sábado, janeiro 07, 2017

Nem o Anjo, Nem a Espada!


Rasga o poeta as vestes e clama seus passos
Ousando, de queda em queda, o fogo do milagre
E os caminhos de Damasco
E a Iluminação perene
Que o redima.

Não a prece, nem a tempestade. Nem o anjo.
Nem a espada - são de pedra seus passos
E inóspitos seus caminhos.

E é de areia o rosto das miragens.
E é de fel o colapso de seus dias
E de amargura a água dos rochedos.

Mas ousa o poeta o milagre inscrito
Nas humanissimas dores da Humanidade
E nelas lava seu corpo místico
Como se rio fossem...

Manuel Veiga






11 comentários:

Maria Eu disse...

Assim se libertando.

Tais Luso de Carvalho disse...

Fantástico Verdi!! Que força!
Já tinha separado para postar no meu blog, mais à frente...
Obrigadíssima pela partilha!
Beijos, meu amigo. Bom domingo.

Tais Luso de Carvalho disse...

Desculpe, pensei que a janela do poema fosse separada.
Registro também na retina a força desse seu belo poema...
E é de areia o rosto das miragens.
E é de fel o colapso de seus dias
E de amargura a água dos rochedos.


É dureza, amigo.
Beijos. Um bom domingo.

LuísM Castanheira disse...

Amigo, Manuel Veiga:

Este é um poema épico.

Traça-nos um percurso do povo hebraico e do seu profeta.
A humanidade, na dor e mágoa de dois mil anos, é testemunha e vítima.
Pode o poeta ousar lavar este martírio, pois esse sim um milagre.

O Mundo já antes exixtia e certamente com dores iguais ou piores.

E o que retenho?

"...são de pedra seus passos
E inóspitos seus caminhos.

E é de areia o rosto das miragens.
E é de fel o colapso de seus dias
E de amargura a água dos rochedos..."

Quantos mais séculos precisaremos de esperar para que este Mundo, que a todos pertence e é de todos por igual, dê sentido ao título: "Nem o Anjo, Nem a Espada"?

Precisamos de Paz e Harmonia e assim...seremos Humanos.

Belo e filosófico poema, onde rasga todas as vestes..

...na ópera de Verdi.

Um forte e caloroso abraço, meu amigo e que a Paz more sempre consigo.

Teresa Almeida disse...

Não me apetece abandonar o teu espaço.
És grande, poeta!
Beijinho.

Suzete Brainer disse...

Amigo Manuel,

Este teu belíssimo poema convida ao caminho
da vida, nascida na sua própria essência
de escola de aprendizado, a filosofia perene
que cada um é um rio com o tempo da impermanência
e transcendência; além das palavras, além do corpo,
e quem sabe, além do tempo!...

Sempre um privilégio a oportunidade da leitura aqui, Poeta!
Um beijo.

Ana Freire disse...

Numa palavra... magistral!...
É só o que me ocorre dizer sobre o conteúdo deste post... para apreciar e reapreciar...
Parabéns, Manuel! Beijinho
Ana

José Carlos Sant Anna disse...

Ouso repetir-me. Não há o que dizer sobre este poema construído com um rigor e equilíbrio únicos. Numa unidade exata de pedra sobre pedra e por dentro das palavras e por dentro da história. Uma síntese só para os iniciados.
Forte braço, caríssimo poeta!

Agostinho disse...

Poema forte, heróico e libertário.
Que baptismo falta para que as grilhetas se soltem?
Nada a agradecer se as palavras são o ar que nos sustém. Gostei muito, MV.

Graça Alves disse...

Uma linguagem tradutora do caminho incontornável do poeta!
Belíssimo!
Bj

Agostinho disse...

O tom heróico a que o poeta se sujeita é de redenção libertadora das grilhetas-dores que o processo acarreta. E é na atitude inscrita a cada verso que o poeta se sublima na ara sacrificial da poesia.
Muito Bom!

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