terça-feira, outubro 31, 2017
domingo, outubro 29, 2017
Apenas a Curva da Tarde....
Nada. Absolutamente
nada
Na vibração da tarde. Apenas
o caprichoso melro
A saltitar de galho em
galho
E um rio cá dentro...
E o céu a abrir-se na
miragem
E o assédio da ave…
E o queixume do cello a
lamber o ar…
Nada. Absolutamente
nada!
Apenas curva da tarde a
arder em febre
De lume e mar…
Manuel Veiga
sexta-feira, outubro 27, 2017
FRAGMENTOS L
Apressemos
então os passos, Maria Adelaide e desembaracemos de África, que a narrativa, em
que nos fingimos vida, por nós reclama e pelas veredas da escrita havemos de
chegar ao afago que fomos, reviver ainda alguns momentos colhidos em contramão
e cujo eco ainda vibra, como acordes longínquas de uma sonata e a dolência do
violoncelo, a desenhar, no íntimo, as emoções que foram e que ambos sabemos
memória reinventada.
De
resto, que fazemos em Africa? Temos nossas contas ajustadas com África, tu que
a vida narrada de Dona Rosalinda te permitiu espreitar para a tua própria vida
e resolver o enigma de teu nascimento, pacificando a tua angústia, permitindo-te
sublimar o amor de mãe, que não tiveste, no amor de mãe que te preenche. E, de facto,
que te importa a ti, Maria Adelaide, a Tabanca, a degradação da situação
militar, os bombardeamentos cada vez mais frequentes e intensos, as operações
de patrulhamento, os dias contados pelos dedos dos militares da Companhia de
Cavalaria, a dois meses da “peluda”? Um universo de causar tédio, sem qualquer
claridade que possa acrescentar entendimento aos lances desta narrativa, que já
de si, dizes entediante.
Deixemos
pois África e evoquemos nossos passos, num tempo outro, de refluxo de promessas
revolucionárias, ali à mão de colher, “um pouco azul e seria Céu”, tempos que
se finaram “capelas imperfeitas”, e “revolução inacabada”, tempos assim, então,
de refluxo e apascentação de ócios, num anódino Departamento da Administração
Central do Estado, tu eras quem eras, que dizer, mulher de teu marido, a
enfileirar, com algum sucesso, nas hostes do novo poder político e o Alferes,
que alferes já não era, mas um jovem licenciado em Direito, comunista, a que o
zelo apostólico-político do Director Geral, nem um papel na secretária lhe
consentia que justificasse o horário e o vencimento e que, por isso, tal
secretária e tais ócios, os meus e os teus, melhor foram ocupados, em vez dos
burocráticos papéis, pela graciosidade da exibição de tuas pernas, quando, num
gesto de distraída “coquetterie”, sobre a mesa te sentavas, inflamando o olhar
e os sentidos de teu novel amigo, pária que fosse para o Director Geral, no
entanto, para ti um “must”, que nunca conheceras um comunista “assim tão
perto”, de tal jeito que se, de África e da guerra colonial houvera traumas,
nessa tua dádiva e no encruzamento de nossas vidas (e descruzamento de pernas),
tais traumas se evaporariam.
Sim,
é verdade, por África nossa, de guerra e batalhas outras, travadas na luta
corpo a corpo pela sobrevivência física e de superação anímica, forjando o
carácter e arrostando riscos maiores que os medos, calando fundo afectos,
rostos, lugares, pedras, cheiros e sons que eram os seus e ainda hoje
permanecem como uma segunda pele, nessa dialéctica entre o que somos a aquilo
em que nos transformamos, nesse indizível tempo de todas as esperanças, dele e
dos outros, algumas bem mais largas que seus ombros, nesse fruste lugar da
guerra e vidas roubadas, por essa África, Terra-Mãe ubérrima e madrasta de seus
filhos, nessa macabra dança dos homens e seu destino, nesse acaso ou nesse
acinte da sorte, nessa generosidade imaculada e nessa amizade impoluta, o
Alferes perdeu o seu irmão de armas, que irmão de sangue nunca teve e cuja
morte, a dois de dias de regresso, ficará para sempre como eco de uma balada
(nunca cantada) e o gesto tão eloquente de “acender no seu, o meu cigarro”.
Adivinho-te,
Maria Adelaide, sei que te escalda a pergunta nos lábios “mas para que serve
agora, num momento em que é suposto abandonarmos África e a Tabanca este
repisar de uma amizade, dita e redita, com o Valentim? Apenas o teu gosto de
remoer, como serpente mordendo a cauda, numa insensatez amarga que te consome
sem que nada possas fazer para alterar os dias ardidos. Há mais vida para além
da vida vivida, apressa-te por isso, antes que fiques prisioneiro de ti
próprio, dentro desse redemoinho em que te comprazes, quando a tua lucidez fica
embotada na morbidez de uma culpa sem motivo. O Valentim morreu por que assim
estava escrito, não por que, em teu lugar, se ofereceu a evitar-te uma
situação, que ambos sabiam ser-te incómoda, sendo que tu próprio farias o
mesmo, no caso de uma situação inversa. Esquece por isso esses momentos
dramáticos da morte de teu amigo, que nada, nem ninguém pode desfazer, pois que
vida é para sorver nos momentos bons e cuidar, sem amargura, os momentos maus!
