domingo, maio 28, 2017

"DE COSTAS VOLTADAS" - Armando Silva Carvalho



Sempre agarrada aos dias, com o andar do tempo,
Tudo passa a ser um enigma, a idade é uma senhora meio
Amarrotada
A lamber os jornais e a trocar as linhas
Todas as manhãs.

Acabaram-se de vez as teorias sobre o silêncio,
É outra a filosofia dos ruídos do corpo.
Quem não arrebanhou as metáforas para o inverno da vida
Aquece quando aquece a língua e arde no frio.

Os dias são muito mais altos, parecem olhar para cima as
Gargalhadas
Os cães mais impacientes, mais cínicos,
O meu, que não existe, aprendeu a ralhar e já não ladra,
Quer ser meu compadre, - e é isto – um cómico forçado.

Nunca pensei fazer poemas destes, tão naturalistas.
Andei a reler o Campos, mas não sei subir à sua metafísica.
O homem estragou de vez a vida a muita gente.
O Eugénio é que dizia:
Com o Pessoa só de costas voltadas.

Armando da Silva Carvalho

“A Sombra do Mar” – Assírio & Alvim - Março 2017

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