quarta-feira, novembro 12, 2014

VOO DE TEJO SEM ASAS...


Voo de Tejo sem asas. Nem de velas.
Nem de partidas. Ou de mil desmedidas
Chegadas...

É de névoa o horizonte em que me despenho...

Ousamos o que sabemos nos passos
Que não damos.
E ficamos...

Não mais Pirâmides
Corroídas. Areias do deserto.
Vento suão de mil enganos.
Não mais Nilos...

Quem de Helena, tróias?!
Quem tece o rosto de Penélope
Em meus dedos?

Que romanos, que glórias?
Que Cervantes? Que mistérios?
Que Machados? Que Castelas?
Que sedes de mil anos?

Torrentes de água pura
Nerudas. Índios. Neves de montanhas.
Meu sangue fervendo nas estepes...

Quem me arde nesta dor?
Que sal? Que mar? Que guindastes? Que pimentas?
Que Bandarras? Que poetas?
Que Vieiras?

Camões de luto. Jangadas. Capelas imperfeitas
E Pessoa no proscénio...

Não mais heróis.
Não mais ilhas.
Nem míticas profecias...

E no entanto este Povo.
Este olhar desamparado que me queima em cada gesto.

E este fado.
E este fardo...


Manuel Veiga

11 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Há poemas-bandeira.
Há poemas-hino.

Este é um grito!

Mar Arável disse...

O povo vai continuar a carregar andores sempre lançando moedas para alimento dos santos pesadíssimos mas há quem resista a tanto fardo.

Abraço poeta militante da vida

J. Rodrigues Dias disse...

E ficamos...
E no entanto este Povo.
E este fado.
E este fardo...

Gostei muito.
Abraço.

jrd disse...

Que poema. Que viagem e que Historia. Que voo rasgado.

Abraço meu irmão poeta

Graça Sampaio disse...

Muito, muito bom!! Grito rasgado na noite! Muito bom!

Majo disse...

~
~ ~ ~ Fantástico, Manuel! ~ ~ ~

~ ~ Resistimos nas longas e duríssimas viagens de caravelas, seguramente com muitas miragens, mas sem ilhas míticas...

~ ~ Devemos ser geneticamente resilientes...

~ ~ Não sucumbamos ao fado, nem ao fardo!

~ ~ ~ Incentivemo-nos! ~ ~ ~

Andrea Liette disse...

A poesia também clama a travessia
em chão de pedregulhos.
E ardem os pés dos poetas.

Belíssimo poema!

Um abraço.

Teresa Durães disse...

Um belo poema, sim, carregado de fardo.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

um poema cheio de fado no fardo que um povo carrega...

:)

lis disse...

Um voo lindo!
Um turbilhão de palavras que não se esgotam ao lê-las.
Névoas que cortamos com as mãos a cada manhã...
_e mais essa doce comunhão e sonoridade do fado e suas guitarras melancólicas.
Que faz chorar!
Parabéns.

Parapeito disse...

com fado ou sem fado...que nunca se canse a voz do povo nem a sua vontade de voar ... adorei,
Abraço***

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