Anima-te, meu amigo, há um tempo, lá atrás, de um beijo suspenso e um livro
roubado que exijo, nessa ardência de corpos, que então éramos.”
“Sim,
sim, Maria Adelaide, voltaremos, breve que seja, aos lugares onde fomos felizes,
a essa impetuosa entrega, a essa dádiva pagã de nossos corpos, a esse tempo sem
tempo que fingimos e, fingido somos, no milagre das palavras em que nos
inventamos. Mas antes deixa que escorra a ferida, como punção dolorosa, mas tão
necessária, para sarar o sofrimento e, por escassos momentos, reinventemos, nas
palavras em que nos jogamos, os últimos dias da Companhia de Cavalaria, em
Bissau, de regresso a Lisboa.
Sem
esses momentos de escrita, toda a narrativa seria maculada de traição a uma
amizade e não seriam dignas de nós, nem palavras em que nos jogamos, nem os reflexos
de vida, que nunca seremos”.
O “Quartel da Amura”, instalado na
fortaleza com o mesmo nome, à entrada do Rio Geba, em Bissau, que, outrora fora
entreposto do comércio de escravos, era agora entreposto de chegada e partida
de tropas, mistura de insígnias e militares em trânsito, ostentando fardamentos
diversos, conforme o destino de cada unidade militar, de “camuflado” os
militares na eminência de seguirem para o mato, invejando, por antecipação, os
que estavam de partida, outros, com farda de caqui, amarelo-torrado, ou seja, os
militares em gozo de férias ou em trânsito para embarcarem rumo à “peluda”,
misturados com o traje civil dos oficiais e sargentos, em regime de fim-de-semana,
ou em gozo de férias, pontuada a diversidade de fardamentos, aqui e ali, por
uma farda branca de algum marinheiro em qualquer diligência, ou, até mesmo, um
ou outro oficial do Exército, envergando a farda branca, por uma qualquer razão
protocolar.
Um verdadeiro bric-à-brac de fardas e atitudes militares, pois que, como bem se
sabe, conforme uma paisaníssima regra, o que nos cobre o corpo, de cada um
“fala”, regra de tal forma verdadeira que contamina o próprio status militar, certos de que na
sociedade civil ou na sociedade militar, tal regra deslassa na exacta medida em
que se sobe na hierarquia, no estatuto e no “lugar social”, em que cada um se veste (ou despe, também).
A dois dias de embarcar para Lisboa, a
Companhia era pois viva excitação. Os Oficiais e Sargentos, libertos de obrigações
militares que não fossem as de rotina e reduzidas ao mínimo, passavam as horas
fora do quartel, vestidos à civil, apascentando as horas, bebendo cerveja e
aqueles outros mais dados a fixar recordações, fazendo fotos e comprado
souvenires. As praças, está bom de ver, seguiam percurso paralelo aos oficiais
e sargentos, limitados, como é certo, à sua condição básica, isto é, obrigadas
à autorização de saída e ao recolher obrigatório.
Também o Alferes, adjunto do Comandante
da Companhia de Cavalaria, por acaso de graduação militar e herói a contragosto
desta narrativa a fazer que anda mas não anda, qual cavalo em trote em
picadeiro, conforme as judiciosas opiniões de Maria Adelaide, licenciada em
Línguas e Literatura Modernas, também o Alferes, Adjunto do Comandante da
Companhia de Cavalaria estava desejoso por se libertar da farda e apressar os
dias da “peluda”, mas ossos de ofício são mesmo ossos, quer dizer, não há forma
de os evitar que não seja roê-los, de tal sorte que o Alferes, enquanto seus
camaradas de armas “queimavam os últimos cartuchos” quer dizer, despendiam os
últimos “pesos” e as últimas horas, na moleza descontraída, das ruas de Bissau,
colhendo as últimas imagens e arrecadando as últimas emoções de África, o Alferes,
herói a contragosto desta narrativa, estava amarrado à sua condição e múnus de
Adjunto do Comandante da Companhia, sobre quem impendia, em primeira instância,
a elaboração de relatórios diversos, descrevendo a situação militar na Tabanca,
que, depois de ler, reler e assinar o Capitão Mascarenhas levaria ao Comando de
Batalhão e daí para o Quartel-general e também garantir a adequada apresentação
das contas e espólio de equipamento e armamento, a cargo do 1º Sargento, Chefe
de Secretaria, adjuvado pelo Furriel Miliciano amanuense, pois já se sabe que,
subsidiários à carreira militar de Oficiais e Sargentos do “quadro permanente”,
os milicianos, fossem eles graduados
em Alferes, na classe dos oficiais,
ou Furriéis, na classe de sargentos, seriam
eles a roer os ossos de ofício, para
glória do Exército e lustro da Pátria.
