terça-feira, outubro 30, 2012
domingo, outubro 28, 2012
A Doce Ilusão da Saída do Euro...
Como se sabe, Portugal, depois de um período de transição e de “ajudas de pré-adesão” formalizou a entrada na então denominada CEE, em 12 de Junho de 1985. Em 1 de Janeiro de 1999, foram fixadas as taxas de conversão das diversas moedas e, em 1 de Janeiro de 2002, entraram em circulação nos países da Zona Euro as notas e moedas do euro.
Sabe-se que, entre nós, o processo de
adesão foi acompanhada de uma formidável operação ideológica, autêntico rolo
compressor sobre todos aqueles que pensavam de maneira diferente e sensatamente
chamavam atenção para os perigos de perda da soberania monetária.
Atrelar uma
economia débil e frágil às economias do centro da Europa, ao serviço das quais
a nova moeda – o euro – fora instituído seria a consumação da famosa metáfora
da “panela de ferro” e da “panela de barro” acorrentadas e lançadas nas
caudalosas águas de um rio.
Hoje, grande parte das nossas
dificuldades, decorrem dessa alienação da soberania e da impossibilidade de o
País criar moeda, como até os maiores fundamentalistas do euro são obrigados a
reconhecer.
Razão antes de tempo tem destas
ironias...
Assim, na lógica que decorre da crítica
ao processo de integração europeia, há que defenda que, face à conjuntura
actual e às dificuldades presentes, o País deveria abandonar zona euro.
Confesso a minha perplexidade. Foram de
uma meridiana clareza os argumentos económicos e políticos que se opunham ao
processo de adesão, que apenas a intensa “barragem ideológica” não permitiu que
fossem compreendidos.
Contudo, a saída do euro seria, na
actual conjuntura, um insensato tiro, não digo nos pés, mas certamente na
cabeça. Bastará recordar duas ou três evidências de bom senso.
Desde logo, porque desde 1985 até hoje,
muita água passou debaixo das pontes. A panela de barro está completamente
escaqueirada e não há maneira de lhe juntar os cacos. A indústria, agricultura
e as pescas foram literalmente siderados. De tal forma que hoje o País está
completamente dependente do exterior.
O País importa presentemente cerca de
4/5 da energia que necessita e não se vislumbra que, nos próximos tempos, como
resolver este problema. Por outro lado, importamos mais de 70% de produtos
alimentares.
As exportações portuguesas estão muito
afuniladas nos países da UE, (em 2010, ¾ das exportações teve esses destinos) cujas
economias se encontram em estagnação, pelo que não se alcança como as
exportações possam ser o motor decisivo do crescimento do País. Com ou sem
euro...
Acresce que o terceiro ano consecutivo
de recessão e de intervenção da tróica vão colocar a economia e o consumo
privado a níveis de 2005 e fazer o investimento recuar para valores de 20 anos atrás.
Não se alcança, pois, como o abandono do euro
e a desvalorização da moeda nacional poderão ser benéficos. Nenhum país
pode manter câmbios artificiais por muito tempo. Até eventuais benefícios a
curto prazo brevemente seriam neutralizados
pela concorrência de economias mais fortes, com custos de produção bem menores.
A defesa da saída do euro será, pois,
uma doce ilusão, ou amarga pulsão de desespero. Mas nem uma atitude, nem outra,
será boa conselheira.
Ao que se sabe, o próprio
primeiro-ministro quer a “refundação” (seja isso o que for) do memorando com a tróica.
É o reconhecimento implícito do desastre de tais políticas.
Há por isso que
prosseguir a luta e a mobilização cívica. Com renovada esperança, até à denúncia
do memorando e renegociação da dívida...
Ou seja, um novo governo que resgaste o País das políticas de submissão à tróica.
Ou seja, um novo governo que resgaste o País das políticas de submissão à tróica.
terça-feira, outubro 23, 2012
Petição pela rejeição do Orçamento de Estado de 2013
"É pela denúncia do Memorando e pela renegociação da dívida que passa qualquer verdadeira alternativa à proposta de OE para 2013. É nisto que consistem as razões do Congresso Democrática das Alternativas, expressas na Declaração aprovada em 5 de Outubro..." aqui.
sexta-feira, outubro 19, 2012
É NECESSÁRIO FENDER AS COISAS...
É necessário fender
as coisas para lhes captar
A rebeldia da
voz em que se incendeiam
E o enunciado
delas...
A palavra é uma
arqueologia de dias sobrepostos.
Fissuras por
onde escorre limalha quente
E o fulgor da
sarça.
Vento nocturno
talvez em devir de inocência.
Ardendo. Ou a
persistência do calcário gota a gota
Em sinfonia de
pedra.
Inorgânicas catedrais...
Ecos evanescentes que se enunciam. Rio subterrâneo
Em agitação e presságio. Ou talvez subtil ranger de luz
Abrindo-se ao milagre.
Que a palavra seja!...
E o grito das coisas seja colapso dos impérios.
