quarta-feira, fevereiro 18, 2009

O Euro – Fim do Mito?...

O Tratado de Maastricht, ignorando (...) questões essenciais, criou uma política monetária única gerida pelo Banco Central Europeu,(BCE) retirando, a cada um dos países, dois dos seus três instrumentos de gestão económica: uma política monetária nacional independente e a flexibilidade do preço da sua divisa.

O terceiro instrumento, a política orçamental, que continua a ser uma competência nacional, vê-se, quanto a ele, constrangido pelo Pacto de Estabilidade, que fixa o défice máximo de cada país-membro em 3 por cento do seu PNB. Além disso, a dívida nacional está limitada, em princípio, a 60 por cento do Produto Nacional Bruto (PNB), com assinaláveis distorções na prática, como acontece em Itália e na Grécia onde atinge já, respectivamente, 104 e 95 por cento do PNB.

Devido a estas diferenças entre os Estados-membros, a autonomia das suas políticas económicas torna-se uma questão grave, designadamente, se num deles ocorrer um choque particular que não afecte o resto da zona euro"(...)

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"Numa altura em que o mundo está a mergulhar numa crise profunda, conter o grande aumento da taxa de desemprego, que poderá rapidamente ultrapassar o limiar dos 10 ou 12 por cento, vai tornar-se o objectivo primordial. É o que já está a acontecer em Espanha, onde o desemprego, nos últimos seis meses, subiu bruscamente para 13 por cento.

Combater o desemprego irá inevitavelmente passar por défices fiscais maciços, que irão abrir brechas no “Pacto de Estabilidade” difíceis de colmatar e porão em causa a estabilidade da moeda única; os planos de relançamento fazem subir os máximos do défice para 3 por cento e da dívida para 60 por cento do PNB, o que irá pôr em causa a independência do BCE.

Mas para algumas economias já grandemente fragilizadas pelas divergências inflacionistas, isso não será suficiente; em tais contextos, será muito tentador seguir o exemplo da recente desvalorização brutal da libra esterlina.

Nesse caso, a Espanha, a Grécia, a Itália e Portugal (cujas taxas de desemprego ultrapassaram com frequência os 10 por cento nos últimos dez anos) não poderão aceitar continuar a ser eternamente “sub competitivos” devido à sobrevalorização do “seu euro”.

Por mais “traumatizante” que seja a perspectiva de restaurar a moeda nacional, alguns países poderão decidir abandonar o euro para restabelecerem a sua competitividade económica. No fundo, este cenário é apenas um regresso às grandes crises cambiais dos tempos passados, de Bretton-Woods entre 1944 e 1971 e do sistema monetário europeu (SME) entre 1979 e 1994.

É pouco provável a curto prazo - quanto mais não seja porque o financiamento da dívida nacional, estabelecida em euros, se tornaria muito oneroso numa divisa novamente restaurada e desvalorizada para o país que acabasse de sair da zona euro.

No entanto, qualquer deterioração do já frágil clima social (como mostrou a recente violência das manifestações populares na Grécia, exacerbada por uma aceleração brutal do desemprego, poderá, em alguns países, vir a aumentar a tentação dessa solução extrema.”


Laurent Jacque – professor na Fletcher School, Tufts University (Estados Unidos)-in "Le Monde Diplomatique" - Ed. Portuguesa - Fevereiro 2009

16 comentários:

mdsol disse...

Está mau! Isto está mau!
:))

jawaa disse...

Respeitando muito a opinião de quem é expert, não acredito nem um pouco nessa ideia peregrina...

Arábica disse...

Tanto se debateu o euro e tantas vezes foi esta realidade actual, vista aos olhos do futuro como provável, que vai-se lendo e pensando que...nem todos estavam errados...


Passa por lá para beberes um café.

:)
Beijo

Carla disse...

será que o mito chegou mesmo ao fim, as razões apontadas são válidas
beijos

jrd disse...

Pataco a pataco vamos voltar ao "forex", digo eu que sou ignorante na matéria.
Abraço

Jorge Castro (OrCa) disse...

Quero acreditar, no limite, que os senhores do mundo dos dias de hoje, com a informação de que dispõem, conheçam a teria da pasta dentífrica. Aquela que diz que, se muito apertarmos o tubo, sem lhe retirarmos a tampa, a pasta há-de sair.

Só que, nessas circunstâncias, o local de saída adquire uma características única: é imprevisível (em termos de local de saída e momento da ocorrência).

Então, há grandes possibilidades de todos em volta levarem com os esguichos intempestivos.

Eu cá acho que eles estão cientes disso... Ou quero crer que sim. Mas nunca fiando. ;-»

SILÊNCIO CULPADO disse...

Herético

Uma análise profunda e realista sobre a qual devemos reflectir.


Abraço

vida de vidro disse...

A análise está muito interessante mas, a falar verdade, acho que, nesta altura do campeonato, é mais complicado sair do euro do que continuar. Mas que isto não está nada promissor, isso é verdade... **

C Valente disse...

O buraco cada vez é mais fundo
Saudações amigas e bom fim de semana

Frioleiras disse...

pois....


(contudo, gosto de te ler)

Mar Arável disse...

Obama é maçon

Eles comem tudo

mariab disse...

as notícias que todos os dias nos atingem são, francamente, assustadoras. não tenho conhecimentos nesta área para saber se será possível um retrocesso em relção ao euro. li, com muito interesse, esta análise.
beijo e bom fim de semana ( ou mini-férias, se for o caso).

~pi disse...

outro paradigma se avizinha.

pra já a insegurança

pra já o medo,

(nascerão flores e ninhos

nesta primavera,,,



beijo



~

Leonor disse...

que dizer?
eu nao sei!
ja sinto a crise desde janeiro do ano passado ainda muito antes desta derrocada.
estou assustada.
beijinhos

MS disse...

Laurent Jacque tem razão...

Um beijo

Oliver Pickwick disse...

A parte mais sensível do homem é o bolso. Em tempos financeiramente críticos, Marshall McLuhan estava errado, o mundo jamais será uma aldeia global.
Um abraço!

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