domingo, junho 17, 2012

"COMUNICAÇÃO SOCIAL E PODER " - Breves anotações à margem...



1 - A configuração do poder é multifacetada. Assume diversas máscaras numa encenação do Mesmo, quer dizer, da articulação dos interesses económicos dominantes, instância última onde reside o verdadeiro rosto (invisível) do Poder.

Primeira consequência: não há apenas um sistema formal de poder, mas uma multiplicidade de sistemas de poder, disseminados no interior da sociedade, muitos dos quais meros poderes fácticos, que dizer, sem qualquer estrutura (visível) que os suporte.

Segunda consequência: nenhum sistema de poder é, em si mesmo, autónomo e independente dos restantes: os diversos sistemas de poder desdobram-se uns nos outros, funcionando em rede, retroagindo nos respectivos chamamentos. Decorre, portanto, que o poder não é apenas o “lugar de poder” que se observe, se ocupe, máxime se conquiste, mas sobretudo uma “relação de poder” que se exerce e se sofre – não há poder, sem “exercício do poder”...

2 - O poder de Estado tem assumido o lugar por excelência do “exercício do poder”. Compreende-se. O Estado, nas sociedades politicamente organizadas, detém o monopólio da violência. É o único sistema de poder que se poderá impor pela força e pelo constrangimento físico. Quer dizer, o poder Estado é essencialmente coercivo...

Como é óbvio, a “domesticação” da violência através do poder de Estado representa um avanço histórico incalculável, hoje em dia; tal não significa, porém, que a violência não faça parte da sociedade e, em determinados contextos histórico-sociais, não possa ser ela própria “parteira” do devir social.

3 - Outros sistemas de poder actuam na sociedade, porém. Não pela coerção, mas pela persuasão; não pela imposição da lei e da ordem ou pela violência física se necessário, mas pelas artimanhas da ideologia. De forma mais subtil, portanto. E em imbricada cumplicidade com o poder de Estado. Como acontece com o poder mediático.

É na propagação de uma ideologia que o “poder mediático” se cumpre. Poder mediático que excede o papel dos órgãos da comunicação social e quadro do constitucional direito à informação, para envolver a indústria do entretenimento, as agências de comunicação, a publicidade, o marketing, o consumo, o sistema de moda, o desporto e tantos mais - uma vasta panóplia de meios, que encenam aquilo que alguns designam por “Sociedade do Espectáculo”.

4 - Os meios são diversos. O fito, porém, é sempre o mesmo – a neutralização do poder dos cidadãos, pela aceitação acrítica da ideologia. Então as diversas configurações do poder mediático, em apoteose de efeitos, proclamam a “inevitabilidade” da vida quotidiana, sem qualquer hipótese de remissão.

Seja pela angústia ou pelo medo. Seja pelo hedonismo do consumo e do lazer. Seja pelo culto do “parecer” (mais que o “ser”, ou mesmo o “ter”) o que importa na dita “Sociedade do Espectáculo” é isolar e atomizar o individuo, massifica-lo, desmembra-lo da sua condição de cidadão, inibi-lo na sua autonomia, frustrar a fecundidade da participação social e assim o submeter voluntariamente aos ditames da ideologia dominante e dos interesses económico-financeiros que serve e a justificam.

Como romper o cerco?


    



8 comentários:

AC disse...

Pois é, os diversos poderes estão tão enraizados que a grande questão é mesmo "como romper o cerco".
Não tenho respostas, mas este é um debate necessário.

Abraço

São disse...

Há uma maneira de romper o cerco: educação!

Uma semana boa.

jrd disse...

Anotações à margem que terão de passar a constituir anotações por dentro e para isso é necessário mudar o poder.

Abraço

O Puma disse...

Não basta ter razão
é preciso romper o cerco

desmontar o poder económico
mandante dos candidatos nas urnas
patrões da comunicação social
fazedores de pobres eleitores

Um dia será outro dia?
Será

lino disse...

Lá chegaremos!
Abraço

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

eu quero sopas e descanso...

lol

Nilson Barcelli disse...

Só um conjunto mais ou menos alargado de condições permitirá romper este cerco.
Já que as revoluções estão proibidas (por domesticação...).
Uma coisa é certa, o capital está actualmente (como nunca) no centro do poder e, em boa medida, manipula e explora completamente à vontade as pessoas, os governos, os países, etc., etc.
Excelente texto, caro amigo. Gostei muito.
Um abraço.

Carlos Ramos disse...

Amigo

Brilhante texto, o cerco rompe-se com uma coisa que se chama educação, não esta mistificação. Há um tempo atrás li um muitisimo interessante ensaio do Mário Perniola, como particular titulo "Contra a Comunicação", que desenvolve estas temáticas e que aconselho a todos vivamente.

Abraço

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