quarta-feira, fevereiro 29, 2012

90 Anos de Vida da SEARA NOVA


A Revista SEARA NOVA, cujo primeiro número foi publicado em 15 de Outubro de 1921, está a comemorar os seus 90 anos com diversas iniciativas, que se prolongam até ao final do ano.

As Comemorações têm o patrocínio institucional da Câmara Municipal de Lisboa, da Fundação Calouste Gulbenkian, da Fundação Mário Soares e Fundação José Saramago e da Casa Museu Abel Salazar.

Integram a Comissão de Honra das Comemorações do 90º Aniversário prestigiadas personalidades da vida social, cultural e política do País, a seguir mencionadas:

Dr. António Arnaut, Prof. António Avelãs Nunes, Prof. António Borges Coelho, Dr. António Costa, Prof. António Reis, Eng.º Aquilino Ribeiro Machado, Dr.ª Catarina Vaz Pinto, Profª. Dulce Rebelo, Prof. Eduardo Lourenço, Dr. Francisco Melo, Prof. Fernando Correia, Prof. João Caraça, Prof. José Augusto França, Prof. José Barata-Moura, Pintor Júlio Pomar, Pintora Maria Keil, Prof. Manuel Carvalho da Silva, Dr. Mário Soares, Prof. Óscar Lopes, General Pedro Pezarat Correia, Prof. Pedro Saavedra, Dr.ª Pilar Del Rio, Dr. Rui Vilar e Prof. Urbano Tavares Rodrigues.

Do conjunto das iniciativas em curso é de destacar o “Ciclo de Conferências SEARA NOVA”, a primeira das quais se realizou em Novembro, na Casa de Imprensa, em Lisboa, sobre o “Projecto Seara Nova”.

No próximo dia 3 de Março, Sábado, pelas 15 horas, na Sala Veneza do Hotel Roma - Avenida de Roma, em Lisboa, terá lugar a segunda Conferência subordinada ao tema “Leituras da Crise”, com intervenções do Prof. Doutor António Avelãs Nunes e do Prof. Doutor João Ferreira do Amaral.

O “Ciclo de Conferências SEARA NOVA” prosseguirá, ao longo do ano, com a abordagem de outros temas de carácter social, cultural e político.

Também no âmbito do programa das Comemorações, vai ser inaugurada uma “Exposição Itinerante”, no próximo dia 24 de Março, no Palácio Galveias – Campo Pequeno, em Lisboa, disponibilizado para o efeito pela Câmara Municipal de Lisboa, no decurso da qual se realizará um convívio com a Comissão de Honra, colaboradores e outros convidados.

Sempre que se justifiquem tornar-se-ão públicas outras iniciativas comemorativas, realçando o passado, presente e futuro da Revista SEARA NOVA.


quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Voltará talvez o dia...


 Arde o silêncio agora e a boca salitre
Como terra ressequida. Corpo em fresta
Que se nega ao liso horizonte da carícia...

Letal o abandono de aves em seu voo.

Voltará talvez o dia das palavras tatuadas
Daquelas que a pele nos pede de tão puras
E que por vezes germinam como rosas
Que sem mácula desfolhamos pelas ruas...

Ecos de cristal tombado sobre a mesa
Bebemos o vinho derramado como se a festa
Agora negra fosse missa. Ou ritual de luto...

Triunfal a vida e o dia claro. Embora.

O desejo agora é branco.
Que outra glória, porém, busca o fogo no íntimo
Da fornalha.

Mais que arder como incenso de proscrito...


Zeca Afonso - A Formiga No Carreiro



José Afonso, Sempre!

terça-feira, fevereiro 21, 2012

NO CARNAVAL NINGUÉM LEVARÁ A MAL...


Vocês lembram-se do meu amigo Zeca? Sim, esse mesmo, o alentejano de Beja, solteirão impenitente e protector de donzelas desvalidas. Como esporadicamente vos vou dando notícia, o meu amigo Zeca encontra-se já há uns tempos “retirado da vida”, como ele, num suspiro, faz questão acentuar, passando os dedos pela papeira dos olhos, ou alargando a mão à calvície luzidia...

Quanto à profissão, bah! – o Zeca está sem pachorra para aturar cretinices e favores políticos. E quanto a saias, o meu amigo, enfaticamente, reclama que durante toda a vida as “mulheres lhe foram comer à mão” e que não será,  agora, portanto, “que irá arranjar jeito para ser cabide”, seja lá o que for que em seu léxico, o morfema “cabide” possa significar...