E o poema expluda. E a palavra seja ígnea.
E o dia seja claro...
quarta-feira, outubro 17, 2012
segunda-feira, outubro 15, 2012
"QUERES FIADO? TOMA..."
O cardeal patriarca de Lisboa, de quando
em quando, despe-se de suas cardinalícias púrpuras e faz gala em descer ao
espaço público para molhar o dedo no caldeirão da política, desdenhando da
evengélica sentença de “de dar a Cesar o que
é de Cesar e a Deus o que é de Deus”.
Compreende-se a beatífica pulsão de Sua
Eminência. A igreja de Roma, ao longo dos tempos, sempre foi muito zelosa de
seus privilégios e o território da política sempre lhe foi ardente apelo e
frutuosa colheita. Pode dizer-se, sem receio de errar, que as vantagens da
política para a igreja romana, católica e apostólica, tanto lhe têm servido de
petisco, como de fausto.
Claro que os tempos são de austeridade,
hoje em dia. Entre nós, a igreja de Roma vai recolhendo, nas águas do
assistencialismo, erguido como política de Estado, as benesses que o poder
dominante lhe vai distribuindo.
As Misericórdias e as IPSS, alimentadas pelos
dinheiros públicos, bem merecem, não direi uma missa em louvor de Passos
Coelho, mas uma piedosa cerimónia de exorcismo sobre as enormes manifestações
da população portuguesa que, em diversos registos e expressões sociológicas, se
ergue contra a tróica e as políticas de desastre nacional.
Em seu zelo apostólico, o patriarca de Lisboa
puxou do hissope e, aspergindo água benta, considera que os problemas do País
não se resolvem “contestando e indo a
grandes manifestações” ou sequer, fazendo uma “revolução” – credo,
abrenuncio!
Não nos diz Sua Eminência como se resolvem os problemas do
País, que para tal se considera incompetente, mas sempre vai deixando cair,
melífico, que “há sinais” de que os
sacrifícios dos portugueses “levarão a
resultados positivos”...
“Fustiguem-se
em austeridade, que o reino dos Céus está próximo!...” - assim parece
clamar o patriarca de Lisboa, qual beatífico ventríloquo do senhor
Victor Gaspar e do senhor Passos Coelho.
É “comer e calar”, portanto. E quem sabe
se para Sua Eminência os males do País não se curarão com uns “safanões a tempo” que acabem de vez com
esse despropósito do povo a manifestar-se nas ruas e praças do País...
E assim que
tais safanões não permitam, está bem de ver, quaisquer veleidades de “revolução”.
A igreja contra manifestações populares,
na douta palavra de Sua Eminência? Que ideia! Isso são invenções de espíritos
heréticos e malévolos, quiçá de verdadeiros pedreiros-livres,
(ou retintos comunistas) que infestam a sociedade.
Pelo contrário. Como os portugueses bem
sabem, a igreja de Roma, católica e apostólica, não apenas apoia, como promove
e estimula grandes concentrações de massas humanas – desde que se verguem ao
seu poder e alienadamente se arrastem de joelhos nos lajedos de Fátima...
E obedientes, como Deus manda, ajudem em
silêncio os pobrezinhos, tão necessários eles são para a salvação de devotas almas
e para engordar cada vez mais os ricos...
Assim vamos, por cá, na nossa santa
terrinha. Confesso-vos a minha amargura, que a
impenitente ironia não disfarça.
Só mesmo o eloquente gesto de Bordalo me
apazigua...
quarta-feira, outubro 10, 2012
domingo, outubro 07, 2012
SALVAR O FUTURO...
Arredado há anos dos espaços públicos de discussão política, propus-me participar no Congresso Democrático das Alternativas, que no dia 5 Outubro p.p., se realizou na Reitoria da Universidade Clássica de Lisboa.
A ideia de procurar alternativas a
situação dramática do País - cujas causas remotas não vêm ao caso, mas que, na
actualidade, têm expressão maior nas políticas da tróica e de seus apóstolos -
é de tal forma urgente que não se compadece com hesitações, nem muito menos,
com desistências ou conformismos.
Dou por bem empregue o dia. Não faltam
motivos. De facto, é assinalável que depois grandes manifestações, de 15 e 29
de Setembro, que juntaram centenas de milhares de portugueses verberando a
tróica e reclamando as suas vidas, mais de dois milhares de pessoas se tenham
reunido, depois de amplo debate com a sociedade, para aprovar um documento que
sintetiza uma verdadeira plataforma de esquerda - base política necessária para
encontrar o caminho patriótico, que salve o País do desastre iminente.
O acontecimento revela, desde logo, que
a intectualidade de esquerda, depois de longa e profunda anestesia, parece
estar a acordar do torpor. Veremos. Ainda é cedo para juízos definitivos. Mas a
circunstância do Congresso ter decorrido sem protagonismos pessoais e vaidades
bacocas é disso bom sinal.
