sábado, janeiro 29, 2011

OS DITADORES NÃO DITAM. OBEDECEM...




O movimento de protesto no Egipto
por Michel Chossudovsky

"O regime Mubarak pode entrar em colapso face ao vasto movimento de protesto à escala nacional. Quais as perspectivas para o Egipto e o mundo árabe? Ditadores não ditam, eles obedecem ordens. Isto é verdade tanto na Tunísia, como na Argélia ou no Egipto. Ditadores são sempre fantoches políticos. Os ditadores não decidem. O presidente Hosni Mubarak foi o fiel servidor dos interesses económicos ocidentais e assim era Ben Ali.

O governo nacional é o objecto do movimento de protesto. O objectivo é remover o fantoche ao invés do mestre do fantoche. Os slogans no Egipto são "Abaixo Mubarak, abaixo o regime". Não há cartazes antiamericanos. A influência avassaladora e destrutiva dos EUA no Egipto e por todo o Médio Oriente permanece oculta. As potências estrangeiras que operam nos bastidores estão protegidas do movimento de protesto.

Nenhuma mudança política significativa se verificará a menos que a questão da interferência estrangeira seja tratada de forma explícita pelo movimento de protesto. A Embaixada dos EUA no Cairo é uma importante entidade política, sempre ofuscando o governo nacional, não é alvo do movimento de protesto.

No Egipto, em 1991, foi imposto um devastador programa do FMI na altura da Guerra do Golfo. Ele foi negociado em troca da anulação da multimilionária dívida militar do Egipto para com os EUA bem como da sua participação na guerra. A resultante desregulamentação dos preços dos alimentos, a privatização geral e medidas de austeridade maciças levaram ao empobrecimento da população egípcia e à desestabilização da sua economia. O Egipto era louvado como uma "aluno modelo" do FMI...

O papel do governo de Ben Ali na Tunísia foi impor os remédios económicos mortais do FMI, os quais num período de mais de vinte anos serviram para desestabilizar a economia nacional e empobrecer a população tunisina. Ao longo dos últimos 23 anos, a política económica e social na Tunísia foi ditada pelo Consenso de Washington. Tanto Hosni Mubarak como Ben Ali permaneceram no poder porque os seus governos obedeceram e aplicaram efectivamente os diktats do FMI.

Desde Pinochet e Videla até Baby Doc, Ben Ali e Mubarak, os ditadores têm sido instalados por Washington. Historicamente, na América Latina, os ditadores eram nomeados através de uma série de golpes militares patrocinados pelos EUA. Hoje eles são nomeados através de "eleições livres e justas" sob a supervisão da comunidade internacional. (…)

O relacionamento do "ditador" com interesses estrangeiros deve ser considerado. Derrubar fantoches políticos mas não esquecer de alvejar os "ditadores reais" (…). Se o movimento de protesto deixar de tratar o papel das potências estrangeiras incluindo pressões exercidas por "investidores", credores externos e instituições financeiras internacionais, o objectivo da soberania nacional não será alcançado.

Ditadores são postos e depostos. Quando eles estão politicamente desacreditados e já não servem os interesses dos seus patrocinadores, são substituídos por um novo líder, muitas vezes recrutado dentro das fileiras da oposição política.

Na Tunísia, a administração Obama já se posicionou. Ela pretende desempenhar um papel chave no "programa de democratização". E também pretende utilizar a crise política como um meio de enfraquecer o papel da França e consolidar a sua posição na África do Norte (...).

Os Estados Unidos, que foram rápidos em avaliar a vaga de protesto nas ruas da Tunísia, estão a tentar pressionar em seu proveito (...). O alto enviado dos EUA para o Médio Oriente, Jeffrey Feltman, foi o primeiro responsável estrangeiro a chegar ao país depois de o presidente Zine El Abidine Ben Ali ser derrubado em 14 de Janeiro (…).

Será que Washington terá êxito em nomear um novo regime fantoche? Isto depende muito da capacidade do movimento de protesto de tratar o papel insidioso dos EUA nos assuntos internos do país. Os poderes avassaladores do império não são mencionados. Numa ironia amarga, o presidente Obama exprimiu o seu apoio ao movimento de protesto.