De forma, que administrando, os réditos de uma carreira de “consultor” na área financeira, com altos e baixos, mas relativamente bem-sucedida, aí temos o meu amigo, do alto do seu apartamento debruçado sobre o Tejo, a desfrutar os prazeres que este inverno soalheiro lhe vai proporcionando, alargando-se em amplos passeios à beira rio, com um poderoso “labrador” pela trela...

Fora isso, apenas a cozinha, em que se esmera e sublima sabe-se lá que desejos... E o charuto e o conhaque, claro, com que obsequia os amigos depois de suculenta refeição, seleccionadas, em cada caso – sei-o agora – em função dos gostos culinários de seus amigos. O prazer da partilha e da amizade é tão genuíno no Zeca, que o leva a este requinte de sensibilidade...

Há escassos dias fui um dos seus comensais. Éramos quatro pândegos, de papilas gustativas bem afeitas (e afoitas) a paladares intensos, à volta de uma esplendorosa terrina com arroz de lampreia, escorrendo com seu molho espesso e cremoso, pelas gargantas, depois de bem degustados os pedaços, que o Zeca, com mão sábia, sabe temperar...

“Manjar de anjos”, lhe chamaria Eça fosse dar-se o caso de gostar de lampreia e merecer, naturalmente, a honra de um convite do meu amigo Zeca...

Isto para vos dizer, que foi uma tarde à maneira antiga. Na lassidão dos conhaques prosseguiu a revisitação do roteiro nossos “pequenos ódios de estimação”, zurzindo as figurinhas e figurões que assombram o quotidiano dos portugueses. E, depois de alguns momentos de beatífico voo nos espirituosos vapores do álcool, eis que alguém traz, inesperadamente, o incontornável Eduardo Catroga, agora de novo em voga com a saga da privatização da EDP.

O torpor, porém, era manifesto e a “intromissão” não mereceu mais que uma pilhéria deslavada a propósito do alegado “tamanho” dos chineses e da roliça compleição física do dito Catroga.

Não sei se motivado pelo esforço de vencer a sonolência colectiva, se obedecendo à pulsão irresistível de sempre acicatar o Zeca, segurei o fio da conversa e jogando com a figura anafada de meu amigo, lancei para a turba:

- “Para além de economistas, aliás distintos, o Catroga e o Zeca estão a ficar cada vez mais parecidos, quase dois irmãos gémeos, não vos parece”?! ...”

O semi-sorriso de meus amigos, deixava prever “sangue”. Entrei, por isso, a fundo e acentuei a ironia: - “Se lhe oferecermos um capachinho com a melena branca do Catroga, o Zeca bem pode funcionar como seu duplo, nos transes de maior risco do chairman da EDP”...

E, perante a gargalhada já solta dos circunstantes, afoitei-me mais um pouco: “Quem sabe se com o seu fenomenal currículo o Zeca não poderia dar contributo desinteressado para a baixa generalizada dos preços da energia e a integral realização do sósia, massajando os insignes joanetes da senhora sua esposa?

Como, por certo, compreenderão, mais que a figurinha congestionada do Catroga, esta excessiva graçola tinha outro alcance, a que apenas iniciados têm acesso. Visava, como alguns recordarão, circunstâncias antigas em que meu amigo Zeca, então promissor quadro de uma empresa pública, esteve à beirinha de “ter uma boa vida”, não fora uma senhora que “andava a pedi-las”, os incómodos joanetes e os sapatos apertados de uma zelosa sogra.(aqui).

Não fora este lance de má sorte, o Zeca seria hoje chairman de uma qualquer empresa pública em vias de privatização, quiçá destronando o próprio Catroga. Claro que a partir dessa data, o Zeca passou a odiar sogras, joanetes e sapatos apertados...

Enfim, tempos passados que apenas uma mente perversa iria agora desenterrar...

O Zeca, porém, não desarmou. E com a condescendência com que a sua impoluta amizade sempre suportou as minhas impertinências, fixou-me com olhar irónico e atirou-me, arrasador:

- “Tu estás calado e calas-te!... Sei onde queres chegar. Mas como nunca na vida “comeste” nada de jeito (o que é manifesto exagero do Zeca) não tens autoridade para gozar com meus fracassos”...

E, perante a gargalhada geral, continuou: - “E, fica sabendo, que o Catroga não tem pintelhos que cheguem aos meus, quanto mais tomates...”

Foi o delírio. E todos em coro: “Ó Zeca, ó Zeca, tu não sejas megalómano, pá! Os pintelhos do Catroga são celebérrimos - foram notícia de abertura dos telejornais, avaliados e dissecados em comentário político e, ao que parece agora até chegaram à China. Os pintelhos do Catroga são únicos, pá...”

