas como se brisa.

(desculpa é o teu poema lido ao contrário.

fica um beij

~pi disse...

e às vezes

por instantes,

damos as mãos

(também

por dentro,




beijO




~

Maria P. disse...

Lindo.

Bjs*

C Valente disse...

O homem tambem é um animal de hábitos
Gostei
saudações amigas

mdsol disse...

Mais alavras para quê?

:))

Tinta Azul disse...

E eu gosto.
E eu fico sem palavras.
Quando aqui chego e encontro destas.
Palavras.

Bjs

Manuel Veiga disse...

Piedade,

grato pela leitura. ganha nova expressão assim lido.

o poema é dos seus leitores. sem dúvida! ainda bem que este mereceu ter "VIDA PRÓPRIA".

beijos

vieira calado disse...

"Habitamos as palavras e elas nos habitam
E no corpo das palavras fecundamos a vida."

Estes versos dizem muito.

Porque as palavras são símbolos e é pelos símbolos que guiamos as nossas vidas!

Um forte abraço

**Viver a Alma** disse...

Herético

Nós habitamos as palavras, porque as pensamos e discursamos...ou escrevemos, sempre em tempo inexistente. É "HOJE", agora, onde não há mais espaço para...distâncias.
Quando acabar este comentário...já passou...pufff...é passado!

Se se quiser deslocar até ao m/espaço (que é de todos) tenho um presente para si...igual aos que já por lá passaram!

Abraço
Mariz

Maria Clarinda disse...

(...)Acolho-me a esta solicitude das palavras
Umas pelas outras. Reflexos doirados
Alimentando-se das entranhas do vento...

Sem outra glória que não seja a emoção alada
E o fio ténue de mim que as segura...



Muito bom este teu post.
Gostei das tuas palavras.

Graça Pires disse...

Muito bom este poema onde as palavras nos habitam para que delas façamos uma fonte para a sede...
Um abraço.

isabel mendes ferreira disse...

subscrevo a Graça!!!!!!




beijo.

GS disse...

... e o tempo!!

As 'palavras por dizer' são, por vezes, aquelas que nos 'ferem' sem tempo...

Abraço

Arábica disse...

O Herético também não me parece homem de selos. Mas eu mesmo assim, teimosamente, o deixei lá no "Pequenas Doses".

Beba um café e aceite-o como um obrigada pelas suas palavras, poesias e outras solidariedades :)

dona tela disse...

Se eu soubesse o que quer dizer ZÉNITE!!
Desculpe a ignorância, senhor Herético.

luis lourenço disse...

"tacteio o olhar das coisas como se brisa
fosse no rosto inoentedas palavras por dizer"...a beleza e a profundidade de vê as metáforas como rio dos conceitos.

o fim do poema.linda apoteose. vida.belez.poesia.

belíssimo...

Véu de Maya

luis lourenço disse...

Meu caro herético...desculpa as gralhas...mas o tempo nisto de escrever em teclado não joga a meu favor..

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