terça-feira, julho 30, 2013

A MEUS HERÓIS! - No Centenário de Álvaro Cunhal


Estamos aqui - no centro!
Que as margens são mera circunstância...

E tu não foste apenas desfiladeiro
Ou passagem secreta das cavalgadas da história...

No olhar da águia o abismo é alimento e a vertigem voo...

Gesto de cristal puro onde mora o brilho solar dos dias
Que os homens inscrevem talvez sem o saberem
Como meta no quotidiano de cinza...

Dizem-te derrotado no licor dos elogios
Como se tu fosses teu tempo apenas
Mal sabendo eles que a tua força não tem destino à vista...

E lá onde o coração bate e o fogo se atiça
Como forja do tempo onde a palavra se faz arma
(E a lágrima poema) aí onde ombro com ombro
O suor das sementeiras e os cânticos se misturam
Se desenha teu rosto na pedra esculpida...

E outros homens e mulheres para além de ti
Gigantes de teu exemplo darão vida à tua luta...


Manuel Veiga

 

sábado, julho 27, 2013

PALAVRAS OUTRAS...

 
 

José Pacheco Pereira 
 "Os Amanhãs que Cantam" - in Público 27.07.13 
 
 
Foto - Público
 

quarta-feira, julho 24, 2013

NADA ESTÁ ESCRITO !...


Na fogueira dos dias ardidos em que a cidade desmaia
Anuncia-se incerta uma luminosidade vespertina -
Destino sem rosto bem definido ainda...

Subtis prenúncios se levantam na combustão das palavras
Esventradas e nos latidos de cinza sobrevoando 
A noite como meteoritos de uma galáxia
Entretanto extinta...

O espectáculo porventura reluz e predomina
Numa embriaguez que os sentidos recolhem
Como lantejoulas de enganos no vazio exaurido
De títeres sem rosto quais vampiros de um insaciável
Sangue que lhes turba a voz e lhes empalidece a fronte... 

Nada porém está escrito que os homens não possam.
Nem as entranhas das aves são labirinto de secretas.
Fórmulas que apenas alguns decifram...

Nem o poder. Nem o tempo...

O dia e a noite seguem seu ritmo.
E respiramos. E no alvoroço das palavras reinventadas
Ateamos o fogo solar e o fulgor dos dias claros...

Nada está escrito!...

 

segunda-feira, julho 22, 2013

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA XXXV


Depois da empolgante viagem ao “Império das Cagarras”, Hammurabi, o moderador, regressou ao Palácio...

 E proclamou a “Grande Solução” para salvar o barco: - “Babilónicos, aguentem!...”

 E, inflamado, contorcendo-se em esgares: - “Quem disse ser necessário que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma?”...

E, imperial: “Pois eu declaro ser necessário que permaneça o mesmo, para que nada mude!...”
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E o velho Bordallo, saindo dos escombros: “Depois das cagarras, caganitas!... – babilónicos, façam-lhe um monumental manguito!”



 

 

sábado, julho 20, 2013

NOTICIAS DE BABILÓNIA XXXIV


Com o barco afundado e a barafunda instalada, Hammurabi, o moderador, trepou às ilhas Desertas. Anunciando-se profeta...

Sem povo que o siga (ou peixes que o escutem), surpreendeu os babilónicos a pregar às cagarras – “que poderia domar os tempos e converter incréus – não foram os pedregulhos que com que se depara!...”
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E um velho sábio de muitas vidas, um pouco cáustico: “Hammurabi é um farsante!... Unam-se babilónios e lutem! Este calhau com olhos é a nossa vergonha e a nossa desgraça!...”

 

domingo, julho 14, 2013

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA XXXIII


Existe em Babilónia um timoneiro – de um barco afundado, que alguns dizem ser um barco fantasma. Outros a nave dos loucos...
 
No desassossego dos dias, os babilónicos, como zombies, vegetam. Muitos, porém, protestam. E resistem...
 
Hammurabi, o moderador-timoneiro, frente ao espelho, em pijama de riscas, estende o braço: “Salvé, César!...”
 
Patético! Falta-lhe o sabre!...” – murmura um velho marinheiro de corpo marcado -“Babilónicos, não temam: afoitem-se ao mar!...”

quarta-feira, julho 10, 2013

O milagre de S. Clemente?

 
Como se sabe, no decurso da História, muitos foram os momentos em que a Igreja de Roma se cruzou com os destinos de Portugal.
 
Desde logo, no acto fundador da nacionalidade. Afonso Henriques assumiu o Reino de Portugal em 1128, mas apenas decorridos 15 anos, em 1143, através da assinatura do Tratado de Zamora, é reconhecida a nossa independência por parte de Afonso VII, rei de Leão.
 
Foi determinante, no contexto histórico, o primado espiritual e temporal que o Papa exercia na Idade Média, suserano de todos os reinos europeus. Afonso Henriques ofereceu o Reino de Portugal à Igreja de Roma, declarou-se vassalo do Papa e prometeu um pagamento em ouro, ad aeternum, de um tributo feudal.
 
Não, por certo, sem que antes tenham sido regateadas algumas cláusulas, pois que apenas em 1179, o Papa Alexandre III, aceita definitivamente D. Afonso Henriques como rei de Portugal e reconhece a independência de reino.
 
Sem mais retorno nos vínculos estabelecidos. Por exemplo, na sequência da restauração da independência, em 1640, D. João IV, num gesto submissão à igreja, colocou a coroa régia na imagem da Virgem Maria. A partir de tal gesto, nunca mais nenhum Rei de Portugal usou coroa. Em contrapartida, a igreja Católica, deliberou que o dia 8 de Dezembro fosse feriado religioso, dedicado á Imaculada Conceição, entretanto, proclamada Rainha de Portugal.
 