Por momentos pressenti o Zeca embaraço, mas breve se recompôs: - “Vocês estão enganados. O Catroga tem “pentelhos”! Pintelhos tenho eu e espero que vocês... Os gajos nem sabem do que falam...

Embasbacamos! O Zeca avança então douta elucubração sobre os pêlos púberes, arrancando do negrume da ignorância a centelha da clarividência. Afinal os celebrados pelinhos vão buscar, ainda que indirectamente, a sua consagrada designação – imaginem! -  aos mistérios de Baco e ... ao vinho!

O Zeca não tem dúvidas. Diz-se “pintelho” e não “pentelho”, pois a palavra vai buscar o sentido ao “pintar” do bago das uvas, antes da completa maturação. Frutos precoces, portanto, a que o povo, na sua criatividade associa a puberdade e os inocentes pelinhos...

Enfim, “pintelhices” do Zeca, que agora trazem novo problema aos seus amigos! Não sabemos ao certo se devemos propô-lo a Presidente da Comissão do Acordo Ortográfico, se a membro da Academia de Ciências, na classe de letras, está bem de ver...

Que vos parece? ...   







  




sábado, fevereiro 18, 2012

Mikis Theodorakis - Ki esi lae vasanismene (1974)


"Se os povos da Europa não se levantarem,
os bancos trarão o fascismo de volta."
Mikis Theodorakis

Pregar aos peixes...

Foi publicado em 25.08.2011, no Jornal Oficial da União Europeia, o parecer do Comité Económico e Social Europeu - CESE sobre a denominada “Plataforma Europeia contra a Pobreza e a Exclusão Social”.
Bem sabemos a distância que separa a previsão das disposições legais, naquilo que eventualmente possam preconizar de alargamento ou consolidação dos direitos humanos e a prática concreta das instituições.

É assim na ordem jurídica interna. E é assim, por maioria de razão na União Europeia, onde as instituições jurídicas e políticas estão ainda mais envolvidas por uma teia de interesses e lóbis que asfixiam, à partida, quaisquer veleidades de progresso social.

No entanto, julgo que vale a pena conhecer o parecer em causa. Não apenas pela caracterização que faz da “pobreza”, mas sobretudo, pela contradição evidente que revela, entre as propostas de políticas económicas em curso na União Europeia, que arrasam os países e as sociedades e as políticas de “combate à pobreza”, que preconiza.

Ficamos assim a saber, porque plasmado em documentos oficiais da UE que as pessoas vivem em situação de pobreza “são muitas vezes excluídas e marginalizadas da participação em actividades (económicas, sociais e culturais) que são habituais para outras pessoas, podendo o seu acesso aos direitos fundamentais ser restringido.”

De assinalar, particularmente, a ligação das situações de pobreza à violação dos direitos humanos, o que corresponde às mais modernas perspectivas da problemática dos direitos do homem e da sua consagração universal. Pena é que tais enunciados sejam apenas ideologia jurídica, espuma das boas intenções que brevemente se desfaz, perante as alegadas contingências da “crise” e os ditames dos sacrossantos mercados.

Como o documento revela (e tem sido publicado) mais de 80 milhões de pessoas vivem na UE abaixo do limiar da pobreza, das quais mais de 50 % são mulheres e 20 milhões são crianças. Embora seja importante dispor de dados estatísticos sobre a pobreza material, é também importante reconhecer a existência de uma pobreza intelectual, como, por exemplo, a iliteracia.

Apesar de tudo, o Comité Económico e Social Europeu - CESE formula algumas recomendações, de que se exige fazer delas instrumentos de luta, designadamente, no que se refere à redução das desigualdades e ao cumprimento dos direitos fundamentais, mediante uma repartição mais justa do rendimento.

Nesta perspectiva, as medidas de austeridade não devem agravar o risco de pobreza, sendo necessário avaliar eficazmente o seu impacto social...

Assim rezam documentos oficiais na União Europeia. Importa, como Santo António, continuar, sem desânimo, a pregar aos peixes...

ver: CASE

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Esqueleto Jornaleiro...

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 “Jornaleiro do signo fúnebre
Forçados arrancados à fossa d´ossos
Dessa leira que cavais
Do esforço que pedis às vértebras
Ou aos músculos em estilhaços
Que seara estranha preparais
Que Senhor é esse de quem encheis a granja?
Quereis mostrar
Que até na tumba nada garante o sono prometido
Que o signo fúnebre é língua de impostura e nada mais
Que o nada nos mente
Que a morte nos engana
Que a jorna que nos espera é cavar à pá
Uma terra adversa
Com estes pés nus sangrando?”

