quinta-feira, dezembro 05, 2013

AURORAS DE FRIO...


Sob a dominância dos escombros e dos dias gelados
Tacteiam os dedos a fina película dos muros
Em que a metamorfose da cal se desvanece
Como palavras gastas ou fomes caladas
Sem reverso...

Somos esta profusão de sombras por onde sobem
Como larvas tecendo o casulo e a teia nossas dores
Na amargura dos dias e no degredo das paisagens
Clarins sorvendo a alvura do silêncio
E sem nada mais restar que o sopro
E a inversão meteórica das vozes em polifónicos
Cânticos calcinados...

Nada sugere outra luz ou outra vibração
Que não seja o lusco-fusco e a palidez dos dias saturninos
Ou auroras de frio...

E no entanto o grito sufocado dos dedos
E os lábios gretados balbuciam inesperadas correntes
E águas soltas e margens extravasando percursos
Percorridos.

Subtis incandescências no topo das montanhas
Ou o delírio de pássaros
A balancear o voo...

 

11 comentários:

Laços e Rendas de Nós disse...


Fez-se poesia! Gostei!

Beijinho

lino disse...

Belíssimo poema!
Um abraço

Unknown disse...

Muito linda esta poesia,gostei bastante. Um belo mês de dezembro para ti,fica com deus e bom fim-de-semana!! Beijinhos fofinhos!!

jrd disse...

E no entanto, descobres a luz -ainda ténue- que rompe os tempos de chumbo.
Um poema belíssimo.
Abraço Amigo

Ana Tapadas disse...

Apreciei o post de cima, mas prefiro comentar aqui, nestas, belíssimas «auroras de frio»...

bj

Lídia Borges disse...


Em cada verso, um verso que, por mera incapacidade, eu nunca escrevi.

Lídia

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

e talvez, quiçá, um dia as auroras sejam de fogo...

muito bom como sempre.

boa semana.

beijo

:)

Maria do Sol disse...

"Como palavras gastas ou fomes caladas
Sem reverso..."
Esta imagem ficou-me a serpentear na mente. Gostei deste espaço, vou segui-lo.
Abraço

Shirley Brunelli disse...

Nostálgico, contundente, lindo...
Beijos, heretico!

maceta disse...

são muitos os que sofrem...

Maria Luisa Adães disse...

E hoje que tanto queria escrever
me faltam as palavras para a beleza profundo do poema que nos apresenta!

Bravo, amigo e Parabéns!

Lindo demais,
se é possível a beleza ser classificada de mais ou de menos
e me parece que não é!...

Abraço,

Maria Luísa

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