domingo, abril 28, 2013

CARTAS DE AMOR SÃO RIDÍCULAS?

 
 
"Cartas de amor" - Fernando Pessoa - Ed. Ática
 
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Cartas de amor são rídiculas? Quem diria?
Rídiculos, rídiculos são os sujeitos da actual saga epistolar
da vida política portuguesa!...
 
Por quem nos tomam?...
 

quinta-feira, abril 25, 2013

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA 21


Havia em Babilónia uma Festa, vinda dos confins da Esperança. Em que se celebrava a Liberdade... A Paz... O Pão... A Habitação...
E em que os babilónicos preenchiam os corações com cânticos, gritando “o Povo é quem mais ordena...”

Hammurabi, o legislador, mal tolerava a Festa. Mas todos os anos lhe rendia homenagens. E lhe abria até os jardins do Palácio...

Desta vez, caiu-lhe a máscara – decreta o sentido único em Babilónia. E fecha com estrondo os portões...
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Entretanto, um velho andrajoso - embriagado pela jornada da tarde! – desabafa com seus botões: “... e, no entanto, o Povo é quem mais ordena!”

 

quarta-feira, abril 24, 2013

terça-feira, abril 23, 2013

E NO ENTANTO ESTE POVO!...


Não mais Pirâmides suspensas
Apenas esfinges corroídas...

Areias do deserto
Vento suão
Em cada sopro...

Não mais Nilos...

Quem de Helena, tróias?!
Quem tece o rosto de Penélope
Em meus dedos?

Que romanos, que glórias?
Que Cervantes? Que mistérios?
Que Machados? Que Castelas?

Que sedes de mil anos?
 
Correntes de água pura
Neruda índios neves de montanhas
Meu sangue ardendo no gelo das estepes
Camões de luto jangadas capelas imperfeitas

Pessoa no proscénio...
 
Não mais heróis
Não mais ilhas...
Míticas profecias!...

Que Vieiras?

E no entanto este Povo
Este olhar que queima em cada gesto...

E este fado...

sábado, abril 20, 2013

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA 20

 
Em coreografia do Mesmo, Hammurabi, o legislador, ensaia nova performance. Exibe o outro lado da máscara. E anuncia uma nova era – de diálogo e de consenso!
A praça excita-se. E a balbúrdia aumenta...
Uns afirmam que nos céus de Babilónia amadurece uma nova estrela. Outros que uma lufada de ar fresco percorre a face dos babilónicos. Famintos e sem barro...
Outros, ainda, que o barco se afunda. E Hammurabi, o legislador, está cada vez mais isolado...
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Um velho poeta, sábio e semilouco, exclama profético, antecipando os tempos: “É necessário que alguma coisa mude, para que tudo fique na mesma...”
 

terça-feira, abril 16, 2013

"CHÃO DE CLARIDADES"



 
O meu amigo Eufrázio Filipe concedeu-me o privilégio de escrever o preâmbulo do seu mais recente livro de poesia “CHÃO DE CLARIDADES”,  o que muito me honra.
 
Estarei também presente na cerimónia de lançamento, que se realiza no próximo dia 19, Sexta-Feira, pelas 18 horas, no Forum Cultural do Seixal.

Até lá...

(...) ”Na verdade, a poesia de Eufrázio Filipe, fundada embora no terreno concreto da vida, por onde perpassam inquietações e dúvidas, é, digamos assim, estrelar. Como se o pequeno grão de areia que o autor obsessivamente persegue em vários dos seus poemas, de tão denso, explodisse.
E o clarão germinal polvilhasse o seu universo poético de uma profusão de metáforas e alegorias, onde se encandeiam linhas, ritmos e pulsões que dão corpo ao devir do poema, na (a)ventura da forma definitiva – sempre incompleta, como em toda a obra humana!...”

Manuel Veiga

segunda-feira, abril 15, 2013

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA 19



Havia em Babilónia uma prima-dona. Príncipe da intriga e da balbúrdia...
 
Por cegueira dos homens e favor dos deuses, foram-lhe concedidas as relações do reino com os restantes Povos.

Dizem (os maldizentes) que deseja mais poder. E que, mirando-se ao espelho, afronta, em público, Hammurabi, o legislador...


A praça baba-se de gozo. E a balbúrdia prossegue...

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Os babilónios aguentam, aguentam... A falta de pão. E o barco encalhado...

 

sábado, abril 13, 2013

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA 18


Havia em Babilónia um Conselho de Sábios. Que cumpria com preclara perícia sua nobre função - vigiava para que a chuva viesse de acordo com o tempo e a Lua comandasse as marés...
 
Enfim, a ordem natural das coisas...

Hammurabi, o legislador, não lhe perdoa a ciência. Nem a independência – responsabiliza o Conselho pelo barco encalhado...

