sexta-feira, maio 29, 2015

SEI QUE AS RUAS SÃO TORPEDOS...


Sob o escombro dos impérios a persistência
Dos dias adiados. Gestos macerados em estridência de bronze
Nos golpes desferidos.

Cortinas embora que incautos tempos
Vão abrindo. Escudos na intermitência dos golpes.
Por agora...

Os heróis - dizem-me - estão gastos.
Respiram a poeira das cavalgadas e míticas auroras.
E o acaso dos dias...

Sei no entanto do esplendor das coisas possíveis
E da decantação das horas. E que o perfume das madrugadas
Se alimenta desta espera.

E deste húmus.

E da fumegante audácia que germina na grandeza
De promessas – enfim! - traídas.

E nestes cardos que os ventos soltam em redemoinho.
Como espinhos...

E sei ainda que lâminas e cânticos se afinam.

E que o abraço escorre nos humanos ombros.
E os pulsos se rasgam. E o sangue lateja.
E que as agruras são semente. E os caminhos se desbravam.

E sei que as ruas são torpedos quando rios
E flâmulas se incendeiam...

 Manuel Veiga  



7 comentários:

Mar Arável disse...

Sempre se desbravam palavras improváveis

madrugadas com a serra às costas
sem heróis
a menos que sejam de carne e osso
e alimentem de pedras
com vida por dentro

Abraço poeta

Ana Tapadas disse...

Já li noutro lugar...mas venho reler aqui, para expressar o prazer de te ler!

Beijo

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...


os heróis calados (não existem)
esquecidos foram (aferrolhados)

um dia a água matará
a sede

e o fogo incendiará as marés
do nosso descontentamento

:)

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

os heróis calados (não existem)
esquecidos foram (aferrolhados)

um dia a água matará
a sede

e o fogo incendiará as marés
do nosso descontentamento

:)

Suzete Brainer disse...

Um sentir dorido através do olhar sobre o mundo,
o País, a rua, o quintal da nossa casa pátria...
Uma espera em que a possível dignidade humana
não se dissolva na impossibilidade...

Maravilhoso ler-te, Poeta!
É um mergulho na poesia essencialmente bela e
que transcende.
Beijo.

Graça Pires disse...

Um poema intenso e atento à vida.
No entanto:
"Sei no entanto do esplendor das coisas possíveis
E da decantação das horas. E que o perfume das madrugadas
Se alimenta desta espera".
Então não deixemos que o perfume se desvaneça, para que a madrugada seja sempre livre.
Um beijo, meu amigo.

GS disse...

Sempre levando-nos a desbravar nossos próprios sentimentos...

Beijo

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