quinta-feira, maio 21, 2015

A DESENHAR VELAS...


Vicejam os espinhos nas ruinas do tempo
E os rios medem as margens no sobressalto das árvores...

Em seu pudor - ou resguardo - a palavra lateja.
Mítica.

Clandestina embora atiça o fervor que germina
Nos rostos calcinados e na amargura dos homens.
E o alvoroço ganha então asas nas veredas do sangue
E no percurso inóspito dos passos...

As mulheres revestem-se de sibilinos gestos
E soletram a boca das crianças
Nas migalhas...

E erguem o olhar pleno como antigas ânforas
Que repletas extravasam. E minguadas se aprestam
A todas as sedes e a todas as urgências.
E que de mão em mão passam
Gloriosas...

Fecundos são os dias assim (pre)sentidos
Que amadurecem como crisálidas. E se soltam serenos
Na arribação das aves. E nos ritos da memória...

E se advinham no pulsar cálido da cidade
Ainda agora cais. A erguer promessas. E a desenhar velas.
No horizonte líquido do Tejo...

Manuel Veiga



9 comentários:

Majo disse...

~
~~ Muito bem concebido, composto e escrito, Manuel. Excelente!

~~ As nossas palavras clandestinas e alvoroçadas germinarão?

~~~~~~~~~~ Em horizontes líquidos
~~ onde erguemos promessas e desenhamos velas,
~~~~~~~~ construímos a nossa esperança.


~~~~~ Beijo, amigo. ~~~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
.

Rogério G.V. Pereira disse...

"Fecundos são os dias",
Poeta!

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

tempos conturbados.

mas a esperança ainda existe no olhar
e no horizonte do Tejo.

muito belo!

bom final de semana.

beijo

:)

Graça Sampaio disse...

Que mais posso dizer, amigo heretico, senão que as imagens são lindas e transparentes e que a palavra é a tua padroeira.

Líquidos mais que o Tejo (que é o rio da minha aldeia...) são os teus poemas.

Beijo

Graça Pires disse...

Um poema maravilhoso a construir cenários, enquanto um rio te desagua no olhar...
Um beijo, meu amigo.

jrd disse...

Porque a sede de uma espera só se estanca na corrente.

Um abraço meu irmão

Agostinho disse...

Que o Tejo se encha de velas
tantas tantas
até que cresçam
nas ribeiras todas de Lisboa
as ruas orvalhadas
e a Avenida cheia
de liberdade
e no Parque floresçam
as loiras espigas:
matem a fome da Nação!
soprem todos o vento de feição!

GS disse...

Neo-realista... excepto no final onde a esperança resiste, ainda.

Como bem poetas!
Beijo

GS disse...

Neo-realista... excepto no final onde a esperança resiste, ainda.

Como bem poetas!
Beijo

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