Não havia pois maneira do Alferes
apressar a “peluda,” agarrado que estava, por dever de ofício e ordens expressas
do Capitão Mascarenhas, aos exigentes trâmites e tarefas administrativo-militares,
que o regresso da Companhia de Cavalaria a Lisboa, finda a comissão de serviço,
requeriam com a força e a urgência das marés e das águas do rio Geba a marcarem
a hora de embarque. E, no entanto, bem sabia o Alferes que, algures na cidade, passado
o eixo de pouco mais que um quilómetro de via alcatroada, nas bermas do qual se
erguiam umas moradias de tipo europeu, passada a Praça do Império, espaço
ajardinado, dominado pelo Palácio do Governador, nessa zona de transição, metros
adiante, onde a dominância branca acaba e o crioulo começa, se erguia, em sólida
arquitectura europeia, a Pensão Estrela de que Dona Rosalinda, era proprietária
e gestora única e que bem poderia ser graduada em “instituição de serviço público e quiçá condecorada com a Cruz de Guerra, tão relevantes os serviços prestados à
Pátria, como depósito de ejaculações e sofá psiquiátrico que, qual penso
rápido, se não cura, pelo menos conforta e esconde a ferida. Enfim, desejava
ardentemente o Alferes despedir-se de Dona Rosalinda, não por qualquer apetite de
suas carnes flácidas, mas por que o jovem Alferes não podia esquecer que a
milhares de quilómetros do gineceu familiar, em que fora criado e dos cuidados
e bênçãos de sua Mãe e de suas santas Tias, ambas solteiras e virgens e
zeladoras do Santíssimo Sacramento, não podia o Alferes esquecer, que algures
no Mundo, num buraco negro de sua vida, uma outra Mulher sofrida, mundana e generosa,
amaciou seus dias, com desvelo e carinho, e o protegeu com suas devoções e saciou
seu corpo e apaziguou seu sangue, e lhe deu ânimo e afectuosos conselhos, sem os
quais os primeiros tempos na Tabanca seriam porventura marcados pelo registo da
Derrota. Como poderá, pois, o Alferes, mesmo em memória calcinada e de recriação
do tempo vivido, num tempo, que sem rebuço, se quer literário, como poderá
assim, dessas mulheres, fazer escolha de afectos, se todas elas o quiseram como
filho? “Que lindo és meu filho!...”
assim o quisera Dona Rosalinda, na mesma maternal ternura de passar os dedos
nos seus cabelos. Julguem o Alferes, todos aqueles que, do amor de Mulher, lhe
espartilham as águas …
Andava, por isso, o Alferes descorçoado.
Ainda tentou uma abordagem ao Capitão Mascarenhas, que cortou cerce “nem pensar nisso, nem duas horas nem cinco
minutos, você Alferes Viegas, sabe muito bem que é aqui indispensável…”. O
máximo que arrancou ao Capitão Mascarenhas foi autorização para o Valentim ir
em seu lugar e poder utilizar o jeep, atribuído ao Comando de Companhia. “Se ele que ir que vá e pode levar o jeep,
sim”, rematou o capitão Mascarenhas, remetendo-se de imediato a outro qualquer
assunto.
E o Valentim, foi. Por razões de
fraterna amizade e por outras bem suas, a que não eram estranhas, certamente as
notícias de que Dona Rosalinda renovara o elenco de meninas residentes.
(Continua)
Manuel Veiga
quarta-feira, outubro 25, 2017
Devoto de Meus Altares
De sons longínquos recolho o eco e deles
Faço cítara em meus dedos. Que de minhas dores
Não sei. Nem de medida que me meça
Peregrino eu sou. E devoto de meus altares.
Nunca aio. Ou súbdito.
E a bruma que em meus olhos
Se desvanece assume então a forma de um veleiro
Que nas procelas se enfurece e vai além
Das rotas. E amacia os ventos bem sabendo
Do furor das tempestades.
E perdulário de sonhos desenha o perfil
Das enseadas e das margens e dos portos
Em que altaneiro se despoja.
E festivo se incendeia!
Manuel Veiga
sábado, outubro 21, 2017
Cinzel de Fogo...
Gota a gota o calcário
A desprender-se da água.
Murmúrio
Sobre pedra lisa. Estátuas
frias
A correr por dentro.
Desenho de improváveis
dedos
Num arpejo. Crisálida e
ponto-fuga
A organizar o Acaso
Asas de pedra. E cinzel
de fogo.
E o sopro indizível. Nome
sem nome
No devir das ocultas
formas.
Cântico mudo das coisas
E o gesto demiúrgico.
E a magia Palavra
A iluminar
O Mundo.
Manuel Veiga
quinta-feira, outubro 19, 2017
Nos Esteios do Sangue
Nos esteios do
sangue e nas telúricas vozes
Que em nós
habitam.
