sábado, maio 31, 2014

SUAVE ARDÊNCIA DO POEMA...


Na subtil vibração dos corpos onde os olhares
Se buscam e se encerram prisioneiros
E a atmosfera se curva como febre
Muda...

Nessa ínfima distância entre o jogo e o dardo
Ou nesse inquieto lugar onde se tecem
Os laços ou se deslassam os nós
Como peregrinos barcos...

Na subterrânea torrente a inundar o peito
E o arfar oculto das palavras que brotam
E os lábios calam...

Nessa tensão do arco onde a música germina
Antes da corda. E os dedos se fincam
Como o grito do dorso depois da pétala
E do látego...

Na suave ardência poema. E na passageira
Apoteose do fogo antes da água.

(Ou no colapso das horas...)

O poeta depõe a inocência dos nomes
Na inconformada espera. E traça
A iluminura do(s) rosto(s) em que incauto
Se despenha...

Manuel Veiga

 

 

9 comentários:

Lídia Borges disse...


Uma poética completa!

Vou pelos verbos:

buscar
curvar
mudar

Deslassar
inundar
arfar
brotar
calar

germinar
fincar

O labor, o suor, o poema!

Gostei tanto!

Ainda estou à espera do "Poemas Cativos". Está a demorar...

Beijo

Rogério G.V. Pereira disse...

Manuel,
ainda não sei
para que a poesia
me serve
mas
no colapso das horas
quando tiver sede
sorvo-a
quando tiver fome
como-a


Shirley Brunelli disse...

Belíssimo, heretico (Manuel?), belíssimo!
Beijos!

Graça Pires disse...

"Peregrinos barcos" singrando o mar do peito onde as palavras se desmoronam e se elevam até à inocência.
Tão belo, o poema!
Um beijo, amigo

AC disse...

Acreditar é ver para lá do precipício.

Abraço

jrd disse...

Fincam-se os dedos e agarra-se o poema.
Muito bom meu irmão.
Abraço

Graça Sampaio disse...

Mais uma completa teia de palavras. Tão bem escolhidas. Tão bem enlaçadas. Como dois corpos.

Aliás é um poema cheio de sensualidade.

Muito bom!

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

o poeta entrelaça as palavras
com amor
com ternura
outras com raiva
com ódio
com desamor
mas nunca
nunca
sem a inocência dos nomes
mudos

:)

Ana Tapadas disse...

Belíssimo! Todo o poema é uma sublime construção...

«(ou no colapso das horas»)...assim me toca e é magnífico.

bj

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