Os babilónicos, sem barro para amassar, murmuram, à socapa. E a balbúrdia continua na praça...

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Um velho poeta, sábio e semilouco, exclama: “o poder não quer a linguagem da verdade, mas a metalinguagem da aparência...”

 

 

sexta-feira, abril 12, 2013

NEM CÂNTICOS, NEM GLÓRIAS...



Nem cânticos, nem glórias, que favores
Não tenho guardado em meus gestos...

Sou o rio ou aqueles montes desertos
Que de longe atraiem, mas que de perto
Pedras rolantes apenas cuidando o sopro...

E nessa miragem me despenho. Inteiro.
Que de mim apenas o voo a que me afoito
Sem asas de falcão. Nem alvos de permeio.

Mas fervoroso nos dados em que me jogo...

Sou nada ou o infinito – queiram ou não.
De resto – é como digo - que mais m´ importa?
De pés descalços e olhar altivo me visito
Nas rosas que colho e nos frutos que semeio...

Amores e desamores. E peito aberto!...

 

 

terça-feira, abril 09, 2013

NOTICIAS DE BABILÓNIA 17


Em Babilónia continua a balbúrdia na praça. E o barco encalhado...

Sabe-se que o administrador da cidade – supina decisão! - pretende esvaziar o rio para safar o barco. E a onça...

Como o apoio – e o enlevo – de Hammurabi, o legislador, que muitos dizem ser um eunuco...político.
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Os babilónicos aguentam... aguentam... A falta de pão – e agora a falta de água para amassar o barro!...



segunda-feira, abril 08, 2013

3º CONGRESSO DA OPOSIÇÃO DEMOCRÁTICA - Aveiro - 4/8 de Abril 1973



 
O estertor do regime do Estado Novo
 
 
 

“A sociedade portuguesa caracteriza-se por uma extrema e duríssima dominação de classe. É o domínio dos banqueiros, dos capitães de indústria, dos latifundiários, dos grandes da especulação, da alta burocracia (política, administrativa, militar, económica, clerical), do mandarinato de formação universitária – sobre os operários, os assalariados rurais, os empregados, a maioria dos intelectuais, os estudantes e, também e cada vez mais, os pequenos comerciantes, os pequenos proprietários rurais.

Vive-se uma dominação de tal modo deprimente que parte considerável da população activa retirou para o estrangeiro.

Traduz-se essa dominação no contraste entre a magreza dos salários e o esplendor dos lucros; na escandalosa repartição dos rendimentos, que reserva aos trabalhadores uma paupérrima fatia e guarda para o patronato a parte de leão; na violenta repressão das classes trabalhadoras a todos os níveis; na galopante inflação, particularmente notória no que respeita às necessidades mais elementares.

Em forte concentração do poder económico em poucas mãos enquanto a esmagadora maioria do povo se encontra espoliado da posse dos meios de produção; no sistema fiscal, ajustado aos grandes interesses; na ineficiência e no custo da segurança social; na degradação dos hospitais e serviços de saúde; na penúria alimentar...
(...)
Na dureza das condições de trabalho; na compressão do sindicalismo e denegação do direito a greve, mesmo como simples meio de negociação do salário; no analfabetismo literal ou real; na severa estratificação que barra o acesso à cultura; no obscurantismo imposto desde a escola à informação.”

(Das Conclusões)

sábado, abril 06, 2013

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA 16


Havia em Babilónia um barco, outrora engalanado...

Por inépcia dos timoneiros e incúria dos homens, o barco ficou encalhado. E mete água – a bombordo e a estibordo...

Grande alarido na praça pública – “que todos devem remar para o mesmo lado”, gritam alguns.

Outros, porém, proclamam que apenas com um reboque estrangeiro o barco se salva...

Há até quem defenda – suprema heresia – que Hammurabi, o legislador, deve ser apeado...

... E as crianças, quais formiguinhas, brincando ao pé-coxinho: “mudem de rumo, mudem de rumo...”

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Um velho poeta, sábio e semilouco, de mão estendida à caridade, antecipando o grito: - “Spartacus, precisa-se!...”

 

quarta-feira, abril 03, 2013

EXPIAÇÃO DE POETA...


Na rebentação da Palavra
Na inesperada claridade onde os lábios fremem
As bocas ardem
E os corações se agitam...
 
No festivo palco de todas as revoluções
E no vermelho mais alto das bandeiras...
 
No sangue de nossos mártires
E no culto venerando dos heróis...
 
Na epifania dos dias futuros
Que as entranhas do presente e o coração das trevas
Anunciam...
 
Na amargura de uma Primavera tardia...

Acolho o grito sufocado do Mundo
E a dor das mães

E todas as margens sem rumo...
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Expiação de poeta ou água
Ou sémen em alvoroço
Fecundo...

 

Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...