Nas profundas
águas
E no altar das
rochas
Tresmalhadas
No zénite do sol
E nos pomares e
Nos veios
Líquidos.
E nos cheiros da
terra lavrada
E nas marcas da
vara tempo
E nos nossos
rios.
E nos lábios
ressequidos
E na sede de mil
anos
A acicatar os
passos.
E nos lutos. E
no silêncio dos sinos.
E no estrondo
das festas
E nos arraiais
festivos
E nas antigas
Danças.
E no corpete das
raparigas
E nos lenços
bordados
E nas
gargalhadas
E nas brigas.
E nos dias
ardidos
E naqueles
outros pregoeiros
Te nomeio,
Terra, Língua, Mátria
E te venero
E te guardo
E te digo
Gesto em que me
rendo
E me entrego
E deslasso
Meu olhar
Altivo.
Manuel Veiga
"Caligrafia Íntima"
POÉTICA Edições - Maio 2017
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Porque sim!
E porque alguns amigos mostraram desejo nisso
Está reaberta a caixa de comentários!
Sejam bem vindos! De novo...
segunda-feira, outubro 16, 2017
INUMANOS DEDOS...
Em cada ausência uma dor
viva
Um adeus que se prende
num gesto de alvorada
Uma persistência ou
teima
Uma duna ou um deserto a
clamar
Mais além e a miragem …
Em cada ausência um
rosto que se recria
Inumanos dedos a
percorrer
As faces da memória
E os ecos …
Como palavra acesa
A mutilação dos corpos…
Manuel Veiga
sexta-feira, outubro 13, 2017
À FLOR DE NADA...
Em todos os silêncios
Uma vibração insuspeita
Uma linha distendida
Um acorde por abrir
Ou uma promessa
Apenas larva…
E um eco da memória
A persistir na teima
Uma caligrafia
Que assoma
Um sopro
À flor de nada…
Ou fonema vazio
Ou uma espera muda
A desenhar-se
Palavra…
Manuel Veiga
quarta-feira, outubro 11, 2017
ÀS PORTAS DA CIDADE...
Às portas da
cidade rarefeita por onde
Os lobos marcam lá
dentro a paisagem em seu registo de sangue
E ódio e se
devoram senhores do tempo
E os cães
famélicos são apenas os restos do banquete
E da apoteose da
morte...
Às portas da
cidade por onde o grito se perfila
E os rodízios e
as alavancas gemem num chiar de surdos
E o canto se
entope nas gargantas. E pela milésima vez
Bandeiras
esfarrapadas cobrem as chagas
Expostas como
fístulas poluídas...
Às portas da
cidade onde fervem as vitórias e todas
As desistências
são possíveis e os heroísmos são verso e reverso
De tudo ou nada.
E os homens se reconhecem
E são barro ou
aço na dimensão comum do seu destino
E da entrega à
incerteza e ao sobressalto...
Às portas da
cidade por onde um poeta sem nome
E sem glória aclara
a voz com cítara desajeitada
E recolhe os salvados
de todos os naufrágios
E com eles as
dores e as fomes descarnadas que se perfilam
Num deserto de
agonia trágica...
Aí nesse mítico
lugar de batalhas destroçadas e de furtivas
Esperas. Aí às
portas da cidade por onde corre o sangue
Fermente e o
medo se fecunda no rugir dos ferros e dos ventos.
Aí nesse mítico
lugar solto meu grito de guerra e me jogo
Farrapo de azul vertido
nas velas rasgadas de um qualquer
Moinho perdido
no horizonte dos dias...
Manuel Veiga
"Poemas Cativos" - Poética Edições - Maio 2014
sábado, outubro 07, 2017
FRGMENTOS XLIX - Continuação
O General procurava ser cordial com os
milicianos, pois bem sabia que o objectivo da sua visita à Tabanca, por
enquanto não revelado, mas apenas sugerido, em diálogo um pouco cifrado e tenso,
com o capitão Mascarenhas exigia, não apenas a adesão do Comandante da
Companhia, que por maiores que fossem as objecções não deixaria, certamente, de
encontrar forma de o convencer, pois mesmo entre oficiais da mesma arma, General
é general e Capitão é capitão e são os generais que determinam, degrau a
degrau, a carreira dos oficiais sob seu comando e qual o oficial de carreira,
que admita enjeitar mais uma insígnia no doirado dos seus galões, de forma que,
possuindo o General Comandante em Chefe, argumentos considerados irrecusáveis
para o Capitão Mascarenhas, havia também que convencer os oficiais milicianos
que obedeciam a outra lógica de aspirações, não de promoção e carreira, mas à
lógica da “peluda”, isto é, a lógica de safarem o pêlo e saírem daquele buraco
negro das suas vidas para regressarem, sãos e salvos, ao seio de suas famílias
e ao afago de seus sonhos.
