Talvez o momento
avaro seja voo de milhafre
Planando de encontro ao vento. Ou estultícia minha
Em filtrar o Tempo. Pelos dedos...
Talvez seja
vertigem. Ou pequenos nadas..
Ou profusão de
sentidos descendo como os braços do salgueiro.
Ou seja talvez moinho
em canto d´água.
Ou a pedra de
soleira...
Talvez o momento
seja a brusca passagem das horas
Já passadas. E
murmúrio de oração em lábios já finados.
Ou mulheres de
negro embiocadas: -
Penélopes sem
viagem
E epopeias de
silêncio...
Talvez sejam as
cálidas mãos dos homens. Agora
Pousadas sobre a
mesa. E o pão repartido.
E a criança
atónita espreitando o ritual
E o vinho nas
gargantas ressequidas.
E o delírio da
festa.
E as
colheitas...
Talvez os
corredores da memória
Sejam espaço
afadigado em estertor de ave
Já sem ninho. E
que no entanto teima o calor das penas...
Assim o vento
se solte em novas profecias.
E todos os
rostos venham em coro
Entoar bênçãos
em teu nome
António!
Manuel Veiga
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11 comentários:
O "talvez" reiterado como um prelúdio de outros voos e ventos neste outono que (talvez) ainda possa ser mudança de tempo (de tempos?).
Gostei muito (outra vez)!
Lídia
Quem será o afortunado António? Talvez o neto... Que lindo! Mas que peso (de Amor, de Esperança, de Desejo embora) em cima dos seus pequeninos ombros...
Beijinhos
O neto e o filho, creio, embora de costas, embelezam a paisagem escrita e não só, que me fez dar voltas à cabeça e aos sentidos, e tanto era o vento do seu escrito, k fiquei alvoroçada e desgrenhada, O que me fez? Não dei por nada.
Temos o outono, quase, quase a chegar e aproxima-se um novo ciclo natural. Se o outro, também, mudar, temos de aceitar e para isso vou contribuir.
Gosto imenso das suas "raivas" misturadas com bênçãos amorosas. GOSTO!
Sóror Mariana Alcoforado? Ah! Bem, somos alentejanas, de Beja, é o k temos em comum. Vivemos em séculos diferente e eu não amei nenhum Marquês de Chamilly. Amou. Pobrezinha! Só o viu ao longe. As Cartas Portuguesas são uma delícia, em minha opinião, mas comparar este meu poema àquilo k a monja talvez tivesse proferido, é um agradável e doce exagero, meu querido amigo!
Bises.
Retificando: qdo falo na mudança do outro ciclo k não o da estação do ano, digo k para tal irei contribuir. Ora, é precisamente o contrário, (do) k pretendia dizer.
Há coisas que não se explicam, só se sentem. É isso, e eu sei k sente o mesmo, nesse aspeto, mas diametralmente oposto a mim, ou melhor, às minhas convicções, mas dizem k os extremos se tocam.
Bons sonhos!
Talvez na memória do tempo se renove sempre o tempo de nascer e a vida se transforme numa evocação de amor. Como neste belíssimo poema que o António irá entender melhor quando a própria vida por ele passar.
Um beijo, meu Amigo.
~~~
Manuel, que excelente e brilhante herança
~~~~~~ deixas ao teu António...
~~~~~ O melhor do amor puro...
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
~~~ Beijo ~~~
~ ~ ~ ~
Pelos dedos do poeta, as palavras foram construindo
belezas, silêncios, pequenos nadas luminosos até
ficar no eco sonoro de sentires profundos
num nome: António!
De uma beleza poética que sempre encanta...
Uma semana com belas paisagens na cabeça, Poeta amigo!
beijo.
Ah! Muitas vezes temos que seguir contra os ventos que nos fustigam a memória...
Beijos, heretico!!!
Os “talvez” a prenunciar versos fortes, intensos, e de rara beleza, navegam na certeza de que as novas profecias em coro entoadas serão bênçãos que depois de planar ao vento se acomodarão nos caminhos e no coração desse António tão amado por um avô que está sempre a espalhar versos nas bênçãos que sobre sua cabeça deixa pousar.
Beijos e um dia ensolarado de alegrias,
Helena
Talvez que o planar de encontro ao vento, seja o encontro de planar a favor do vento. Com tudo o que foi escrito e o mais que virá e só o tempo dirá!
Que os ventos soprem sempre a favor dos voos que o António quiser escolher e o conduzam a bom porto!
Beijinhos para os dois.
:)
A partilha do Poeta é
ternura de quem ama
pontilhada de ou e talvez
num sobressalto de sempre
Abraço
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