sexta-feira, janeiro 09, 2015

SOLTO TUAS BÊNÇÃOS...


A tua bênção, Pai
Antes que as margens se afastem infinitamente
E o rio seja o turbilhão de lava
Frio de nada...

Calo a lágrima
E beijo a terra na ubérrima mão
Do que por ti fomos
E das lonjuras que logramos...

Na flor tatuada dos dias
E na vara do tempo onde gravamos solstícios
E os nomes
E as sombras
Entrelaço a folhagem do carvalho
Em tua fronte
Como templo...

E soletro o frio
E a amargura da Hora
E calo o peito...

E ergo-me
Medianeiro
Encruzilhada de torrentes e dos invisíveis fios
E da seiva que somos...

E evoco os caminhos
E a voz do sangue
E os passos que são
E os passos que se anunciam...

E solto tuas bênçãos
Na carne da minha carne
E no sorriso da criança com teu nome:
  - António.

Manuel Veiga


8 comentários:

jrd disse...

Os teus Antónios. Com que comoção li este poema meu caro Manuel.
Um abraço fraterno

AC disse...

Memórias sentidas, herança intemporal.
Tocou-me, meu amigo!

Abraço

Ana Tapadas disse...

Oh...maravilha!

Beijo meu

Mar Arável disse...

No fundo à vista

que vivam os nossos mares desgrenhados

Abraço

Graça Pires disse...

Evocar caminhos, sangue, voz, afectos e abraços com os lábios molhados na seiva do amor paterno... Belíssimo!
Um beijo, meu amigo.

Lídia Borges disse...


Ecos de nós sempre acesos, em nós!

Iluminam!

Beijo

Shirley Brunelli disse...

Belíssimo poema...Mais que uma oração.
Beijo, Manuel!

Nilson Barcelli disse...

Um belo e comovente poema.
Excelente, gostei imenso.
Boa semana, caro amigo.
Abraço.

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