O ambiente à mesa, sem ser hostil, era, assim,
um tanto ou quanto soturno e embaraçoso para o Capitão Mascarenhas, que
gostaria que os seus oficiais milicianos se comportassem perante o General como
verdadeiros oficiais de cavalaria, desembaraçados, tanto na caserna, como nos
salões, ressalvando naturalmente as distâncias que vão da vivenda de Dona
Rosalinda, naquele cú do Mundo que a Tabanca era, aos galantes serões da Papa Alferes, que lá atrás ficou, moída
de amores pelo Alferes, que ainda não era, mas apenas Aspirante, acabadinho de chegar da Escola Prática de Cavalaria, literalmente filado pela menina
Gertrudes, conhecida por todo o Regimento por Papa Alferes e varrido de
sua casa, pelo zelo familiar de sua augusta Tia, senhora de respeito e excelsas
virtudes, em circunstâncias sobejamente narradas e que para aqui não são
chamadas.
Perante o pesado silêncio, o General,
porém, não se dava por achado. Percorreu um a um todos os oficiais milicianos,
indagando de suas vidas e projectos de futuro depois de cumprirem o seu dever de
defesa da Pátria, ameaçada pelo comunismo
internacional, começando pelo Alferes médico, “Cartuchadas”, único casado e uma filhota de meses, medroso que nem
um rato, mas que do medo fazia coragem, quando em campanha, debaixo de fogo
cerrado, algum militar requeria cuidados médicos, excelente médico, bom amigo e
exemplar camarada e lá foi respondendo fixando o General e calando mais agreste
resposta que era médico obstetra e que
outra coisa que desejava senão ajudar a vida a nascer e as crianças a crescerem
saudáveis e o General a engolir em seco, a passar adiante e a desejar
felicidades e a inquirir o Barbas, lisboeta,
filho de um pequeno industrial, dotado de assinalável “savoir faire” que lhe permitia quase sempre passar incólume por
entre os pingos da chuva, que se limitou ao “politicamente correcto” e, sublinhando as palavras com o seu melhor
sorriso, quase num gracejo, esclareceu que quando
chegasse a Lisboa pensaria no assunto, que por enquanto esperava que os dias
passassem e o General afagando a dupla queixada, ora aqui está o que se chama bom senso, mas meu rapaz – o General
assume-se paternal e, sibilino, acrescenta – porém, os grandes homens não esperam que os dias aconteçam, fazem
acontecer os dias e, sob o olhar circunspecto do capitão Mascarenhas,
prosseguiu o General a sua ronda pelos oficiais milicianos, agora a vez do
Valentim e a fala desabrida e seca serei
professor de História, se sair inteiro desta merda e a admoestação do
Capitão Mascarenhas nosso Alferes
contenha-se, que não se toleram faltas de respeito e General
contemporizador não ligue, Mascarenhas ao
destempero do nosso Alferes, você sabe quanto aprecio cavalos e os homens e os
cavalos querem-se de sangue quente e como um vago sorriso, sem mais olhar o
Valentim, prosseguiu a ronda, agora a vez do Berros da Selva, a ostentar a braçadeira vermelha de “Oficial de
Dia”, e de faces tão vermelhas quanto a braçadeira, tal o momento glorioso,
proclamou, como quem decreta meu General,
depois desta comissão de serviço, ofereço-me no Exército para nova Comissão,
pois desejo prosseguir a carreira militar e o General alargando o sorriso e será bem-vindo à Família Militar, nosso
Alferes, a Pátria necessita de homens como o senhor, que não do regateiam a
generosidade do seu sacrifício e do seu sangue, se for necessário.
O General filara a sua presa, de forma
que foi quase a despachar que fechou a ronda pelos oficiais milicianos e se
prestou a ouvir o Alferes Adjunto do Comandante da Companhia de Cavalaria, por
acaso de graduação militar, que, sentado ao lado do Capitão, fechava círculo e,
portanto, o último a falar e, à sacramental pergunta, respondeu que frequentava a Faculdade de Direito e
esperava em breve terminar o curso e exercer a sua profissão de jurista, não
sabendo ainda se como Magistrado Judicial, se como Advogado e o General, até
então, sem mais largar o Berros da Selva,
olhou com interesse o ocasional interlocutor, herói a contragosto desta mal
cerzida narrativa ora aí está uma
profissão que tem todo o meu apreço – aos juristas se deve o ordenamento e a
disciplina das sociedades! E o Alferes, num vago sorriso, quase num
murmúrio, como se falasse para si próprio a
verdadeira questão, porém, é quando a realidade extravasa a ordem jurídica
e o General, franzindo o sobreolho nessa
altura cá estão os militares para meter a realidade na ordem e eis, em duas
frases, um verdadeiro tratado de filosofia política.
