domingo, agosto 02, 2015

MORDEMOS A VIDA ESCASSA...


Sobreviventes da demanda, somos restos
Que as marés deixam nas margens
Ou teimam à superfície das ondas
Antes que as crianças ou o capricho das correntes
Os devolvam à água – matriz de tudo –
E os titãs ganhem forma nas profundidades
Antes da conquista das montanhas...

Ou as algas se enredem no cabelo das ninfas...

Aprendemos a “respirar por guelras”
Diz um Poeta – meu irmão na poesia e meu amigo –
Como se a sobrevivência fora cântico no interior dos búzios
E a distância abismo do sonho
Antes de deflagrar no furor dos punhos...

E as aves desgrenhadas fossem utopias rubras...

Azul é este poema, que se afoita ao destino da hora
Macerado de cansaços e andarilho ainda
Das sete partidas anunciadas. E que efabulamos
Em noites de lua cheia e nos lances da memória...

Mordemos a vida escassa – essa nossa fome!...


Manuel Veiga




10 comentários:

Ana Tapadas disse...

És um Poeta a sério!
Gosto do ritmo e do intrincado das metáforas.

Beijo

Rogério G.V. Pereira disse...

Antes de deflagrar no furor dos punhos... depois de mordida a vida escassa

Um momento e tanto

jrd disse...

Sobreviventes da demanda, mordemos a vida escassa e assim havemos de matar a fome, um dia...

Abraço meu irmão poeta

Graça Pires disse...

Estou com essas "aves desgrenhadas". Apesar da fragilidade das mãos aprendemos a ser sobreviventes dos nossos próprios sonhos...
Um belo poema, meu Amigo.
Um beijo.

Mar Arável disse...

Aves desgrenhadas
porque não há morte para o vento

Abraço

lis disse...

O poema lembra os imponderáveis da vida
_não há certezas nem previsões haverá sol tempestade ou o continuar do'respirar por guelras'
Que algum peixe salte pra matar essa fome!

Suzete Brainer disse...

A fome de utopia de um poeta sempre
é revolucionária, o caminho não comum percorrido
semeia o canto à vida, o fogo dos sonhos não
adormecidos e desafia o destino das horas
nos cursos das águas...
O poeta tem fome de vida...
Que poema belo, fiquei totalmente imersa nele...
Adorei, Poeta amigo!!
beijo.

Ps: Eu conheço esse poeta citado, é um "tal" de
Mar Arável, o poeta mestre das metáforas...Rsrs

MARILENE disse...

Se não deixamos adormecer os sonhos, mantemos nosso amor à vida e a luta pela sobrevivência faz com que os cansados e desgastantes desafios um dia sejam vencidos. Belísimo! Abraço.

Agostinho disse...

É na ingenuidade pura dos meninos que a utopia tem garantida a eternidade. É essa a verdade que mata a fome das aves desgrenhadas.
Um poema de mão cheia.

Zé Povinho disse...

Aprendemos de facto a respirar por guelras até ao regresso à terra que haveria de dar o nome ao planeta. A vida é escassa e cada dia que passa é uma conquista...
Abraço do Zé

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