sexta-feira, junho 08, 2018

Na Metamorfose Dos Ecos.


 Catedrais de pedra e silêncios íntimos
Na metamorfose dos ecos…

Lábios-beijo na orla das cambraias
E dos linhos. Devoções que se elevam
Na febre dos olhos…

Tecem ogivas e capitéis os dedos
E altares no rosto das ausências

E o lusco-fusco da tarde. Dolente
Arde, chama azul, o círio. E devotos anjos
Descem dos altares

E derramam incensos na maceração
Do tempo. Corpo inaugural das horas
Na fermentação de quimeras
E dos mitos.


Manuel Veiga



11 comentários:

Pedro Luso de Carvalho disse...

Um poema de grande beleza, amigo Manuel. Gostei imensamente. Parabéns.
Um grande abraço.
Pedro

Tais Luso de Carvalho disse...

Em cada linha vejo lindas imagens, muito bonito o bailar dessas palavras formando um belo poema, Manuel!
Beijo, amigo.

Jaime Portela disse...

Há devoções assim... que se vão alimentando da "fermentação de quimeras e mitos"...
Excelente, como sempre. Parabéns pelo talento poético sempre presente por aqui.
Bom fim de semana, caro Veiga.
Um abraço.

LuísM Castanheira disse...

parece que vejo os vitrais, a luz no silêncio da pedra e os rituais...

belo poema, desta "capela ogival...", onde se guardam crenças.

Um bom fim-de-semana, meu caro Amigo Manuel Veiga.

Teresa Almeida disse...

um poema que evidencia a arte sacra e seu abraço com a arte poética. Como se conduzisses o leitor a uma visita "sui generis". Até os anjos desceram dos altares.
Que maravilha, amigo Manuel!

Beijo.

Ana Freire disse...

Belíssima catedral, erigida através das suas talentosas palavras, Manuel...
Faço minhas, as palavras do Luís Castanheira... tive a mesma sensação...
Beijinho
Ana

Graça Sampaio disse...

Chamar-lhe-ia «Idade Média». Tão devotamente poético!!

Olinda Melo disse...


"Na fermentação de quimeras e mitos". Tomo a liberdade de ler o poema de baixo para cima e de tentar enquadrar essa explosiva força poética nestas duas palavras que nos envolvem desde o alvor dos tempos. Posto que tudo é ilusão (quimera) ou quase tudo, a própria realidade nem sabemos bem se existe, o que nós vemos, em princípio, é a representação dessa realidade. E os mitos? Ai os mitos, voluntariamente expostos, aqui, de forma poética e quase religiosa. Na verdade, não poderíamos viver sem os mitos. Diria que eles são tecidos com os melhores fios da nossa imaginação, de proezas de deuses e de heróis, representando os alicerces da nossa essência, nessa esfera, ligando-nos uns aos outros nos nossos anseios de identidade comum.

Tudo é possível, todas as metamorfoses e todos os ecos.

Abraço

Olinda

José Carlos Sant Anna disse...

Já se disse que o poema é a soma de todas leituras que nele se deixa. Não rei longe, basta deliciar-me com as imagens, com as alegorias encerradas neste poema e pensar nos significados que cada palavra brotam.

Forte abraço, caro Manuel!

Agostinho disse...

Numa cascata de subtís imagens o Poeta constroi um belíssimo poena.
Descem dos (seus) altares, sim, anjos e, aposto, que em marmóreas colunas se elevam no espaço que levam ao céu.

Abraço.

Suzete Brainer disse...

Poeta,

"Catedrais de pedra e silêncios íntimos
Na metamorfose dos ecos…"

As vozes interiores intercaladas pelos silêncios que
moram na nossa catedral-alma e a poesia na catarse,
ao mesmo tempo, no ritual da evocação deste infinito (azul)
em corpo poema, na metamorfose das horas (a)guardadas!...

Uma beleza imensa neste poema enigmático e velado numa
íntima luminosidade.

Adorei, meu amigo.

Tu és admirável na tua arte poética, Manuel.
beijo.

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