quarta-feira, janeiro 27, 2016

Dias Amputados de Futuro...


Na implosão de cravos
Apenas a raiz
Se finca
E a cor
Em bandeiras
Da fome…

Dias amputados de Futuro
Nos trilhos do Nada…

Descartáveis Auroras
De um tempo sem fronteiras
Como chumbo…

E no arrepio da dor
Uma memória perfumada
Uma vertigem que explode
Nos olhos…

E carnívora se ergue nas bocas
Em apoteose de flor sanguínea
No corpo imaculado da Tragédia
Pronunciada…

Como cristal aceso
Em noite de facas…


Manuel Veiga

12 comentários:

Mar Arável disse...

Hoje semeei cravos vermelhos

meu irmão
Abraço sempre

CÉU disse...

Nunca li um título de um texto, em prosa ou verso, pelo menos que me lembre, tão "bonito" e tão real, qto o que deu ao seu poema. Um espanto linguístico e não só. Parabéns, M Veiga!

Sem querer ser "velha do Restelo" acho que a partir de agora, vai haver um retrocesso, fundo e sério.

Fala de cravos, isso eu entendo, e de tragédia, também, mas esta vai ser mto pior do que a "Da Rua das Flores" .

Gosto bastante do k escreve e tb das suas saudáveis "provocações".

Fique bem!

Graça Sampaio disse...

O menino herético ainda está mais acabrunhado do que eu! (o que não parece possível; nem fácil!)

Beijinho.

Suzete Brainer disse...

Tenho que começar com o encanto do título (sempre me fascina),
uma metáfora grandiosa:"Dias Amputados de Futuro..."
Os dias já anunciados sem esperança, mas o Poeta sempre olha
o mundo de forma diferenciada, numa profundidade na carne viva
das palavras e do sentir...
Este teu poema é tão magistral e ímpar na inscrição poética
grandiosa sobre a dor do desencanto das "causas perdidas",
mas só no momento (histórico), que também pode durar muito
tempo ou pouco, conforme as mudanças irem mesclando nos
dias com surgimento das necessidades de renascimentos...
"Como cristal aceso
Em noite de facas..."
Esta brilhante estrofe reacende a tua força poética
no patamar das poesias grandiosas, dos Mestres Poetas
com a alquimia das palavras exatas, precisas
e luminosas no corpo dos poemas!...
Bravo, querido Poeta amigo!!
Grata por este tempo acompanhando a tua
imprescindível Poesia!!

jrd disse...

Não deixemos que nos arranquem a raiz. A flor da esperança vai ter de renascer nas nossas mãos.
Abraço fraterno Poeta

Majo disse...

~~~
Tenho andado triste, quase inconsolável,

porém, não me deixo derrubar, porque

-como dizeis - «A Luta Continua»...

Mais um belo poema de dor e repúdio!


É bom estarmos unidos como um feixe.

~~~ Beijo, Poeta amigo. ~~~~~~

Jaime Portela disse...

O futuro parece estar mesmo complicado.
Já tinha acontecido aos gregos e agora parece que vai acontecer aos portugueses uma coisa muito simples: governe quem governe, a política é sempre a mesma e imposta por Bruxelas, que segue um guião neoliberal (leia-se capitalismo selvagem). Mas enquanto aos governos de direita até fecha os olhos a certas manobras que encobrem défices (saídas limpas, etc.), aos governos de esquerda, Bruxelas não deixa passar nada e segue a via da humilhação, mostrando que a soberania mudou de sítio. Perante este quadro, será que vale a pena votar em alguém?
Ou seja, os dias parecem estar mesmo amputados de futuro.
O poema, é excelente, pois claro.
Bom fim de semana, caro Veiga.
Um abraço.

Palavras soltas disse...

Que floresçam logo essas flores que nos trazem ares de um futuro promissor. Nós também precisamos delas...

Beijo.

Genny Xavier disse...

Manuel,

Ainda há de recrudescer a "semeadura" dos cravos, poeta... vermelhos e brancos...
Como sempre, muito bom beber da tua fonte poética.

Beijos além mar,
Genny

O Puma disse...

Cá estaremos em riste
Abraço

Agostinho disse...

Despudoradamente, as facas gralham por toda a charneca secando a esperança na raiz da flor.
Belo poema, MV. Quem sabe se a palavra se multiplica com força redobrada derrubando a tirania dos alcaides franquefortianos?
Abraço.

Agostinho disse...

Despudoradamente, as facas gralham por toda a charneca secando a esperança na raiz da flor.
Belo poema, MV. Quem sabe se a palavra se multiplica com força redobrada derrubando a tirania dos alcaides franquefortianos?
Abraço.

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