Muitas pessoas dentro do movimento de protestos serão levadas a acreditar que o presidente Obama está comprometido com a democracia e os direitos humanos e é apoiante da resolução da oposição de destronar o ditador, o qual fora antes instalado pelos EUA (…).

Numa ironia amarga, Washington apoia a ditadura Mubarak, incluindo suas atrocidades, enquanto também apoia e financia seus detractores, através das actividades do FH, NED (…). Os mestres dos fantoches apoiam dissidentes contra os seus próprios fantoches. Chama-se a isto "alavancagem política", e "fabricação de dissidentes"…


segunda-feira, janeiro 24, 2011

Cidade sitiada.

Plúmbeos dias de agora como se o tempo
Fosse invisíveis gotas. Instantes sem futuro no consumo
Dos relógios. Apressados.

Pressente-se um vago tic-tac na pele das coisas.
Oscilantes. Como se o movimento fosse rito e
Inconformado se rebelasse contra os muros brancos
De uma cal soturna. E a indecisa cor se afundasse
Na ausência do sol. Desesperada.

E nessa atonal música se desenha
O silêncio. E os passos se inquietam. E os corpos se retraem.
E as mãos se buscam. Contraponto de gotículas
Sobre o declinar das horas. Melancólicas.

Cegos de olhar fundeamos destinos, embora.
Mal refeitos dedos titubeantes. E o som dos pés.
E o lajedo aberto. E as silhuetas. E as sombras que nos tomam.
E as dores vivas de cinza. Em chama.

Furtivos pombos catando o dia
Sobre os escombros da cidade. Sitiada.  

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Breves dias ausente de vosso convívio.
Beijos e Abraços.
Grato.



sexta-feira, janeiro 21, 2011

CONTRA A ARROGÂNCIA. E A HIPOCRISIA...


Afinal não é necessário correr muito para apanhar um trapaceiro!...

Basta ler os jornais e conhecer as suas trapaças em torno da casa no Algarve, na célebre urbanização da Coelha, e ficamos todos  a saber que  "não é necessário nascer duas vezes" para se ser mais sério que Cavaco Silva...

E ao proclamar que uma segunda volta nas eleições presidenciais provocará uma subida nas taxas de juro, também demonstra que o candidato nem sempre "fala verdade aos portugueses...". Pelo contrário, pretende assustar os eleitores com essa indignidade...

No dizer de um conhecido comentarista (V. P. V), Cavaco Silva "não mexerá um dedo para salvar a Pátria. Cavaco não se mexe. Excepto por Cavaco!..."

Contra a arrogância. A hipocresia. E o medo...

Votemos!

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Os cravos e as orquídeas (ou as urtigas?).


