terça-feira, março 27, 2012

Porta a porta, caminheiro...


Talvez neste horizonte breve o fio de água
Despenhando-se na memória. Como esta fraga.
Ave planando sobre a presa e o repentino som
Da pedra. Granito ardendo no íntimo silêncio.
Como pomos de fogo calcinados de azul...

Debruço-me. Talvez a água agora seja apenas
Mãos no gesto de bebê-la. E a ave esta rapina.
Nem voo, nem pássaro sagaz. Ausência ainda.
Pura. Gavião e pomba desenhados no corpo
Do desejo. E meus olhos bêbedos de lonjura.

O vento que agora afasta a cinza é o mesmo
Embora. E a litania é eco no coro deslizante
De meus passos. Não a vereda palmilhada.
Nem as vestes. Ou o sangue seco dos espinhos.
Apenas rumor de fogo na palavra celebrada.

Descalço e de bordão como antigos monges
Colho a folha do carvalho. E enfeito os dias
Porta a porta, caminheiro. E no portal de mim
Me acolho exausto. E mordo e rasgo. E clamo:
- “Casa em que me guardo. Terra quanta veja”...




7 comentários:

folha seca disse...

Caro Heretico
Passar por aqui e não assinar o ponto, pode não ser muito "cordial" mas que acrecentar à sua bela poesia que não seja estragar.
Abraço
Rodrigo

lino disse...

Abraço forte!

Rogério G.V. Pereira disse...

Edita!

Anónimo disse...

Maravilhoso!

Beijinhos.

João Henrique disse...

um belo poema este teu "Porta a porta, caminheiro..." que me transporta para o "é preciso avisar todo a gente..."


Um abraço.

Nilson Barcelli disse...

Excelente.
Quanto talento em cada verso tu revelas...
Um abraço.
Nilson

jrd disse...

Exausto escancaras os (a)braços.
Que grande Poema!

Abraço

Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...