sábado, dezembro 16, 2017

PALAVRA EXACTA


Requer o poeta a palavra exacta.
Que agrida. E fira. E, arisca, acorde. E, danada,
Se bata. Na praça.

E no percurso se encandeie em qualquer pormenor
Ainda não dito. E tenha fogo.

E irrompa. E desfile – solene.
E grite. E clame…

E seja água – a palavra. E se atice.
E seja aldrabice. E ferva. Espuma quente
Que nada pode - mas teima.

Palavra que seja – palavra dada.
Palavra-ardente que em sua ardência
Se consome. Maculada.
E pura. E límpida.
E clara.

Que seja de cristal - a palavra!


Manuel Veiga

12 comentários:

CCF disse...

Bem difícil de encontrar, mas se calhar o que interessa é a própria busca.
~CC~

Tais Luso de Carvalho disse...


Não, Manuel, na pena dos poetas as palavras não agridem, talvez se retorcem para levar reflexões ou suas verdades; mas não machucam. Voam com tanta elegância e emoção que dão o recado no lugar certo, no tempo certo. Desvendam o mundo porque só os poemas tem esse direito de entrarem aqui e ali, soltos, em liberdade. Muito diferente de outras formas de literatura, ou da arte, onde a realidade se torna mais dura. Na poesia, há um mistério.
Deixo aqui meus votos de Boas Festas, com muita paz e alegria.
Um Beijo!

Ana Tapadas disse...

Já li noutro lugar, mas aqui é o lugar íntimo para dizer como gostei deste poema!
É essa a palavra, é isso a poesia!

Beijo

Teresa Almeida disse...

"E no percurso se encandeie em qualquer pormenor
Ainda não dito. E tenha fogo."

E tudo isso consegues.
Cada vez mais!

Este é um poema que se bate ao lugar cimeiro.

Beijo, Manuel.

Larissa Santos disse...

Bem bonito!

Hoje:- Viajando através da janela...

Bjos
Domingo feliz com muito amor

Emília Pinto disse...

E é com a palavra,através de versos bem construidos que o poeta fala, grita, critica e louva também E nesta época de magia há muito a louvar, a desejar, a sonhar, mas também a gritar e muito, muito a reclamar. Mas... aqui deixo a palavra que desejariamos que fosse a correcta todos os dias do ano " HUMANIDADE " A ti, amigo, desejo que a sintas à tua votla e que a serenidade e paz que, com certeza estarão na tua mesa de consoada te acompanhem sempre. Um beijinho e muito obrigada pela amizade que tens dedicado ao começar de novo.
Emília

manuela barroso disse...

E é com todos esses dons que ela possa ter - e tem -que o seu domador nos inflama, acalma, aquieta, inquieta com o assombro a que se expõe.
Fantástico Manuel!
Beijinho.

José Carlos Sant Anna disse...

Palavra exata, como a queria Flaubert. Preferencialmente, é como a deseja, suponho, afirmando a sua capacidade criadora. E no poema está enunciado esse caminho de palavras, talvez já percorrido, descoberto, em estreita relação com a realidade instaurada pelo poeta. Mesmo que “seja de cristal”.
Fortíssimo abraço, caro amigo!

Suzete Brainer disse...

Poema de Poeta que sabe os caminhos
das palavras, num toque de mágica,
com a arte da libertação dos seus significados, fica observador no exato
instante poético, desta , a palavra,
cristal na limpidez em fonte da
inspiração! ...
Poema imenso no percurso cristal
da grande poesia.
Beijos, Manuel.

LuísM Castanheira disse...

💎..."Que seja de cristal - a palavra! "
Não precisa o Poeta de "requerer"....,
todas as palavras lhe correm nas veias e delas compõe emoções.
Um caloroso abraço, Manuel.
Desejo-te:
Felizes Festas e Um óptimo Ano Novo (e o resto deste), extensível à Família e Amigos.

Olinda Melo disse...


A palavra dada e um aperto de mão, dizia-se que era palavra de cavalheiro, não precisava de papel assinado nem de testemunhas. Mas, tudo é passível de mudança e hoje com tudo provado, por a+b, a palavra volatiliza-se. Importa voltar à seriedade da palavra, palavra dada, palavra exacta, na qual se enraíze a honestidade e o bem-fazer.

Talvez aqui também o poeta queira imprimir à palavra exacta aquele fogo de exigência necessário ao que não é feito nem cumprido levando a nossa sociedade para o abismo do cinzentismo e da incompreensão.

Nestes termos, há que dar lugar à palavra clara, límpida, mas também geurreira.

MAIS UMA VEZ: BOM NATAL.

Abraço.

Olinda

Agostinho disse...

E que ele corte com exatidão
E que dela se beba o vermelho incarnado
De sim é de não

Caro Poeta gostei da força da tua expressão que a vida é sempre uma luta e contradição.
Abraço de boas festas.

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