terça-feira, outubro 12, 2010

Crise e divida na Europa...

A  Associação Francesa de Economia Política lançou um “manifesto dos economistas aterrorizados”, com o qual se pretende lançar um debate sobre a “Crise e a Dívida na Europa” Trata-se de contribuir para a desmitificação dos chavões que o liberalismo económico e que, no momento actual, constituem garrote sufocante do desenvolvimento económico e social dos países dos países e
da soberania dos Povos.
Ao longo de escassas de 15 páginas, numa linguagem acessível, perpassa uma análise crítica de “10 falsas evidências” que o liberalismo económico reinante, impõe, como verdades absolutas, ao discurso político e à acção dos governos.
E, mais importante ainda, para cada “falsa evidência”, os autores do documento propõem um conjunto de alternativas medidas, no total de “22 medidas para sair do impasse” 
Deixo-vos, entretanto, com alguns excertos da introdução:
"A retoma económica mundial, que foi possível graças a uma injecção colossal de fundos públicos no circuito económico (desde os Estados Unidos à China) é frágil, mas real. Apenas um continente continua em retracção, a Europa. Reencontrar o caminho do crescimento económico deixou de ser a sua prioridade política. A Europa decidiu enveredar por outra via, a da luta contra os défices públicos
“Na União Europeia, estes défices são de facto elevados – 7% em média em 2010 – mas muito inferiores aos 11% dos Estados Unidos. Enquanto alguns estados norte-americanos com um peso económico mais relevante do que a Grécia (como a Califórnia, por exemplo), se encontram numa situação de quase falência, os mercados financeiros decidiram especular com as dívidas soberanas de países europeus, particularmente do Sul.
A Europa, de facto, encontra-se aprisionada na sua própria armadilha institucional: os Estados são obrigados a endividar-se nas instituições financeiras privadas que obtêm injecções de liquidez, a baixo custo, do Banco Central Europeu (BCE).
Por conseguinte, os mercados têm em seu poder a chave do financiamento dos Estados. Neste contexto, a ausência de solidariedade europeia incentiva a especulação, ao mesmo tempo que as
agências de notação apostam na acentuação da desconfiança. (…)
Da Holanda a Portugal, passando pela França com a actual reforma das pensões, as prestações sociais estão em vias de ser severamente amputadas. Nos próximos anos, o desemprego e a precariedade do emprego vão seguramente aumentar.
Estas medidas são irresponsáveis de um ponto de vista político e social, mas também num plano estritamente económico. Esta política, que apenas muito provisoriamente acalmou a especulação, teve já consequências extremamente negativas em muitos países europeus, afectando de modo particular a juventude, o mundo do trabalho e as pessoas em situação de maior fragilidade. (…)
Supõe-se que a economia esteja ao serviço da construção de um continente democrático, pacífico e unido. Mas em vez disso, uma espécie de ditadura dos mercados é hoje imposta por toda a parte, particularmente em Portugal, Espanha e Grécia, três países que eram ditaduras no início da década
de setenta, ou seja, há apenas quarenta anos.
Quer se interprete como um desejo de “tranquilizar os mercados”, por parte de governantes assustados, quer se interprete como um pretexto para impor opções ditadas pela ideologia, a submissão a esta ditadura não é aceitável, uma vez que já demonstrou a sua ineficácia económica e o seu potencial destrutivo no plano político e social.
Um verdadeiro debate democrático sobre as escolhas de política económica deve pois ser aberto, em França e na Europa. (…) A lógica neoliberal é sempre a única que se reconhece como legítima, apesar dos seus evidentes fracassos (..) Quer se trate da eficiência e da racionalidade dos mercados financeiros, da necessidade de cortar nas despesas para reduzir a dívida pública, quer se trate de reforçar o “pacto de estabilidade”, é imperioso questionar estas falsas evidências e mostrar a pluralidade de opções possíveis em matéria de política económica.
Outras escolhas são possíveis e desejáveis, com a condição de libertar, desde já, o garrote imposto pela indústria financeira às políticas públicas. (…)”

17 comentários:

O Puma disse...

Quando aderimos pioneiros à comunidade europeia - aderimos diferentes -

isto é

na Alemanha tinhamos um emigrante
- cá a Alemanha tinha uma fábrica

Agora neste modelo falido
para recuperar as diferenças
pagamos mais e o que recebemos
é para de novo pagar isentando
as multi-nacionais

Europa - pois claro
mas não esta com estes chefes

Abraço

Rogério G.V. Pereira disse...

Meu caro, assumi (como julgo que sabe) o compromisso de descodificar alguma linguagem mais dificil de ser entendida e, também, que ajude a panhar algumas das mensagens que se desenvolvem pelas 15 páginas. Vamos ver ser dou conta do recedo...

Abraço

Licínia Quitério disse...

Alguma desmistificação da inevitabilidade das medidas ferozes ditadas pela Merkl & Cª e dos chavões com que a comunicação e os comunicadores nos bombardeiam. Chavões que depois são reproduzidos de boca em boca, derramando um susto colectivo. Esta abordagem da falência da Europa do capital, longe de conter concepções extremistas, nunca será feita nos nossos estupidificantes media. Ainda bem que aqui a trouxeste.

Ando zangada, bastante zangada.

Beijo.

mundo azul disse...

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Bem, confesso que não entendo muito de política econômica, mas foi bom ler o seu texto... Aprendi alguma coisa, obrigada!!!

Beijos de luz e o meu carinho...

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jrd disse...

Com capatazes como a Angela e o Nicolas vai ser dificil.

Abraço

lino disse...

Questão premente e muito importante, que teve eco mesmo nos media dos Estados Unidos, mas completamente ignorada pelos nossos fazedores de opinião.
Abraço

lis disse...

Oi kirido heretico
passo "na madrugada " pra deixar meu abraço e poupo-me da leitura da "Crise e dívida da Europa" porque já é suficiente as mazelas desse meu imenso Brasil!
Europa , primeiro mundo , voces sempre se deram bem, são ricos! rsrs

fica portanto muitos abraços pra compensar o desvario

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

uma analise pertinente e actual.

um beij

Graça Pires disse...

Foi bom ter lido este texto.
Mas é de facto o "garrote sufocante" que nos amarra ao medo.
Um beijo.

José Leite disse...

Remédios, remédios, remédios...

Onde é que eu já ouvi isto?

São disse...

Excelente!
Lá irei ler.
Uma serena noite.

Anónimo disse...

penso que o mundo atravessa o seu pior momento e sinto-me penalizada por pertencer a uma geração que cresce e vive e sobrevive dentro do conceito "crise". um abraço.

vieira calado disse...

Ainda há quem faça análises desprovidas de interesses mais ou menos valados.


Um forte abraço

M. disse...

Já o tinha lido por outras vias. Uma esperança de soluções? Quem dera assim fosse. E a vontade para isso?...

Anónimo disse...

Uma análise excelente da crise actual.
Bom Domingo.
Beijo.

Jorge Castro (OrCa) disse...

Aplauso pelo serviço público, meu caro.

Abraço.

bettips disse...

Já tinha aqui vindo, mas gosto de tempo para ler o que é importante.
Obrigada, isto não aparece nas tvs.
Bem acho que os Economistas e Doutores bem podiam pensar um bocado mais alto, todos. Será que é assim tão difícil negar o abraço da serpente?
Abç

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