quinta-feira, maio 25, 2017

A "Semântica" da Tributação dos Ricos,,,


Qualquer actividade humana, seja na linguagem falada ou escrita, na liturgia da acção política, no “determinismo” da economia, ou na imprevisibilidade das pulsões sociais, qualquer discurso vale sempre mais que o seu estrito “valor facial”…E quando os acontecimentos explodem em dimensão planetária, o sentido repercute-se numa profusão de leituras, que subvertem, tantas vezes, a expressividade originária e os acontecimentos, em si mesmos, ficam reféns das interpretações que deles se apropriam.

Por outras palavras, a “semântica” tende a encobrir esta realidade…

Explico-me. Uns tempos atrás, um multimilionário norte-americano, num artigo irónico, lançou o lancinante queixume para que os poderes públicos “deixem de mimar os ricos”, reclamando ser mais tributado para ajudar a saída da crise económico-financeira, com que o mundo se debate...

Ao que parece, o apelo repercutiu-se, deste lado do Atlântico, com abaixo-assinados dos próprios multimilionários, por essa Europa fora, a “exigirem” serem mais tributados e os governos - finalmente! – a fazerem de conta que sim, que vão tributar os ricos…

Na realidade, não sendo previsível que os multimilionários deste mundo se tenham conjugado todos para passarem, ao mesmo tempo, pelo “buraco da agulha” e, biblicamente, alcançarem o reino dos Céus, não pode deixar de causar estranheza esta pulsão generosa dos ultra ricos, quando muitas dessas fortunas assentam na exploração mais desbragada, se não mesmo na ilegalidade e no crime…

Mas compreende-se a lógica – o capitalismo não dá ponto sem nó!... Face a esburacada economia e à violência das desigualdades sociais, uns míseros 3%, mesmo que nada adiantem para resolver a crise, sempre darão para lavar a face, antes que os deserdados da história, lhes batam à porta. E não, certamente, para comerem brioches, mas para exigirem justiça…

E, se dúvidas houvesse (ou para quem ainda tenha dúvidas), estas cenas de ópera bufa demostram a evidência, a total perversão da soberania do Estado nas chamadas democracias ocidentais. O Estado foi expropriado de seus poderes, designadamente, dos seus poderes tributários. São os “donos do mundo” quem diz se e quando paga impostos.

Temos, portanto, sem disfarce, a “colonização”, do Estado pelos interesses de uma clique de poderosos. E, quando assim é, o Estado e a política estão próximos de atingir o “grau zero”

Remanesce ainda uma questão que diz respeito aos “nossos” ricos caseiros. Ao que parece, apesar do debate sobre a matéria, que prossegue por essa Europa fora, “os mais ricos de Portugal”  torcem o nariz à ideia de pagar mais impostos, quando os trabalhadores e os mais vulneráveis da sociedade apertam o cinto, em nome do esforço patriótico de recuperação financeira do País.

Mas os “mais ricos” de Portugal”, não! A Pátria para eles é o tamanho do respectivo património, a salvo de impostos em algum paraíso fiscal. Já se sabia – a nossa burguesia endinheirada é rapace e unhas-de-fome!...Tanto que até dói! Uma tristeza!...

Apetece mesmo desabafar que para os “nossos” ricos (como acontece com a relva) são necessárias várias gerações para poderem cultivar alguma categoria…

Façamos votos para que não tenham tempo!

Manuel Veiga

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