E, sem réplica ergueu o General a voz, para
todos falando agora, mas com o Berros da
Selva em mira e num discurso inflamado, evocou os deveres de todos e cada um perante a Pátria multisecular e pluricontinental,
do Minho a Timor, a vocação civilizadora de Portugal e a defesa da Civilização
Ocidental que se fazia na África Portuguesa, contra a subversão do comunismo
internacional, o exemplo de nossos maiores e, em especial, o Santo Condestável,
D. Nuno Álvares Pereira, patrono da gloriosa Juventude Portuguesa que coragem
se bate em três frentes de guerra subversiva. O Capitão Mascarenhas,
surpreendido com o inflamado discurso, olhava em redor da mesa, como quem
receia a todo o momento uma hecatombe, o Alferes e o médico Cartuchadas, frente a frente, trocavam
de vez em quando olhares cúmplices, o Valentim
torcia-se na cadeira prestes a explodir, o Barbas metia os olhos na mesa, sem mais os levantar, e brincava com
as franjas da toalha como escape para da tensão e o riso. Apenas o Berros da Selva bebia, com devoção, as
palavras e os gestos do General, totalmente submetido, qual passarinho na boca
da serpente. E o General Comandante em Chefe prosseguia no seu discurso,
evocando agora os feitos guerreiros dos portugueses e a heroicidade da
juventude, desde Alcácer Quibir a Aljubarrota, desde Goa, a Nambuangongo para,
em tom dramático e requebros na voz, fixando com intensidade o Berros da Selva, cada vez mais impante e
corado, fora eu jovem e pertencera eu a
esta briosa Companhia de Cavalaria e jamais consentiria que um bando de
maltrapilhos, a dois quilómetros de distância, fizesse gato-sapato de um
destacamento do glorioso Exército Português e, dirigindo-se directamente ao
Berros da Selva, estou certo que o nosso
Alferes me dará razão e está desejoso de desancar esse bando de turras maltrapilhos,
sendo que o seu Comandante de Companhia e eu próprio saberemos reconhecer o
mérito do seu feito militar.
Antes de o Berros da Selva recuperar da emoção e poder causar dano
irrecuperável com sua prosápia e desejo de dar nas vistas, levantou-se o Capitão
Mascarenhas e, em impecável postura militar, permita-me, V. Exª, meu General, que o interrompa para esclarecer que
não é apenas o Alferes Berros da Selva quem está desejoso de acabar com a base
da guerrilha no outro lado da fronteira, todos os oficiais, sargentos e
soldados desta Companhia de Cavalaria o desejam ardentemente. E,
dirigindo-se, individualmente, a cada um dos oficiais milicianos, a começar
pelo Alferes, seu Adjunto, não é verdade,
nosso Alferes? E o Alferes erguendo-se da mesa, que nem uma mola, batendo
os tacões em irrepreensível posição de sentido sim, meu Capitão! E
depois do Alferes, adjunto do Comandante da Companhia, todos os outros oficiais
milicianos, batendo os tacões e em irrepreensível posição de sentido e assim,
um a um, o disseram e gritaram Sim, meu
Capitão! E assim permaneceram, perfilados, qual círculo de ferro, ou
cavaleiros da Távola Redonda, em torno de seu Galaaz, perante um deus da guerra
sentado e abatido, a receber a última estocada, todos os meus oficiais o desejam e eu com eles, insiste o Capitão
Mascarenhas, todos nós desejosos de
aniquilar o inimigo que, a escassa distância, nos ameaça e, com isso, dar uma
grande alegria ao meu General, falta, porém, um pequeno detalhe – a ordem de
operações do Batalhão, que eu dispenso, basta-me uma ordem assinada por V. Exª,
e, dirigindo-se de novo ao Alferes, seu Adjunto, por acaso de graduação
militar, providencie na Secretaria a
redacção do documento para o nosso General assinar.
Então, nesta emergência, o General
Comandante em Chefe, levantou-se, colérico, com um gesto travou o Alferes que
se preparava para abandonar a mesa e cumprir o que lhe fora ordenado e, com voz
trémula de raiva e incredulidade, visando o capitão com o dedo indicador
apontado ao rosto pode você, Mascarenhas,
ter por si a razão militar, mas advirto-o de que a sua atitude não cai em saco
roto – o Exército pode compreender, mas não esquece, nem perdoa.
E sem se deter, abandonou o General
imediatamente a mesa, dispensado o café e o conhaque, ordenou que lhe chamassem o furriel piloto-aviador que tripulava o helicóptero, pois a visita
terminara e desejava seguir imediatamente para Bissau.
Ladeado pelo Capitão Mascarenhas e, dois
passos atrás, acompanhado por toda a guarnição de oficiais milicianos o General,
dirigiu-se, em completo mutismo, para a aeronave e, com os motores a roncar, subiu
de imediato o escaler e já na entrada do helicóptero, sem outro gesto de
atenção ou cumprimento, limitou-se, com breve gesto da mão direita à testa, a
retribuir a continência do corpo de oficiais perfilado e em posição de sentido, até a nave levantar voo.
À distância, ignorando o drama e a trama, a curiosidade mole dos militares e os acenos e os gritos da pequenada negra.
