sábado, março 10, 2012

LAVA EM QUE ME EXTINGO...

 
Hoje a várzea e sobre o rio o festivo freixo e sua sombra
E o cantar do melro no amarelo doirado do sol em fim de dia
E a pedra no inamovível tempo em que me sento...

Nem sequer a melancólica aragem, nem o restolhar da memória
Como insecto em flor. Nem o mel silvestre da infância.
Nem o vime. Nem a aurora do sonho.
Nem o cântico nas igrejas...

Apenas o alvoroço tardio.
E a absurda pedra no caminho
Como trono.

E meus dedos desfiando contas.
E o mistério inaudito das palavras.
E o perfume da dor em cada ausência...

Fenecem grinaldas. Que as cores são apenas nevoeiro
Dos sentidos.

Agora o vinho é espessura em bocas de desejo
E o corpo é porto.
Ardendo.

Como lava em que me extingo...


15 comentários:

Gisa disse...

Lindos versos.
Gosto e fico.
Um grande bj

folha seca disse...

Caro Heretico
Um poema depois de completo não deve ser "mexido".
Gostei!
Abraço
Rodrigo

jrd disse...

Um poema telúrico, belíssimo.
Abraços

Maria disse...

tão belo!!!

beijos.

Licínia Quitério disse...

À flor da pele. À flor da Terra. Muito belo poema.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

memórias que ficam, e assim se faz poema.

muito belo!

uma boa semana.

um beij

luis lourenço disse...

ou o fogo poético em que te acendes.

abraços, meu caro.

Véu de Maya

lino disse...

Um belo poema!
Abraço

Mel de Carvalho disse...

como se comenta um poema deste calibre?

bem-haja, pois, pela enorme generosidade da partilha.

Fraterno abraço
Mel

Anónimo disse...

que bom tê-lo reencontrado:)

Mar Arável disse...

... entretanto

lá nos encontrámos
e às gralhas
o mar ao pé dos olhos
a falar de cães
videiras e canto de pássaros
memórias e ventos
conhecidos

Abraço

Peter disse...

Belíssimo poema, tão ao meu gosto, sem aquelas lamechices e "rodriguinhos" que se veem por aí.

PS. - Tenho tido problemas com o blog, só ontem os consegui resolver, por isso vou voltar a aparecer por aí.

Nilson Barcelli disse...

Excelente poema. Preciso, rigoroso e excepcionalmente bem feito.
Abraço, caro amigo.

AC disse...

Gostei desse alvoroçar tecido em memórias a flutuar no olhar circundante.
Gostei, gostei mesmo muito.

Abraço

lis disse...

Essa é a melhor maneira de conhecer alguém distante, lendo seu "mistério inaudito das palavras" em versos lindamente construídos.
Amei heretico , como sempre amo os seu poemas e copio todos rs pra guardar mais perto de mim.
um bom abraço

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