quinta-feira, fevereiro 04, 2016

VAGA PAISAGEM MUDA...


Desce o nevoeiro na paisagem
E o rio é manto de olhos encobertos...

(Dolente a música do cello
E meus passos...)

Tombam imaginárias folhas
Sobre o chão alcatifado. E as janelas
São órbitas entreabertas. No entanto baças.
Ou destino vago das horas...

E as árvores agora são súplicas isoladas
São ausências ou linhas precárias.
Perfis esvoaçantes apenas 
A teimarem lá fora...

Nem gritos, nem memórias.
Espera pura. Folhas no íntimo do caule.
E dos dias...

E minha inquieta presença catando o poema.
E “o piolho da existência”.

Qual quadro sem moldura!...

Manuel Veiga


10 comentários:

Janita disse...

Uma paisagem onde o tempo passa devagar...espreguiçando-se sem pressa!
É o inverno vivendo, com esperança de primaveras.:)

Gostei muito, Poeta.

Beijinho

Ana Tapadas disse...

Um poeta a sério! Parabéns.

Beijinho

Genny Xavier disse...

Uma paisagem descrita para expressar uma alegoria interior, íntima e silente... versos para ler, reler e capturar lentamente o que se guarda por trás do que se diz...e o que emergimos dos sentidos nos elementais da natureza...

Bom ser presença aqui, poeta.
Beijo.
Genny

Jaime Portela disse...

Talvez seja mesmo "o piolho da existência" que nos faz catar o poema...
Excelente, meu caro Veiga, mais uma obra de Mestre.
Um abraço.

Pedro Luso de Carvalho disse...

Caro Manuel,
Um bom poema, sabem todos que leram João Cabral de Melo Neto, é fruto de um pouco de inspiração e muito de transpiração (para ele, cinco por cento de inspiração; o resto, transpiração).Dondo concluo que, o seu "Vaga paisagem muda..." é poema que nasceu tanto de uma como de outra, e, assim, com essa conjugação resultou num bom poema.
Um abraço.

Suzete Brainer disse...

Eu com minha mania de adorar títulos belos,
"Vaga Paisagem muda..." ele me sugere o eco do
silêncio cortando as palavras para florir na alma!...
Todo o belo poema em seu corpo de estação outono,
conduz a este quadro vivo dos olhos do Poeta, que
pintou no (seu) registro o poema renascido
da memória afetiva dos seus passos de música:
"(Dolente a música do cello
E meus passos...)"
Adoro (sempre) a tua poética!!

AC disse...

Excelente, meu amigo, lê-lo é sempre um grande prazer!

Um abraço

Agostinho disse...

O poeta percorre a descarnada paisagem de si para se encontrar no íntimo do ser, de onde brotam todas as vontades, toda a verdade.
Belíssimo poema.

jrd disse...

Basta a tela em que pintaste o poema e já é tanto.

Abraço fraterno

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

o poeta pinta quadros

com palavras e sentires

o poeta não precisa de moldura

muito belo

beijo

:)

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