Quando, em meados dos anos oitenta, Cavaco Silva ganhou as primeiras eleições legislativas, tive a oportunidade de publicar, num jornal diário, entretanto desaparecido na voragem do “pensamento único”, uma pequena crónica, intitulada “Os cravos e as orquídeas”.
De facto, sugestionou-me na altura que, na euforia da vitória, da varanda de um qualquer hotel de Lisboa, o vencedor das eleições e sua emérita esposa, acenando à multidão de prosélitos, ostentassem nas mãos, em lugar de cravos vermelhos, vivos e fraternos, uma deslavada orquídea, em que a pequena burguesia se revê, como símbolo de promoção social.   
O despretensioso texto por ai deve andar, amarelecido, misturado com outras tralhas, em qualquer estante ou gaveta, mas a ocasião não me permite revistá-lo para convosco o partilhar, à luz da realidade actual. 
Digo-vos, porém, que de alguma forma profetizava então o fim de um ciclo, ou se quiserem, considerava que as ondas de choque, que o “25 de Abril” havia provocado nas águas paradas de sociedade portuguesa, se tinham esbatido até a exaustão. E, que daí em diante, a direita tomaria o freio nos dentes e, a toda a brida, procuraria apagar as conquistas sociais e os próprios sinais libertadores da generosa revolução.
É certo que o processo de recuperação capitalista, como então se dizia, era anterior ao cavaquismo emergente. E que, sem a explicita cumplicidade, (quando não a iniciativa) do partido socialista esse processo não teria tido êxito.
Bem se sabe, também, que a dita “Aliança Democrática”, de que o cavaquismo é herdeiro, em ataque frontal ao “25 de Abril”, procurou, no princípio década, uma “maioria e um presidente”, que dizer, almejou ter as mãos livres para liquidar as conquistas da revolução. Todos conhecemos em que circunstâncias políticas tal desígnio foi travado, nas quais ressalta a visão patriótica do Partido Comunista Português, que, engolindo sapos, contribui, decisivamente, para a derrota presidencial da direita.
Momentos marcantes, sem dúvida. Foram altos e baixos de uma corrente de luta e de resistência, que os trabalhadores se empenharam na defesa do Futuro, que então se anunciava sob o signo da direita…
Mas tenho para mim, (como no pequeno texto considerava), que naquele gesto simbólico de exibir orquídeas em vez de cravos, se condensava um certo ressentimento de classe e que uma nova ordem social se inaugurava, com a arrogância e a grosseria de quem sobe a pulso na vida e de que Cavaco Silva se considerava (e considera) lídimo representante.
Naturalmente que nesta anotação pessoal não está em causa o mérito do trabalho, nem o legítimo mérito social que dele deve decorrer. Pelo contrário: o que aqui se verbera é uma certa ideologia pequena burguesa de videirismo social, em que a luta pela vida passa pelo “salve-se quem puder”, quando não mesmo por espezinhar os outros.
Ou então se manifesta na auto-satisfação complacente “de quem nunca se engana e, raramente, tem dúvidas”…   
Subiu, pois, Cavaco Silva na vida e na contemplação de si próprio. Foi primeiro-ministro durante dez anos e foi vê-lo a trepar ao coqueiro e a engasgar-se com a boca atafulhada de bolo-rei…
E a destruir a indústria, a agricultura, as pescas e a produção nacional. E a alargar o deficit alimentar do País e a dívida externa. E a congeminar o “monstro” das parcerias público-privadas. E a hipotecar as finanças públicas e o futuro do País, em delírio de novo-riquismo de obras públicas, num “fontismo” de pacotilha, em beneficio dos empreiteiros do regime. E, em fundamentalismo neoliberal, a privatizar serviços na saúde, na educação e nas empresas públicas, em nome da falácia “de menos Estado, melhor Estado”.
 E a safar-se, mais tarde, ele e amigos políticos, com as trafulhices do BPN, que os portugueses estão a pagar agora, num buraco sem fim à vista…
Claro que a crise não é com ele. Lava daí as mãos. Como Presidente da República fez uns discursos enigmáticos e enxundiosos. Alertou e não foi ouvido – diz ele.
E é muito amigo dos pobrezinhos. Valha-nos Deus!
Em escrutínio eleitoral, ofende-se como uma prima-dona, quando confrontado. A seriedade é propriedade privada de sua excelência. Ninguém mais honesto que ele! – Teriam que nascer duas vezes, garante-nos!…
É agora uma boa oportunidade de nos libertarmos definitivamente de semelhante suplício. Prescindir de seus méritos e experiência e reduzir sua excelência à sua condição de “mísero professor” (se ele o diz, quem sou eu para duvidar?).
E, em generosa e festiva vitória de cravos vermelhos sobre as deslavadas orquídeas, celebrar Abril. De novo…
(Exorcizando a coceira das urtigas que nos espera, se for o contrário …)



    




sábado, janeiro 08, 2011

A MEUS AMIGOS...


No sopro de meus dedos todas as glórias
(Que nestas letras se misturam deuses e criaturas)
Barro que tem reflexo de alturas
Onde germina o Corpo, o Tempo e o Modo.

Infinito-Presente que de tão breve é já Futuro...

Nada de novo no horizonte da palavra que respiro
Pois nada de mim se arrasta neste parto.
Sou além de mim – sou queda e brado! -
Partitura louca (que por capricho ou ledo engano)
Na música se esvai correndo como o pano
Que aberto se fecha sobre palco festivo...