Charles Baudelaire – in “As Flores do Mal”
Edição Relógio d´Água

Serge Gainsbourg Baudelaire

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

A Caixa de Pandora II


Tive a oportunidade de assistir, em 11 de Dezembro de 2008, a uma conferência do juiz Baltazar Garzón. Foi em Lisboa, na Casa do Alentejo, numa reunião promovida por José Saramago. Das minhas impressões do encontro dei conta, oportunamente, neste espaço.http://relogiodependulo.blogspot.com/2008/12/outras-personagens-baltazar-grzon.html

Como então afirmei, o juiz Baltazar Garzón tem um brilhante curriculum como magistrado ao serviço das causas mais nobres, como defensor das vítimas de crimes de genocídio e crimes contra a humanidade, promovendo reabilitação moral e social das vítimas e movendo perseguição jurídica contra os seus verdugos.

Dos processos mais conhecidos, ressaltam a prisão e julgamento do ditador Augusto Pinochet e o processo sobre as vítimas do franquismo, entre as quais o poeta andaluz Garcia Lorca que, como se sabe, foi fuzilado às mãos do fascismo espanhol, acrescentando o seu nome ilustre a milhares de outros.

Foi agora condenado pelo Supremo Tribunal de Espanha e suspenso de funções por onze anos por alegadamente ter ordenado a gravação de conversas de uma rede de corrupção política que envolve directamente o Partido Popular, actualmente no poder. O juiz Garzón e seus advogados rejeitam em absoluto a acusação. As suas acções foram sempre apoiadas pela procuradoria anticorrupção e autorizadas por dois outros magistrados.

Trata-se assim de um verdadeiro “linchamento judicial”, promovido pelos meios mais retrógrados da sociedade espanhola contra o “juiz dos direitos humanos”, quando não mesmo, como alguns referem, uma vingança do Partido Popular, envolvido na rede de corrupção Gürtel, que o juiz Garzón desmantelou. 

Porém, a perseguição judicial ao denodado juiz ainda não terminou. Recai sobre ele um outro processo, movido pela extrema-direita, com o qual se pretende o seu afastamento das lides judiciais por um período de 20 anos. Qual a natureza do “crime”? Ter o juiz Baltazar Garzón assumido a competência para investigar os crimes do franquismo.

O veredicto está para breve num julgamento acompanhado pela opinião pública internacional, sendo conhecido que a ele vão assistir observadores da Comissão Internacional de Juristas, da Amnistia Internacional, da Fundação Edelstram, (que atribui o designado “prémio Nobel dos Direitos Humanos”) bem como a prestigiada “Human Righgts Watch”.

No decurso das audiências tem sido prestado testemunho de familiares das vítimas da repressão do fascismo espanhol, que contam a trágica experiência de terem visto pais, mães e irmãos e outros familiares, prisioneiros dos apoiantes de Franco, serem sumariamente fuzilados. A divisa dos energúmenos do fascismo era, aliás como bem se sabe, que “dos vermelhos não deve ficar nem rasto”. Conforme dados do próprio juiz Garzón, serão mais de 130 mil vítimas da repressão política do franquismo.

Os acusadores argumentam que o juiz Garzón ignorou deliberadamente a lei da amnistia de 1977, que arquivou os crimes do franquismo. Baltazar Garzón e seus advogados sustentam, legitimamente, que os crimes de genocídio e os atentados aos direitos humanos, perpetrados pelo franquismo nunca poderão prescrever.

Sobre o escândalo deste julgamento o jornal norte-americano The New York Times" escreveu em editorial que se trata de “eco perturbador do pensamento totalitário da era de Franco”. E seus amigos consideram que o juiz Baltazar Garzón “é um homem que atrai a admiração e ódio das elites”.

Assim vai a Justiça neste Mundo! Os direitos do Homem no pelourinho e os verdugos como acusadores sem mácula...

Eis, enfim, a Caixa de Pandora escancarada...
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sábado, fevereiro 11, 2012

"Não à exploração, às desigualdades e ao
 empobrecimento.

Outra política é possível e necessária..."

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

PARABÉNS BRASIL!...


Leiam e digam-me se uma lei destas, não será histórica seja em que País for?

A Lei da “Ficha Limpa” foi promulgada e aprovada rapidamente. Porquê? O povo exigiu e a Presidente assim o quis...

Lei de Reforma do Congresso de 2011

“1. O congressista será assalariado somente durante o mandato. E não terá aposentadoria proveniente somente pelo mandato.

