quinta-feira, março 01, 2018

Pletórica Dança...


Rebelam-se as alturas e os cumes
E os percursos são agora agitação de nuvens  
E os olhos a arder na distância.
Nada neste azul é paisagem
Grito apenas de milhafre
A rasgar a vertigem.


Mais além a passagem muda
E o apelo dos dedos em desespero
A soletrar rugosidades.
Descida à raiz d´água
Na gretada sede
Dos lábios.

Famintos são os corpos
Em simulacro de anjos a humanizarem –
Dulcíssimos! – o coro dos proscritos
E a pletórica dança
De inacessíveis
Reflexos.


Manuel Veiga



8 comentários:

Kique disse...

Poema fascinante
Cump
https://caminhos-percorridos2017.blogspot.pt/

José Carlos Sant Anna disse...

Esta superabundância de reflexos espera do leitor disponibilidade para compreendê-la porque aqui se veicula uma realidade viva, que se agita, ainda que não o queiramos, numa dinâmica de vários sentidos. É, então, a hora de nos perdermos também n'as alturas e n'os cumes e participar do universo criado e aceder às suas próprias raízes.
Um bom final de semana, caro amigo!

Teresa Almeida disse...

A poesia rebela-se e revela um poeta de cumes. E de raiz. E de sedes.
“Os olhos ardem à distância” numa beleza de excessos em que me revejo. Parece inscrito nos picões do Douro. Um rio de infinitas inspirações.

Beijinho, amigo Manuel.

Larissa Santos disse...

Boa tarde. Muito bom! Adorei :))
Hoje: - Ilusório Flagelo
.
Bjos
Votos de Sábado Feliz.

manuela barroso disse...

Nem sempre a distância é inacessível, nem sempre são os milhafres, os mensageiros do inatingível.Os dedos podem despertar com a intensidade do azul, numa nascente onde ainda reflexos são água cristalina.
"Dulcíssima", Manuel!
Beijinho

Suzete Brainer disse...

Um poema muito belo numa profundidade filosófica,
na dança das partículas de vida-luz-sombra numa
ebulição interior...

Neste poema de linguagem tão bem trabalhada e "erudita"
na riqueza das construções imagéticas, a nos deixar
rendidos aos questionamentos existenciais, o corpo
num movimento ao encontro da alma e ao mesmo tempo tão
distintos em sentires e desejos assim:
"Famintos são os corpos
Em simulacro de anjos a humanizarem-
Dulcíssimos! - o corpo dos proscritos
E a pletórica dança
De inacessíveis
Reflexos."
Poema imensamente belo inscrito numa excelência rara.
Muito grata por esta leitura aqui!!!
Um domingo alto astral, caro amigo Manuel.

Olinda Melo disse...

Tudo se agita neste belo poema, Caro Manuel Veiga. É uma dança de energias apenas pressentidas pelos pobres mortais, nos quais eu me incluo.

Boa semana, amigo.

Abraço

Emília Pinto disse...

A vida é uma " passagem " que nos obrigaram a fazer e cá estamos nós, seguindo em frente, tendo que ultrapassar, a cada instante que passa, tudo o que ela nos coloca à frente. Há de tudo nesta caminhada e, quando sorrimos pelas belas flores que ladeiam a estrada, imediatamente a " paisagem " muda e um precipicio nos aparece à frente, obrigando-nos a parar e, quantas vezes a recuar e mudar de caminho.Somos assim, pobres mortais, vivendo num complexo de emoções, ora rebelando-se umas com as outras ora abraçando-se regozijadas com a nova e deslumbrante paisagem. Paisagens diferentes...instantes diferentes e com eles sentimentos diferentes...assim é a vida...assim somos nós, amigo. O que nao muda é a qualidade e beleza da tua poesia. Parabéns Manuel!, Um beijinho
Emilia

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