segunda-feira, junho 21, 2010

Prenúncio apenas...

Anunciam-se as coisas (ou o que delas vemos)
Sem rosto ou permanência
Como se o tempo fora espera pura
Ou esfinge em rota de ventos
Por abrir...

Prenúncio apenas...

Nada demove o silêncio assim dobrado
Como vara de profetas:
- Que de tão denso se recolhe
E de tão pródigo se distende
Em profusão de promessas rarefeitas...

De âmbar e sal estas veredas maceradas
Ferida aberta no corpo solar dos dias
Rebeldes as sílabas no palato das palavras
Que soltas se condensam em olvido.

São de mar e fel assim doridas
Na distância que as abarca e nas areias que as sorve
Combustão estrelar em noite infrene
- Tão negra que implode e se faz brilho
De tão fria...

E no colapso das trajectórias perturbadas
Nos desertos devorados pelas dunas
Talvez a distância se faça
E expluda em flor carnívora.

E seja safra...

20 comentários:

jrd disse...

Magnífico! Quem escreve assim!?
Um espanto de poema.
Grande abraço

Licínia Quitério disse...

Brisas de prenúncios, tão ténues, mas talvez um dia a flor carnívora seja a safra por que ansiamos.

Lindo, lindíssimo. Que fosse profecia e não prenúncio apenas...

Um beijo.

São disse...

Prenúncio? Não! Certeza de que acabei de ler boa poesia.

Semana feliz.

O Puma disse...

Excelente poeta amigo

Rogério G.V. Pereira disse...

E no colapso das trajectórias perturbadas
Nos desertos devorados pelas dunas
Talvez a distância se faça
E expluda em flor carnívora.

E seja safra...

(que não seja apenas um prenúcio ou, se for, que venha a safra)

Não é todos os dias que se publica assim...

Abraço

Márcia Maia disse...

E seja safra!

feliz verão, meu amigo.
e um beijo daqui, onde é inverno.

lino disse...

Poema lindíssimo!
Abraço

Anónimo disse...

gosto muito quando as palavras são flores carnívores, caro heretico*

beijinho grande.

MS disse...

... sempre 'poeta' por inteiro! Mesmo quando fazes 'prenúncios de morte(?)

Desgastamos a pouca esperança que nos resta...

Beijo

Paula Raposo disse...

Poema lindíssimo. Prenúncio apenas...
Beijos.

mdsol disse...

Pela quinquagésima oitava vez: muito bem se escreve por aqui.

:)))

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

prenuncio apenas! de quem sabe fazer poesia.

um beij

O Jacaré 007 disse...

Olá meu amigo,
desculpe a ausência. Nunca temos tempo para nada neste Mundo maluco, que quando o deixamos pouco de nós fica.
Um abraço para si e continue a escrever desta forma.

Frioleiras disse...

nem imaginas............ como este poema de tocou..

Mel de Carvalho disse...

Gosto quando aqui regressa a poesia.
Muito bom mesmo este poema, caro Herético. Grata pela partilha.

Fraterno abraço
Mel

lis disse...

herético
preciso confessar que adoro poetas, cada dia mais um pouco rs

... muitos rostos que nao vejo mais e uma quantidade enorme de adeus, total colapso.

safra tão difícil quanto estrela cadente.

Parabéns pela lindeza que me mostras aqui.
retribuo com abraços

© Maria Manuel disse...

excelente poema!

abraço.

Genny Xavier disse...

Herético,
A poesia que nos toca, escrita ou lida, que se gesta ou se sorve, sempre nos abre um flanco...dela, rompemos dolorosamente a casca para nascer a palavra-planta...
A semente sempre prenuncia a flor e o fruto...safra da vida.

Prenúncio apenas...

Bom te ler. Beijo.
Genny

Marta disse...

um beijo, Senhor Poeta :)

Correia disse...

Estimado Poeta: ...os sentimentos reescritos e as metamorfoses da liberdade são o caminho
para ler a voz do olhar da alma e dos silêncios...
Adorei o poema. Abraço amigo, sempre, Cristina Correia

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