Uma segunda nota a assinalar é a de que
a Declaração aprovada, por larguíssima maioria, preconiza, sem margem para
dúvidas, a denúncia do protocolo com a tróica, com todas consequências que tal
decisão acarreta, designadamente, a negociação da dívida do país em novas bases
de prazos de amortização e de juros. E, se a previsível chantagem dos credores
for insuportável, a declaração unilateral de uma moratória no respectivo
pagamento da dívida.
Na perspectiva do documento, o país deve
honrar seus compromissos. Mas a “honra” de um País, como foi dito no Congresso, não reside em claudicar,
perante as exigências externas, mas em recusar cláusulas e acordos leoninos,
que bloqueiam o desenvolvimento. Os acordos internacionais livremente firmados devem
ser cumpridos, sem dúvida; mas deverá ser tida em conta a alteração das
circunstâncias sociais e políticas, que determinam tais contractos.
Antes do direito está a moral e a
justiça. E se é verdade que o Estado português tem obrigações internacionais a
cumprir, o seu vínculo maior deve ser com a permanência da Pátria e o bem-estar
do seu povo.
Uma última nota para acentuar, que a
Declaração final, aprovada no Congresso Democrático das Alternativas deve ser
conhecida, lida e discutida pelos cidadãos, dentro e fora dos partidos
políticos.
O movimento cívico que lhe está na origem afastou, no congresso,
quaisquer veleidades eleitorais ou de se transformar em partido
político. Ficou claro que a única ambição
explícita do movimento é a de, nesta emergência social e política, contribuir
para construir alternativas sólidas ao desastre para que o fundamentalismo
neoliberal empurra o país.
Tarefa urgente e necessária que os cidadãos
devem tomar em suas mãos, exigindo que as forças políticas à esquerda do
espectro político convirjam na luta e na acção política e procurem, no meio de
todas as dificuldades presentes, construir de novo a esperança para a sociedade
portuguesa.
A partir de agora deixou de haver
alibis. É tempo de sarar feridas e desfazer mal-entendidos. E na pluralidade de
ideias e na autonomia de cada força política, sem hegemonismos deslocados, nem transigência
com as políticas de direita, é urgente saber encontrar alternativa política de
esquerda para o governo do País.
E assim salvar o Futuro...
Manuel Veiga
quinta-feira, outubro 04, 2012
CONGRESSO DEMOCRÁTICO DAS ALTERNATIVAS
O Congresso Democrático das Alternativas decorrerá no dia 5 de Outubro, na Aula Magna da Universidade de Lisboa (metro: Cidade Universitária).
Site do Congresso:
Site do Congresso:
A FRANÇA A CAMINHO DA ITÁLIA?
Como em Itália, a competitividade de
França tem sido prejudicada pela criação do euro. Os dois países pesam na economia
europeia, mantendo, como se sabe, o terceiro e o segundo lugar,
respectivamente, no conjunto dos países da União Europeia. No entanto, os ditos
mercados financeiros estão sobejamente preocupados com o enorme buraco
financeiro da Itália. A queda da França seria fatal para o euro.
A produção industrial faz caretas,
em ambos os lados dos Alpes. Este índice é o mais baixo desde Abril de
2009, decorrente da forte queda de encomendas. E a deterioração da actividade
económica que está a provocar a fortes cortes no emprego. O volume de trabalho
diminui e os empresários franceses continuaram, em Setembro a reduzir empregos.
Trata-se do declínio de emprego pelo sétimo mês consecutivo e a taxa de desemprego
continua a aumentar em relação ao mês de Agosto.
Entretanto, o governo francês anunciou,
na semana passada, que o número de desempregados superou 3 milhões.
Em Itália, o índice de produção
industrial caiu pelo décimo quarto mês consecutivo. Segundo a Reuters, “a produção industrial italiana é agora 25%
menor do que era há cinco anos atrás, antes da crise financeira e da crise da
dívida na zona do euro”.
Em ambos os países, o sector automóvel,
o motor da produção industrial está seriamente gripado. O Governo italiano revê
sucessivamente em baixa as suas previsões de crescimento. A recessão deve
chegar a 2,4% este ano (contra 1,2% previsto em Abril), e -0,2% em 2013 (contra
0,5% na estimativa inicial).
Quanto à França, é provável que a melhor previsão
seja zero de crescimento para este e o próximo ano.
Ambos os países estão afogar-se em
dívida.
A dívida soberana da França atingiu 89%
do PIB; e a dívida soberana da Itália atingiu 123% do PIB. A França e a Itália,
são centro do furacão e o coração do problema: sem crescimento económico
suficiente não é possível manter a dívida sob controlo.
Sem crescimento económico, a dívida em
ambos os lados dos Alpes vai continuar a crescer. Como cresce deste lado dos Pirenéus...
É tempo destes países dizerem “basta”. Será
que o conseguem, dominando as pulsões neoliberais e o zelo de seus apóstolos?
quarta-feira, outubro 03, 2012
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