segunda-feira, abril 25, 2016

NO HORIZONTE LÍQUIDO DO TEJO


Vicejam espinhos e cravos nas ruínas do tempo
E os rios medem as margens no sobressalto das árvores...

Em seu pudor - ou resguardo - a palavra lateja. Mítica.

Clandestina embora atiça o fervor que germina
Nos rostos calcinados e na amargura dos homens.
E o alvoroço ganha então asas nas veredas do sangue.
E no percurso inóspito dos passos...

As mulheres revestem-se de subtis gestos
E soletram a boca das crianças
Nas migalhas...

E erguem o olhar pleno como antigas ânforas
Que repletas extravasam. E minguadas se aprestam
A todas as sedes e a todas as urgências.
E que de mão em mão passam. Gloriosas...

Fecundos são os dias assim (pre)sentidos
Que amadurecem como crisálias. E se soltam serenos
Na arribação das aves. E nos ritos da memória...

E se advinham no pulsar cálido da cidade
Ainda agora cais. A erguer promessas. E a desenhar velas.
No horizonte líquido do Tejo...

Manuel Veiga





11 comentários:

Majo disse...

~~~
Está prestes a terminar
o dia em que homenageamos a valentia
dos que ousaram enfrentar a odiosa ditadura.

A partir de agora, a luta continua...

Falta-nos a igualdade, como

evidencia este belíssimo e brilhante poema.

~~~ Beijo, poeta amigo. ~~~

Rogério G.V. Pereira disse...

«Fecundos são os dias assim (pre)sentidos»

No horizonte sólido da Avenida

Armando Sena disse...

Mas tudo se resumo aos infinitos dias de maio.

Suzete Brainer disse...

A começar pelo título, uma bela e original metáfora:
"No Horizonte Líquido do Tejo"
Um horizonte de pura emoção de pessoas, paisagem viva (Rio),
uma nação emocionada...

Este teu poema é gigante de beleza, originalidade e
de um sentir que transborda a memória histórica, que canta
a luta de um Povo pela uma liberdade democrática.
Aciona a possibilidade da memória histórica do local,
o rio Tejo e também na imagética do rio como a vida
que segue na sua transcendência e transformações
dos "Dias assim (pre)sentidos!...

Este Poema acompanhado com a música do Zeca,
um encantamento profundo do sentir...

Bravo, Poeta!!
Bjs.

Shirley Brunelli disse...

E assim o ser humano prossegue, no percurso inóspito dos passos...
Belo.
Abraços!

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

um poema onde se homenageia Abril e seus cravos

a música do Zeca Afonso foi um óptimo suporte ao poema e à data.

muito belo Poeta

um beijo

:)

Mar Arável disse...

Quando escreves Abril

pulsam vermelhas flores de Maio
Abraço poeta

Agostinho disse...

Bela evocação, Poeta!

Escrito ainda no cais da memória
o aroma de Abril,
do tempo dos cravos
Mas, das especiarias
desembarcadas na madrugada
muito poucas são nossas.
Tão poucas, tão poucas,
que mulheres e mães
voltaram à míngua.
E as crianças,
quem as sacia de esperança?

Abraço

Laura Santos disse...

Há um sonho de Liberdade que se cumpriu, mas embora os cravos vicejem, os espinhos são muitos, e parte do sonho que não se perdeu ainda leva à exaltação do realizado e do que resta por fazer. A palavra lateja e existe urgência, uma sede que implica o alvoroço a exigir mais acção. A festa fez-se. É agora necessário aproveitar essas velas que se desenham em todos os horizontes líquidos e continuar a viagem.
E "Vejam bem", o Zeca tinha que aqui estar!
Primorosa Poesia e Prosa sempre por aqui.
xx

Jaime Portela disse...

Mais um excelente poema.
Os meus aplausos, caro Poeta.
Bom fim de semana, amigo Veiga.
Abraço.

José Carlos Sant Anna disse...

E quanto ainda há por fazer. São belas as imagens para dar conta da história, da memória, sem esquecer que ainda vicejam espinhos.
Guardo simbolicamente o cravo que recebi no dia 25 de abril, na Praça da Liberdade, em 2014, quando estive em Portugal pela última vez.
Por aqui "faz escuro..."
Forte abraço,

ESCULTOR O TEMPO

Escultor de paisagens o tempo. E estes rostos, onde me revejo. E as mãos, arados. E os punhos. Em luta erguidos…  S ons de fábrica...