terça-feira, março 20, 2012

ERA UM TEMPO SEM TEMPO...

Era um tempo sem tempo, como se a garganta
Fosse o grito em profusão de mil ecos
Na serenidade do vale...

Ou o pássaro milenar em vertigem do voo.

Os insectos sorviam o néctar e as azedas
As línguas crespadas na acidez da ceia
Que a lonjura retardava – o caminho era ainda
Não regresso...

Antes ainda passo alongado em cadência breve
De sol macio.

As giestas fervilhavam em zumbido amarelo
A que a brisa dava asas e se infiltrava
E descia sob os fios dourados de meus olhos
Como inesperado manto em régios ombros...

Grinaldas de açucenas que o açude toldava
Na distância de colhê-las. Apenas o olhar as desenhava
Imperecíveis na memória de meus dias.

E a água. E a cantata. E o sobressalto dos sonhos
Como inquietos potros. Míticos.

E o esplendor de mirtilos. E a festa dos sentidos
Em explosão de Primavera.

Sem retorno Mãe tua mão em meus cabelos...    


14 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Talvez a Primavera guardasse estas palavras para ti
por saber que as usarias a preceito

Quando ela amanhã aparecer
fica a dúvida se será
para te agradecer

Maria disse...

Tão bonito!!!!
Tinhas a Primavera dentro de ti e escreveste-a!

Beijos e beijos

jorge esteves disse...

Um agradável e bem-soante renque de palavras em oferenda à Primavera. Não saberia recebê-la melhor!...

abraço,
jorge

lis disse...

Oi heretico
Vim te ver e encontro uma explosão de caracteres poéticos ,brindando a mais sedutora das estações - a dona Primavera!rs
Haverá alguma relação entre o que Galileu disse a tempos e tempos atrás?
“O livro da filosofia é o livro da natureza, aparece aberto constantemente diante dos nossos olhos, poucos sabem decifrar e ler, porque ele está escrito com sinais que diferem daqueles do nosso alfabeto ..."
Soubestes ler a natureza , entendi e absorvi.
Mando um pouco dos meus dias outonais pra ti e fico com essa braçada de giestas amarelas, açucenas,azedas e mirtilos plantadas no coração.
bons dias e um beijo.

lino disse...

Belíssimo poema!
Abraço

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

a primavera aliado à imagem da mãe.

gostei tanto!

um beij

Virgínia do Carmo disse...

Haverá sempre, para cada um de nós, um tempo que nos é desconcerto. Ainda bem que a poesia existe para vestir a saudade.

[E tão belo é este poema.]

Obrigada.

Um abraço

Mar Arável disse...

Sou de todas as estações
apeadeiros onde passam
as diferenças
mas confesso
a mãe primavera
é uma flor
que afago nos meus relâmpagos

Belíssimo
Um dia vou tentar ainda mais
convencer-te a publicar
Abraço

Anónimo disse...

Seu poema é uma festa para os sentidos.Belíssimo!


Beijinho.

Licínia Quitério disse...

É um poema duma ternura imensa. De um tempo sem tempo, como dizes. Obrigada.

jrd disse...

Ainda a tempo de gostar e de deixar sinal.
Mais um belo poema.

Abraço

anita sereno disse...

ola boa tarde
transpusestes palavras,
de cor e magia e de alegria ,
fostes digitando poemas
que na tua alma guardastes
com muita alegria
a tão esperada primavera
beijinhos boa semana

Anónimo disse...

Esta cantata de adulto-na-infância fez-me mesmo chorar. Adivinharás porquê. Não há retorno para as mães e mãos sem vida, há o que soubermos transmitir aos filhos, delas, de nós.
Abraços meus
bettips

Mel de Carvalho disse...

uma lírica que engrandece a alma.
grata pela partilha, uma Santa Páscoa

fraterno abraço
Mel

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