À distância, ignorando o drama e a trama, a curiosidade mole dos militares e os acenos e os gritos da pequenada negra.
De regresso à messe, o Capitão
Mascarenhas, encheu os cálices com Remy Martin, conhaque que apenas em ocasiões
especiais era servido e exclama, perante a libertadora gargalhada geral Meus senhores, celebremos o manguito! Hurra!
E todos os oficiais, encenando, com os braços, o glorioso gesto que
imortalizou Bordallo Pinheiro, responderam em uníssono, Hurra! E beberam num trago...
Nunca, na messe de oficiais, se falou mais do assunto. Mas, lá onde moram, os deuses da guerra decidiram, nesse dia, o futuro
da carreira militar do capitão Mascarenhas.
Manuel Veiga
quinta-feira, outubro 05, 2017
NA INOCÊNCIA DO CANTO...
Na esquiva gruta de
resguardo
Das coisas simples.
E no pequeno nome das
ervas
E no trevo dos caminhos
E na inocência do canto
De todas as partilhas.
E no bordão dos
peregrinos
E no livro das Horas
nacarado.
E na espada. E no selo
das promessas.
E em todas as juras.
E nos maculados pés
E no alvoroço dos
portais.
E na fome dos dias por
abrir
Toda a fecunda dor
De todas as colheitas. E
o sândalo
De todos os cansaços.
(poema reeditado)
Manuel Veiga
terça-feira, outubro 03, 2017
BÁLSAMO E A ÁGUA
No brado úbere da terra
Milhares de fios de
Penélope sobre o cotovelo
Dos dias de espera. E
barcos vazios
E o sangue fermente.
Macerado
Na dor da ausência...
Nesse grito a eterna
sede das "mulheres de Atenas"
Vestidas de negro e de
olhar profundo
De pranto escorrido.
E riso em cascatas
Festivas. Como bacantes
Em febre...
Bálsamo e a água
Com que o mistério do
amor celebra
O corpo dos proscritos…
Manuel Veiga
(poema reeditado)
segunda-feira, outubro 02, 2017
FRAGMENTOS XLIX
Perfilados, aguardavam, pois o General,
Comandante em Chefe, todos os oficiais da guarnição, à entrada principal da
vivenda, que antes fora habitação de Dona Rosalinda e cenário de expiação de
seus pecados, pois bem se sabe, cada um é para o que nasce, no dizer da
experiente senhora que, nos últimos tempos, antes de cumprida a ordem militar “de que todos os civis devem ser
imediatamente evacuados” fora capacho do maligno Gaspar, mais conhecido,
entre brancos e pretos por kamenino
pelo pérfido gosto por garotinhos negros e alma
negra do Armando, seu homem, que o diabo levou, tarde de mais, roído pelas
febres e pelo álcool e, hoje em dia, ela. Dona Rosalinda, pela graça de Deus e
de seus conhecimentos mundanos, empresária de hotelaria em Bissau, senhora de uma
pensão assaz frequentada, por militares em trânsito, desde que ostentem divisas
ou galões doirados, está bem de ver, sendo que devera ser classificado tal
estabelecimento hoteleiro como de “serviço público” e quiçá condecorado pelo
notável “esforço de guerra”, prestado ao “Corpo Expedicionário do Exército
Português”, como sanatório de almas, ou como depósito de ejaculações e sofá psiquiátrico
que, qual penso rápido, se não cura, pelo menos conforta e esconde a ferida.
Aguardavam, pois, o General, à entrada
da vivenda, todos os oficiais, devidamente aprumados e ordenados por
antiguidade militar, que o Capitão Mascarenhas, com o impante Berros da Selva, dois passos atrás,
apresentou um a um, ao que o General correspondeu com um vigoroso aperto de
mão, não sem antes receber e retribuir a continência militar, a que as praxes obrigam
e, na passada, a comitiva dirigiu-se para o interior da vivenda, que antes fora
habitação, cenário de expiação de pecados, ninho de amores serôdios de Dona
Rosalinda e de angústias existenciais do Alferes, herói a contragosto desta
narrativa e, já no interior da vivenda, o Capitão Mascarenhas, detendo o
General por um braço, num aceno chamou o empinocado soldado Assobio, tempos atrás Apoucalhado, ora arvorado em “impedido na messe de oficiais”, que à
distância aguardava ordens para servir as bebidas, antes de as galinhas de
mato, loiras e bronzeadas, pela arte culinária do cozinheiro indígena, que fora
antes de Dona Rosalinda, nos faustuosos dias, antes da guerra, saltarem do
fogão para a mesa dos comensais, e, nesse ínterim, o capitão, carregando os subentendidos,
“meu General, permita que lhe apresente o
“insubstituível” soldado Assobio, sem ele a vida aqui seria o inferno” e o
General, despindo-se de toda a formalidade, pois bem se sabe que “que quem quer colher cocos, há-de trepar ao
coqueiro”, verdade universal até mesmo para General, disposto a engolir
sapos, quer dizer, a apear-se do pedestal de General Comandante em Chefe e descer,
salvo seja, ao tu cá, tu lá, com a
caserna, isto é, à camaradagem própria dos “homens do mato”, em que as
hierarquias militares perdem rigidez para deslizarem para uma zona intermédia e
perigosa, entre a moleza e a “pissalhada” e, assim, com aparente bonomia,
replica o General “tem toda a razão,
Mascarenhas, um bom “impedido” é meia guerra ganha…”, e, à vista do apoucalhado Assobio, armado de seu sorriso
cândido, fardado de branco, luvas, casacão e calças, com faiscantes botões de
metal amarelo e as “aristocratas” dragonas doiradas a descerem em cascata das
ombreiras e o caminhar desengonçado, marca e linguagem corporal, que os
socalcos da Gardunha e o surrão e a manta de pastor lhe imprimiram, o General
Comandante em Chefe, numa mirada de soslaio para a figura, um tanto clownesca, fardada
de branco, em alvo contraste com o verde mesclado das farda de combate, que
todos envergavam, o General prossegue o tom da conversa e remata “aliás, você, Mascarenhas, tem ao seu
serviço, não um “impedido”, mas o czar da Rússia, o que me dá a garantia que,
se a guerra não está ganha, pelo menos, irão terminar os bombardeamentos vindos do
outro lado da fronteira !...”
