segunda-feira, setembro 21, 2015

PLANANDO DE ENCONTRO AO VENTO...


Talvez o momento avaro seja voo de milhafre
Planando de encontro ao vento. Ou estultícia minha
Em filtrar o Tempo. Pelos dedos...

Talvez seja vertigem. Ou pequenos nadas..
Ou profusão de sentidos descendo como os braços do salgueiro.
Ou seja talvez moinho em canto d´água.
Ou a pedra de soleira...

Talvez o momento seja a brusca passagem das horas
Já passadas. E murmúrio de oração em lábios já finados.
Ou mulheres de negro embiocadas: -
Penélopes sem viagem
E epopeias de silêncio...

Talvez sejam as cálidas mãos dos homens. Agora
Pousadas sobre a mesa. E o pão repartido.
E a criança atónita espreitando o ritual
E o vinho nas gargantas ressequidas.
E o delírio da festa.
E as colheitas...

Talvez os corredores da memória
Sejam espaço afadigado em estertor de ave
Já sem ninho. E que no entanto teima o calor das penas...

Assim o vento se solte em novas profecias.
E todos os rostos venham em coro
Entoar bênçãos em teu nome

António!

Manuel Veiga

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11 comentários:

Lídia Borges disse...


O "talvez" reiterado como um prelúdio de outros voos e ventos neste outono que (talvez) ainda possa ser mudança de tempo (de tempos?).

Gostei muito (outra vez)!

Lídia








Graça Sampaio disse...

Quem será o afortunado António? Talvez o neto... Que lindo! Mas que peso (de Amor, de Esperança, de Desejo embora) em cima dos seus pequeninos ombros...

Beijinhos

CÉU disse...

O neto e o filho, creio, embora de costas, embelezam a paisagem escrita e não só, que me fez dar voltas à cabeça e aos sentidos, e tanto era o vento do seu escrito, k fiquei alvoroçada e desgrenhada, O que me fez? Não dei por nada.
Temos o outono, quase, quase a chegar e aproxima-se um novo ciclo natural. Se o outro, também, mudar, temos de aceitar e para isso vou contribuir.
Gosto imenso das suas "raivas" misturadas com bênçãos amorosas. GOSTO!

Sóror Mariana Alcoforado? Ah! Bem, somos alentejanas, de Beja, é o k temos em comum. Vivemos em séculos diferente e eu não amei nenhum Marquês de Chamilly. Amou. Pobrezinha! Só o viu ao longe. As Cartas Portuguesas são uma delícia, em minha opinião, mas comparar este meu poema àquilo k a monja talvez tivesse proferido, é um agradável e doce exagero, meu querido amigo!

Bises.

CÉU disse...

Retificando: qdo falo na mudança do outro ciclo k não o da estação do ano, digo k para tal irei contribuir. Ora, é precisamente o contrário, (do) k pretendia dizer.
Há coisas que não se explicam, só se sentem. É isso, e eu sei k sente o mesmo, nesse aspeto, mas diametralmente oposto a mim, ou melhor, às minhas convicções, mas dizem k os extremos se tocam.

Bons sonhos!

Graça Pires disse...

Talvez na memória do tempo se renove sempre o tempo de nascer e a vida se transforme numa evocação de amor. Como neste belíssimo poema que o António irá entender melhor quando a própria vida por ele passar.
Um beijo, meu Amigo.

Majo disse...

~~~
Manuel, que excelente e brilhante herança
~~~~~~ deixas ao teu António...

~~~~~ O melhor do amor puro...
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

~~~ Beijo ~~~
~ ~ ~ ~

Suzete Brainer disse...

Pelos dedos do poeta, as palavras foram construindo
belezas, silêncios, pequenos nadas luminosos até
ficar no eco sonoro de sentires profundos
num nome: António!
De uma beleza poética que sempre encanta...
Uma semana com belas paisagens na cabeça, Poeta amigo!
beijo.

Shirley Brunelli disse...

Ah! Muitas vezes temos que seguir contra os ventos que nos fustigam a memória...
Beijos, heretico!!!

Helena disse...

Os “talvez” a prenunciar versos fortes, intensos, e de rara beleza, navegam na certeza de que as novas profecias em coro entoadas serão bênçãos que depois de planar ao vento se acomodarão nos caminhos e no coração desse António tão amado por um avô que está sempre a espalhar versos nas bênçãos que sobre sua cabeça deixa pousar.
Beijos e um dia ensolarado de alegrias,
Helena

Janita disse...

Talvez que o planar de encontro ao vento, seja o encontro de planar a favor do vento. Com tudo o que foi escrito e o mais que virá e só o tempo dirá!
Que os ventos soprem sempre a favor dos voos que o António quiser escolher e o conduzam a bom porto!

Beijinhos para os dois.

:)

Agostinho disse...

A partilha do Poeta é
ternura de quem ama
pontilhada de ou e talvez
num sobressalto de sempre

Abraço

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