domingo, dezembro 11, 2016

Requer o Poeta a Palavra Exacta


Requer o poeta
A palavra exacta
Que agrida e fira
E acorde e se bata
Na praça: danada.

E no percurso
Se encandeie
Em qualquer pormenor
Ainda não visto
Que de poesia basta
Está o poeta farto:
- Oração de defunto
A serrar presunto
Lá pros lados da Lapa.

E tenha fogo
E tenha água – a palavra.
E se atice
E seja aldrabice. E ferva
Como espuma quente
Que nada pode: bem se sabe!
Palavra porém - nunca mole.

Palavra se requer que seja
Aguardente de vida
Em cada gole...


Manuel Veiga

15 comentários:

SILO LÍRICO - Poemas, Contos, Crônicas e outros textos literários. disse...

Meu amigo Manoel,
É, pois a palavra exata
Que finge, que fere e mata
Como uma arma cruel.

Mas como o Papai Noel,
Há poeta que retrata
A exatidão como grata
Recompensa do papel

De ser poeta e viver
Sonhando em só dar prazer
Sem olhar a exatidão

Por retidão de seu ser
Que é poeta sem saber,
Sem saber se é exato ou não.

Grande abraço. Desculpe meus versos aleijados, mas gosto de brincar com as palavras. Minha gratidão. Laerte.

LuísM Castanheira disse...

as canções que nos oferecem na praça demagógica dos profetas, trazem cansaços e dormência.
as palavras são como vinho que nos servem, já azedo.
que a palavra seja gume, seja lança...e que alcança.
um poema "acordai" de que muito gostei.
um abraço

Tais Luso de Carvalho disse...


Meu amigo Manuel,

Vejo esse seu poema como uma flecha, vai direto e crava, e faz reboliço em alguma parte, em algum lugar. Essa é a diferença da poesia que é envolvida pela beleza do mistério. Nada sai tão claro das cabeças dos poetas. A coisa flui nas entrelinhas. A esses, tudo é permitido, sabe por quê? Simplesmente porque é poesia. A interpretação fica para os leitores, ao contrário da crônica que por ser tão clara fere alguns ou exalta outros. Diz da vida o que ela é sem delongas. Muito bonita, um dos mais bonitos poemas lidos aqui.
Beijos, amigo.

_________________________

Requer o poeta
A palavra exacta
Que agrida e fira
E acorde e se bata
Na praça: danada.


luisa disse...

Em busca permanente da palavra exata, a que me está sempre a fugir.

jrd disse...

Sem limites nem peias a (tua) palavra é tudo, poeta.
Abraço fraterno

Ana Tapadas disse...

Tão bom voltar a ler-te aqui e dizer-te o quão bem escreves!

Beijinho

vieira calado disse...

A palavra exacta já a mim, também me suscitou um poema. E agora veja a sorte dos sem-abrigo, pelo Natal - https://vieiracalado-poesia.blogspot.pt/2016/12/natal-dos-sem-abrigo.html Saudações natalícias!.

Teresa Almeida disse...

"Palavra se requer que seja
Aguardente de vida
Em cada gole..."

É um prazer ler a tua forma perspicaz de manejar a palavra.
Abraço.

Graça Pires disse...

Manuseio as tuas palavras como se fossem minhas para as usar como um protesto...
Um beijo, meu Amigo.

Suzete Brainer disse...

Os caminhos da palavra a circular no caminho da vida,
até a palavra e poeta serem um e nela tem os 4 elementos
(terra, fogo, água e ar) na exatidão de significados
vivos e resistentes "em cada gole..." da vida!...

Neste teu poema existe a presença do guerreiro poeta que
não cala à palavra para a vida.

Sempre bela e singular a tua poesia se inscreve e eu
sempre aprecio imensamente!!

Bj.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

e eu direi apenas

que as palavras podem ser armas de arremesso quando bem atiradas, como estas...

um poema que é um grito de revolta

boa semana.

beijo

:)

Agostinho disse...

A palavra exacta é revolução
basta revestí-la de intenção
O Poeta trouxe-a pronta para acção.

Abraço.

Graça Alves disse...

Ironia e sarcasmo q.b. sobre a poesia e o poder da palavra...
Parabéns
beijinho

José Carlos Sant Anna disse...

Caro Manuel,

Que poema vigoroso! Que lição de poética! É beber dessa aguardente para redescobrir a força da palavra.
Forte abraço, amigo!

Odete Ferreira disse...

É um facto, Manuel, mas conseguir encontrar a "palavra exata" para a hora exata (o título de um poema meu), não é obra de acaso.
Nos teus escritos, já é normal a precisão das palavras a plasmar o pensamento.
Bjo :)

CELEBRAÇÃO DO TRABALHO

  Ao centro a mesa alva sonho de linho distendido como altar ou cobertura imaculada sobre a pedra e a refeição parca… e copo com...