2. O Congresso contribui para o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Todo o fundo (passado, presente e futuro) atual no fundo de aposentadoria do Congresso passará para o regime do INSS imediatamente. O Congresso participa dos benefícios dentro do regime do INSS exatamente como todos outros brasileiros. O fundo de aposentadoria não pode ser usado para qualquer outra finalidade.

3. O Congresso deve pagar para seu plano de aposentadoria, assim como todos os brasileiros.

4. Congresso deixa de votar seu próprio aumento de salário.

5. Congresso perde seu seguro atual de saúde e participa do mesmo sistema de saúde como o povo brasileiro.

6. Congresso deve igualmente cumprir todas as leis que impõem o povo brasileiro.

7. Servir no Congresso é uma honra, não uma carreira. Parlamentares devem servir os seus termos (não mais de 2) depois ir para casa e procurar emprego. Ex-congressista não pode ser um lobista”.



segunda-feira, fevereiro 06, 2012

A CAIXA DE PANDORA...



Foi notícia nos jornais e nas televisões. Os órgãos da comunicação social ignoram-lhe, porém, o nome. Reduziram-no, assim, mesmo quando erguido em piedoso escândalo, à sua condição de “descartável”. A notoriedade que, momentaneamente, apazigou as “boas consciências” remeteu-o para a sua condição de marginal, coisa nenhuma na sua (in)dignidade, zero à esquerda nas estatísticas do consumo.

Um “sem-abrigo”, portanto…

A sua insignificância, no entanto, fez mover o Estado e o seu aparelho da Justiça. Não por ele e sua dignidade de pessoa humana. Não para celebrar o primeiro e fundamental direito “adquirido”, desde os velhos cânones romanos, que é o direito ao nome, em que cada um se reconhece e que nos eleva à qualidade de cidadãos.

Nem, muito menos, para garantir o fundamental direito à habitação, que gerações sucessivas de lutas e combates políticos inscreveram, como direito adquirido, na ordem jurídica das sociedades modernas.    

João Luís Mateus Sarzedo é “sem-abrigo”. Sem direito ao nome, nem direito a habitação. Mas foi julgado e condenado, em sentença judicial por um crime nefando: em 11 de Fevereiro de 2010 tentou “apropriar-se” (antes de ser “direito adquirido”, não será a “propriedade um roubo”, como dizia Proudhon) num supermercado Pingo Doce de um polvo congelado, ou parte dele, e uma embalagem de champô.

O perigoso delinquente não passou, porém, a malha da segurança e os artigos em causa foram recuperados no local por prestimoso funcionário. Dizem as notícias, que fora o crime consumado e o dano não ultrapassaria a módica quantia de € 25,66 euros. Mas o Estado e toda a parafernália da Justiça mobilizaram-se em sentença exemplar e o arguido é condenado à revelia em 50 dias de multa, equivalente a € 250 euros, isto é, cerca de dez vezes mais que o preço do polvo e do champô…

Para glória profissional da douta juíza que considerou não serem os produtos em causa necessários para “satisfazerem uma necessidade essencial” e para conforto do “patriótico” do merceeiro mor do reino, que não brinca em serviço e não quer “dar sinais errados à sociedade...”. Mais a mais, como bem sabem, “o que é bom para Jerónimo Martins é bom para… a Holanda”...

Pode, a partir de agora, a sociedade portuguesa ficar tranquila. A vergonhosa participação crime e a zelosa sentença são penhor seguro. O “direito adquirido” a segurança individual e colectiva é plenamente assegurado na “exemplar” sentença...

Descansem, pois, cidadãos de meu País doente...

E o senhor Presidente do Supremo Tribunal de Justiça bem pode esgrimir argumentos e, sabiamente, sustentar que o ataque político contra os direitos adquiridos é “abrir a Caixa de Pandora”...

Enquanto o direito de propriedade prevalecer sobre os restantes direitos a Caixa de Pandora estará despudoradamente aberta, exalando seu fétido odor...









 

sexta-feira, fevereiro 03, 2012

QUER O POETA POEMA...


Quer o poeta poema distendido
Saltitante melro de galho em galho
Em seu canto enamorado…

Ou amáveis pombas afagando a asa
A debicar o sol de inverno…

Ou carmesins lábios mordiscando o bago
De promessas primevas…

Quer o poeta mas os olhos são água
E a palavra apenas ferve na escuridão da sarça
Impotente em seu clamor de claridade…
…………………………………….
Ó deuses,
Funestos dias de hoje
Em que os poemas colapsam

E os milhafres sobrevoam a cidade
Assombrando o coração dos homens!...


Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...