Permito-me evocar estes longínquos acontecimentos, porque episódios recentes fazem acreditar que, ainda hoje, as instituições portuguesas são tributárias dessa relação de suserania, que está na matriz da fundação do País e que, de alguma forma, moldou, num tempo longo, as relações com a Igreja Católica.
 
Bem sabemos que a Revolução de 25 de Abril procurou nova configuração das relações com a Santa Sé. A Concordata, assinada no auge da afirmação poder da dupla Salazar/Cerejeira, foi substituída por um novo instrumento diplomático.
 
Por outro lado, o instituto da família, com forte influência do pensamento católico, foi profundamente revisto, seja na consagração de igualdade dos cônjuges, seja na instituição do divórcio ou na interrupção voluntária da gravidez. E até, mais recentemente, sem grandes conflitos, na instituição do casamento de pessoas do mesmo sexo.
 
Mas, sobretudo, com o 25 de Abril, quebrou-se o vínculo orgânico, mediante o qual o regime salazarista restituiu à Igreja Católica o poder e a força que a 1ª República lhe havia retirado, em troca da base da sustentação do regime, traduzida nos milhares de fiéis, que foram o fermento dos consabidos “bandos costumes” dos portugueses, de que Salazar se vangloriava.
 
Em troca, portanto, da cumplicidade activa da Igreja Católica, que – honra às excepções! – se pautou pela cómoda atitude de não ver, não reagir,  não questionar, nem protestar perante os crimes e atropelos do regime salazarista.
 
Outros os tempos, hoje, sem dúvida. Tempos de um Estado laico e de uma Igreja Católica mais comedida e em maior consonância com os ventos da história. E, porventura, sinceramente mais identificada com os dramas e as angústias do tempo presente.
 
Por isso, se torna mais difícil compreender algumas emanações desse caldo cultural de dependência, que por vezes irrompem no quotidiano da nossa vida política. Não tanto pela imposição das autoridades eclesiásticas, que naturalmente não desdenham vénias, nem salamaleques. Nem prebendas...
 
Mas, sobretudo, pela falta de rigor, de equilíbrio e sentido de estado das personagens que transitoriamente ocupam os órgãos de soberania, a quem cumpre velar pelo prestígio das instituições da República e pela equidistância religiosa de um verdadeiro Estado laico.
 
De facto, fará algum sentido, para além da costumeira solicitude da televisão pública, que numa cerimónia de estritamente religiosa, como foi a entronização do novo Patriarca de Lisboa, tivessem caído (sem ironia) no Mosteiro dos Jerónimos os mais altos representantes do Estado, acompanhados por luzidios séquitos, desde o Presidente da República, Presidente da Assembleia da República e Primeiro-ministro?
 
Será que esperam o milagre da redenção no beija-mão ao novo Patriarca de Lisboa? Ou que os aplausos, vindos das naves do templo, irão sarar a amargura do isolamento e do desprezo que a sociedade portuguesa, em geral, lhes dedica?
 
Se assim for, bem poderão dizer que, (não Paris, nem sequer Lisboa), mas o olhar compassivo e tolerante de D. Manuel Clemente “merece bem uma missa”...
 
 
10-07-2013
 
Manuel Veiga
  

domingo, julho 07, 2013

A Farsa e os Impostores....





Como não diria melhor sobre a farsa
que o País vive, remeto-vos para um excelente texto de meu amigo JRD 

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA XXXII

 
Existem, em Babilónia, um PIM e um PUM... Como se compreende, o PIM faz pim e o PUM faz pum...
 
E no vértice do PIM e do PUM, Hammurabi, o moderador, nem faz pim, nem faz pum - limita-se a ampliar o flato...
 
Com a balbúrdia na praça e o barco encalhado, os babilónios indignam-se. E muitos protestam. Outros, envergonhados, escondem a cara...
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E um titeriteiro de feira, hábil na manipulação do espectáculo, proclama: “Não pasmem, babilónicos! Resistam!... Que noutro lugar se esconde a mão que puxa os fios...
 
 

quinta-feira, julho 04, 2013

NOTICIAS DE BABILÓNIA XXXI

 
 
Em Babilónia, dizem os magos, que Hammurabi, o legislador, é uma hidra com várias cabeças e múltiplos braços – que se auto regenera permanentemente...
Mas, na mente dos babilónicos incautos, tem o esplendor definitivo da figura humana – perfeita!...
 
Quando uma cabeça (ou um dos braços) da hidra se desprende, os babilónicos rejubilam – a libertação está próxima, acreditam!...
 
E a hidra estende os tentáculos...
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Um velho guerreiro visionário, (e alquebrado de infinitos combates), proclama:
 
- “O Poder habita o coração das trevas, como tragédia ou como farsa; mas onde há poder há resistência – babilónicos, resistam!...”

segunda-feira, julho 01, 2013

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA XXX

 
Com o barco encalhado e a algazarra na praça, Babilónia entra em agitação febril.
 
O amanuense-mor, com o “Borda d´Água” adverso e os babilónicos na rua, desiste da manipulação do ábaco. E demite-se...
 
Hammurabi, o legislador, num golpe, à medida de seu génio, nomeia a cozinheira... dos swaps.
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E um velho filósofo, barbudo e malquisto, resmunga:

"Decorrerão séculos, antes que a dispensa possa ser governada pela cozinheira – babilónicos, resistam!...”    
 
 

Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...