quarta-feira, outubro 25, 2017

Devoto de Meus Altares


 De sons longínquos recolho o eco e deles
Faço cítara em meus dedos. Que de minhas dores
Não sei. Nem de medida que me meça
Peregrino eu sou. E devoto de meus altares.
Nunca aio. Ou súbdito.

E a bruma que em meus olhos
Se desvanece assume então a forma de um veleiro
Que nas procelas se enfurece e vai além  
Das rotas. E amacia os ventos bem sabendo
Do furor das tempestades.

E perdulário de sonhos desenha o perfil
Das enseadas e das margens e dos portos
Em que altaneiro se despoja.

E festivo se incendeia!


Manuel Veiga

6 comentários:

Teresa Almeida disse...

Altaneiros teus versos! E festivos. De alguém que vai além das rotas e assume o trilho.
Manuel,saio sempre engrandecida quando te leio.
Que continues a deliciar-nos com as tuas viagens poéticas.

Beijo.

LuísM Castanheira disse...

que bela e poética forma de dizer ' o destino é meu e por mim criado', amigo Manuel V.
o outro, D.Manuel, o primeiro, fundou à 500 anos (1520) os Correios Públicos, para 'morrem' agora.
Hoje fiquei danado por saber que aqueles usurpadores teem uma colecção de selos das mais ricas do mundo.
um forte e saudoso abraço.

Jaime Portela disse...

Acreditar em nós próprios é essencial.
Excelente poema, gostei imenso.
Continuação de boa semana, caro Veiga.
Abraço.

Agostinho disse...

O Poeta não deixa por mãos alheias, nem por falsa modéstia - que é a "arte" dos manhosos -, de traçar as palavras que enformam a utopia, na sua forma mais frágil - a poesia -, talvez, mas, por isso mesmo, mais certeiras e penetrantes: devoto peregrino, nunca aio, [que] vai além das frotas, amacia os ventos do furor das tempestades, desenha o perfil das enseadas e das margens e dos portos [o caminho e os objectivos],altaneiro se despoja, [a culminar] festivo se incendeia.
A utopia de um homem! Quem nos dera a nós que ela se multiplicasse, especialmente naqueles que têm, na vida, responsabilidade no rumo da Nau Catrineta.
Um homem de poesia é um homem utopia!

Tenho andado entre o cinzento e o preto Estou a sair duma aflição: coração.
Mas está um dia lindo. Luminoso! E isso faz bem.
Abraço.

José Carlos Sant Anna disse...

Mas o que disse o Agostinho, tão certeiro, que esquivo de dizer alguma coisa. Mas não esquivo de leitura que ilumina ainda o seu poema. Essa utopia trazida ao mundo para revelar e revelar-se sem corrermos o risco de acender a luz antes da hora.
E como no renovamos a cada leitura de novo poema aqui revelado.
Forte abraço,

Graça Sampaio disse...

Muito bom!!! (as usual...) Verdadeira tecedeira de palavras. E de sentidos. E de símbolos.

Muito bom!

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