Promessa mil vezes adiada.
Não me lamentem porém os que de mim colhem
A flor de meus desejos.

Que no bosque esperançoso (em que incauto teimo)
Sois vereda e água – e a palavra sussurrada.
Ou o vento. Em cópula de Outono sobre as árvores...

quinta-feira, janeiro 06, 2011

"INDIGNEZ, VOUS"!...



Stephane Hessel nasceu em Berlim a 20 de Outubro de 1917. Apesar de ter nascido na Alemanha, Stephane Hessel obteve a nacionalidade francesa em 1937. Combatente da resistência, foi prisioneiro de guerra num campo de concentração nazi, do qual se evadiu.

É diplomata, embaixador de França e foi agente do Bureau Central de Renseignements et d'Action (o serviço de inteligência francês). Trabalhou com De Gaulle na resistência e no após da guerra, sendo, porém, Pierre Mendès France e seu governo de “unidade de esquerda” o político que mais admira.   
Em 1948, participou na elaboração da Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Publicou, recentemente, uma pequena brochura com o impressivo título “Indignez, Vous!” e que constitui um libelo acusatório ao actual “estado das coisas” em França, na Europa e no Mundo.

Apela Stefane Hessel aos cidadãos, sobretudo os jovens, para que expressem a sua indignação contra as ameaças presentes de retrocesso social e as desigualdades que afectam hoje a humanidade e o Mundo e que, em sua perspectiva, justificam uma verdadeira insurreição, pacifica embora.
Não consta que o livrinho, um verdadeiro best seller em França, tenha sido publicado em Portugal, nem sequer merecido, tanto quanto se sabe, a mais leve referência pelo mainstream cultural, certamente, mais empenhados, uns e outros, em temas mais light.
E, naturalmente, em subserviente atenção ao que se publica, em inglês, no outro lado do Atlântico…

BILLY THE KID ( Bob Dylan Song) performed in spanish language by: J.M.BAULE

sábado, janeiro 01, 2011

Para além da Europa...



Pequenos sinais que iluminam. Ténues sinais de esperança, para além das crises. E para além da decrépita Europa. Vindos da Sul-América, onde tudo é ainda possível.

Onde tudo está a ser possível...

Longe das notícias que nos invadem o quotidiano, ficamos a saber que no dia 22 de Dezembro p.p., o governo chileno ordenou, 37 anos depois, a detenção dos quatro militares acusados de, na sequência do golpe militar de Pinochet, terem sequestrado, torturado e assassinado Victor Jara, conhecido intelectual e cantor da revolução democrática chilena, liderada por Salvador Allende.

Victor Jara foi assassinado na madrugada de 16 de Setembro de 1973, vitimado por 24 balas, no Estádio do Chile, que hoje ostenta seu nome, onde na sequência do golpe fascista, foram encarceradas mais cinco mil pessoas.

O processo de detenção foi interposto pelo Ministério do Interior, no âmbito do Programa dos Direitos Humanos, que o governo chileno se propõe desenvolver e, no que se refere ao assassinato de Victor Jara, tem como arguidos os oficiais chilenos Hugo Sanchez, Edwin Dimter, Raúl Jofré e Rolando Melo, acusados de crivar de balas o cantor revolucionário.

Recorda-se que a ditadura de Pinochet, responsável pelo assassínio de milhares de opositores, teve o apoio directo dos governos dos E.U.A e oprimiu o povo chileno até 1999, data em que o democrata cristão, Patrício Alwin, assumiu a presidência, na sequência de eleições.
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No Brasil, Dilma Rousseff, uma mulher comprometida com a democracia e o progresso social, vítima da feroz ditadura dos militares brasileiros, tomou posse como Presidente da República do Brasil. Sem arrependimento, mas também sem ressentimento, nem rancor, como faz questão de acentuar.

Comprometida com os pobres e os mais vulneráveis da sociedade brasileira. Num programa de defesa da paz e de emancipação dos Povos.

E na coragem de se afirmar na coragem do sonho…

Motivos que dão um pouco de esperança ao Mundo. E que acalentam a emoção dos corações solidários!...


Victor Jara - Deja la vida volar

Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...