E, neste tom de ironia ácida emerge à
superfície, o primeiro abalo ou sintoma das preocupações que arrastavam o
General à Tabanca, contrastantes aliás com a relativa distensão do Capitão
Mascarenhas que, naquela emergência, nada mais poderia fazer que não fosse “receber o General o melhor sabia e podia”, consolidada
a convicção de que ele, Capitão de Cavalaria, não seria apanhado “com as calças na mão”, aceitado pois, com
alguma bonomia, a alfinetada do General e, assim, mantendo o tom, chutou
literalmente para o lado “pode o Assobio,
meu General, não ser um Imperador, mas é um verdadeiro Rei, lá isso é!”,
num jogo de subtendidos de que o General apenas detém a chave, depois do
Capitão ter declinado o nome do soldado Assobio,
ora arvorado em soldado impedido na messe de oficiais, Eusébio da Silva Ferreira, por assento baptismal, num qualquer
lugarejo esquecido nos cumes da Serra da Gardunha, talqualmente o “Rei Eusébio”, vindo, em tosco, da
designada Província Ultramarina de Moçambique e que ora se afirmava, neste
tempo narrado, como “rei do pontapé na
bola”, também ele um tanto ou quanto “apoucalhado”
e, “pour cause”, deslumbrava o Mundo como glória
maior do futebol português, qual herói, que, por seus feitos, “se vai da lei da morte libertando”, a
ombrear, em glória nacional, com o Fado e a diva Amália, pois bem se sabe que
Fátima, como coisa do Céu, é eterna e, por esses dias, nesses tempos narrados,
fora abençoada pelo Papa e, assim, “Rei
Eusébio”, que não o Apoucalhado soldado
Assobio, oriundo dos cumes da Gardunha,
mas o outro Eusébio, vindo em tosco de Moçambique e a Amália, Rainha do Fado, um e outro, Fado e Futebol,
em rendida veneração da Pátria, num tempo outro, ainda larva, neste tempo narrado, mas tempo que viria, quando maduro, acabaram por bater com as ossadas no Panteão Nacional, fadista e futebolista lado a lado com a “divina” Sofia, que depois de morta não se importa
nada com a vizinhança, pois se é verdade que,
muitas vezes “os mortos vão a nosso lado”,
não é menos verdadeiro que os mortos não falam, nem protestam.
Entretanto, nestes rodeios de escrita que
tanto irritam Maria Adelaide, licenciada em Línguas e Literaturas Modernas,
veio e a seiva que alimenta esta narrativa que, sem rebuço, ela a heroína diz entediante,
com todos estes rodeios em que a escrita se perde por atalhos inesperados, como
corrente de consciência tresmalhada, a conversa do General, Comandante em Chefe
e o Capitão Mascarenhas, Comandante da Companhia de Cavalaria, evoluía na sua
própria lógica, como fervura que lentamente se levanta e, gradualmente, acumula
pressão até ao entornar da sopa.
(continua)
domingo, outubro 01, 2017
Cantares de Maio Moço...
Maio moço, meu
amor, nos amamos!
Bocas em
delírio incandescentes
E o pulsar da
Primavera
Em nossos
corpos.
Louco, louco
era o vento desse espanto!
Que o beijo arde e as bocas pedem.
Seara
esvoaçante em teus cabelos
E azul em teu
olhar
Indeclinável.
Botânicos os
jardins. Que ciosos, éramos.
Maio moço
agora. E o fragor que canta.
Outros
espantos
Em teus olhos
Cor de mel…
Manuel Veiga
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