sexta-feira, setembro 15, 2017

RIBEIRAS EM FLOR...


Estende-se a tarde em avental de luz coada.
E no ar, trazido pela brisa, o perfume de erva-doce
Colhida entre orvalhos e o gosto macio
De lenções amarrotados. Marcas
Indeléveis da explosão dos corpos
Ao arrepio das horas soletradas
Em contramão dos dias.

Estende-se agora a tarde como águas
Inundando as margens. Aluvião a fecundar
Desertos e sedes antigas. Que os dias se contam
Por horas. E são esparsas as marés
No alvoroço das nascentes
Em seu borbulhar festivo.

Derrama-se a tarde em cântico de matinas
E colho essa sinfónica ternura despojada. E todos os timbres.
E todos os afluentes e o murmúrio
Das cascatas dentro da memória
A declinar em madura espera

Percurso das barcas tresmalhadas
E ribeiras em flor. A arderem
Em delírio dos sentidos.


Manuel Veiga



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