sexta-feira, agosto 28, 2009

Antes a incerteza do caos...

Mais além cumes desérticos e as eternas neves
No colapso dos dias. Veredas de solidão na vertigem
E no abismo das cidades onde a cólera em surdina
Compõe a sinfonia do medo e os pombos tombam
Feridos pelo ar fétido que respiramos impudentes...

Balões na mão das crianças são apenas pretexto
Das bombas incendiárias que trazemos no olhar
Do grito dos passos nas calçadas e das gargantas
Mudas. Do terror gelado no sangue supérfluo
Que derramamos - pão incerto que nos roubam...

Despimo-nos e vestimo-nos na nossa nudez frágil
Como se o arrepio da pele fosse fluidez de orgasmo
E as heras que nos habitam e entopem as veias
Fossem diapasão da verdade ou memória de destroços
A que nos agarramos pressurosos de eternidade...

Por isso a montanha e os gelos. Refúgio de pássaros
Deserdados. E de itinerários perdidos na distância
Dos dias verdadeiros. Por isso o sonho crepuscular
Rangendo estéril de tão perfeito. Canto desesperado
Que em vão ecoa. Praças e rios que se negam fugidios...

Antes a (des)harmonia do caos. O declive das colinas.
A imperfeita palavra. E a poética sem rima. E a luz
E a treva. O sal das lágrimas e a raiva. E o punho.
E o sabre. E o peito aberto. O caminhar vagabundo.
E o sangue em frémito de insubmissa humanidade...

.......................................................

Bom fim de semana. Beijos e abraços...



22 comentários:

Paula Raposo disse...

Excelente! Um arrepio percorreu-me a espinha...beijos e bom fim de semana, também para ti.

Maria disse...

Fiquei sem palavras... belíssimo!

Beijos
(até - quase - já)

GS disse...

Pois apesar de estar na mesma hora de ontem, incorrigível 'noctívaga' sou... li com atenta admiração teu poetar! Muito belo! Sempre do lado 'fatal' da vida...
A vida que nos consome no tiquetaque do pêndulo do teu/nosso relógio!

Lembro que em casa da avó havia um relógio de pêndulo e na religiosidade da noite campestre em pleno Setembro minhoto quente, era o tiquetaque que ouvíamos sem dar grande importância ao tempo!

Um beijo sem tempo,
Excelente fim-de-semana neste final de Agosto que afinal é verão!

Pelo teu olhar atento, sensibilizada!

São disse...

Também falei na inceteza do caos, pela sábia reflexão de José Gil.

Feliz fim de semana.

Licínia Quitério disse...

Antes a desordem. Forte, fértil, inacabada.

Um beijo. Bom fds.

Frioleiras disse...

tão bonito.........

(tb tu, herético?....)


eu......................detesto,
abomino,
completamente...

o

caos.


o equilibrio é o que me equilibra... nada mais...

por isso..

audrey disse...

antes mergulhsr

mergulhar no que resta das florestas..........

mergulhar na beleza
calma e apaziguadora
do verde
das árvores,,,,,,,,,,,,,

MS disse...

Um poema forte, 'deserdado da vida', como o movimento literário que bem conheces!

Os pássaros só se refugiam nas montanhas gélidas para morrer :(

Hoje está uma noite linda, cálida, aconchegante! Não quero pensar em tristeza... não posso!

Um beijo amistoso,
... sensibilizada, sempre!

~pi disse...

sim

antes tudo

isso

aberto-de-aberto,




beijo




~

vida de vidro disse...

Antes a forte intensidade de tudo o que é imperfeito. Mas verdadeiro na sua (des)harmonia.
Belíssimo poema. **

Mar Arável disse...

Li o teu texto

e todos os anteriores comentários

Espero encontrar-te na nossa Festa

obviamente

sem receio que tresmalhes

para outras intimidades

Força poeta

Abraço de sempre

© Maria Manuel disse...

belíssimo e sábio poema!

sim, antes, sempre antes, a humanidade.

bjo.

jrd disse...

Fortíssimo! Panfleto contra a "paisagem".
Abraço

GP disse...

Gostei mesmo.
Como o fim de semana já passou, desejo uma boa semana.

beijo

Nilson Barcelli disse...

És impiedoso... pegas sempre o touro pelos cornos.
Na poesia, como na vida...
Magnífico. Gostei imenso, escusado seria dizê-lo.
Boa semana, abraço.

Cleo disse...

De itinerários perdidos cheguei aqui, gostei .
voltarei.
Beijos e abraços.
Cleo

* hemisfério norte disse...

antes de mim
a pele

a era
....do gelo

bj
a.

MagyMay disse...

Somos assim "nudez frágil..."
Somos assim "... sabre. E o peito aberto... E o sangue em frémito de insubmissa humanidade... "
Somos assim gente que vive, sofre e sente...

Beijinho e óptima semana

Arábica disse...

Grande.

Insubmissa humanidade nossa.

Um abraço.

Peter disse...

É como dizes:

"no abismo das cidades onde a cólera em surdina
Compõe a sinfonia do medo"

Os teus versos têm sempre o cunho da nossa impotente raiva e revolta.

vieira calado disse...

Muito bom.

Como uma crónica da nossa pungente realidade.

Um forte abraço

dona tela disse...

O senhopr tem cá cada fim de semana mais prolongado... Quem me dera a mim um emprego desses!

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