quinta-feira, junho 30, 2011

Refugiemo-nos em outras paragens...



Leio em revista de actualidade política, revestida em papel brilhante e maquilhada de garridas cores, um despudorado artigo, repleto de deslumbrados elogios sobre as qualidades pessoais e profissionais de uma das principais vedetas do novo governo da República.

Ou seja, o ministro da Finanças, que sacrificando as delícias de uma carreira académica “lá fora”, se propõe safar-nos das agruras das Finanças portuguesas – um novo mago das finanças. Agora, já não canhestro ou manholas, mas em versão globalizada!...

Ou com todas estas qualidades juntas, vá lá saber-se, no momento!

Hesito em chamar bajulação ao oceano de ditirambos com que o novel ministro é enfeitado. Imaginem vocês que, com a franzina idade de 17 anos, o “nosso” génio se atreveu a ler, de fio a pavio, os cinco grossos volumes de “O Capital”, de Karl Marx.

É obra, reconheçam!... Não de Marx, naturalmente! Que, coitado, em vida se viu obrigado a confessar que “não era marxista”, porventura, para enxotar génios de semelhante gabarito. Mas certamente um monumento de precocidade intelectual…

Valha-me a santa! Como se mais importante que ler Marx, não fosse compreende-lo…

Claro que perante a proclamada “aridez” da Marx, cedo o elogiado académico se rendeu às receitas fast food do liberalismo económico e ao proselitismo dos “Chicago boys”…

Refugiemo-nos, portanto, noutras paragens. Como lenitivo. E como esperança!...

Por exemplo, em artigo de Francisco Fernández Buey, Catedrático de Filosofia do Direito, da Universidade Pompeu Fabra, Barcelona.

…………………………………….
(...)"Para os novos escravos da época da economia global (que andarão rondando os trinta milhões), para os novos servos do XXI (que, segundo os informes de várias organizações internacionais são mais de trezentos milhões), para tantos e tantos imigrantes sem papéis os quais o capitalismo explora diariamente sem os considerar cidadãos, para os proletários que estão obrigados a ver o mundo desde baixo (um terço da humanidade) e para alguns quantos milhares de pessoas sensíveis que decidiram olhar o mundo com os olhos destes outros (e sofrê-lo com eles), o velho Marx ainda tem algumas coisas a dizer(…).

Para estes, Marx segue tão vigente como Shakespeare para os amantes da literatura. E têm suas razões (...).

Marx disse que ainda que o capitalismo tenha criado pela primeira vez na história a base técnica para a libertação da humanidade, justamente por sua lógica interna, este sistema ameaça transformar as forças de produção em forças de destruição. A ameaça fez-se realidade.

Marx disse que a causa principal da ameaça que transforma as forças produtivas em forças destrutivas e destrói assim as fontes de toda riqueza é a lógica do benefício privado, a tendência da cultura burguesa a valorá-lo todo em dinheiro, ou viver nas “gélidas águas do cálculo egoísta”.

Marx disse que o carácter ambivalente do progresso tecno científico acentua-se de tal maneira sob o capitalismo que ofusca as consciências dos homens (…); disse-o com pesar, porque ele era um amante da ciência e da técnica (...).

Marx disse (jovem, mas também velho) que para acabar com essa situação exasperante das formas repetitivas da cultura burguesa era necessária uma revolução e outra cultura.

Não disse isto por amor à violência nem por desprezo da alta cultura burguesa, mas simplesmente com a convicção de que os de cima não cederão graciosamente os privilégios alcançados e com o convencimento de que os de abaixo também têm direitos, designadamente, à cultura (…)”



7 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rogério G.V. Pereira disse...

O "coiso" se lesse isto, não iria entender...
Está formatado
e não está virada para aí
a competência de que é dotado

luis lourenço disse...

A ganância do lucro é terrível.
Mas mais triste é o poder político sufragado pelo voto, render-se ao jeito...O mar bate na rocha e quem se lixa é o mexilhão".

abraços,

tevallsz

lino disse...

Eu passei à frente, mas palpita-me que o gajo leu os manuscritos originais em alemão e apenas entendeu as palavras "mais valia" e "exploração capitalista".
Abraço

C Valente disse...

Uma das maldades do mundo é a ganância
Saudações amigas, bom fim de semana

C Valente disse...

Uma das maldades do mundo é a ganância
Saudações amigas, bom fim de semana

Teresa Durães disse...

do modo como as finanças são conduzidas, sinto-me apta para ministra

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