terça-feira, junho 09, 2015

RUBROS OS MASTROS...


Rubros os mastros. E as colinas.
Em nuas confluências
De abraços. E de pétalas...

Derramam-se na cidade rios e memórias.
E soltam-se os poetas. E os murais...

Em gesto largo sobre o gume dos olhares
Maiakóvski – vindo de um Futuro grisalho
De saudade e de tanta teimosia! –
Abre-se no palco...

E grita em seu jeito gutural e bárbaro:
-“Este é o meu Povo. Ainda!...”

A seu lado, a Mulher de Vermelho
Solta a lágrima da fome
E a criança loira das espigas...

E então
- Palavra de cristal em riste! -
Arranca os olhos e rasga-se em febre
E pitonisa inflama-se na língua e nos prenúncios  
E ergue-se na aurora dos dias que hão-de vir...

Na densa nuvem alvoroçada
A multidão ignara ri e chora...

E um velho caminheiro alquebrado -
De fadigas e da idade - sobe então ao mais alto dos mastros
E ascende em lume o rubro das bandeiras...

Manuel Veiga


8 comentários:

Mar Arável disse...

Nos mastros mais altos da vida

Abraço poeta

Rogério G.V. Pereira disse...

"E soltam-se os poetas"

Genny Xavier disse...

Caríssimo,

Palavras rubras para versos febris, sanguíneos de drama, derramados de força e glória.

Revisitar seus versos é como aspirar a aurora na noite dos dias.
Meu carinho.
Genny

MARILENE disse...

"Rios de memórias" a movimentar o coração do poeta, com beleza na tristeza. Abraço.

Agostinho disse...

Acendam-se à noite as candeias!

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

e na cidade o Poeta ousou cantar... mesmo que já fosse alquebrado e cansado

e a madrugada chegou com a luz azul dos céus acordados.

beijo

:)

GS disse...

Uma exortação poética de grande intensidade.

"Derramam-se na cidade rios e memórias./E soltam-se os poetas. E os murais..."

E já que citaste Maiakóvski:

"Cada um ao nascer
traz sua dose de amor,
mas os empregos,
o dinheiro,
tudo isso,
nos resseca o solo do coração. "
(...)

Habitualmente é assim (título)

beijo
(agradeço tua amizade sempre presente em 'fragmentos')

Unknown disse...

Olá, Herético.
Valha-nos os poetas. Que os soltem!

abç

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