domingo, junho 30, 2019

CARTAS DE MAREAR




Cartas de marear
Na coreografia dos sentidos

E a música das palavras.
Gestos de navegar. Subtis ondas
De ti em mim.

Teu corpo barco
E minha boca declive
E marinhagens
Acesas

Chama. E flor do grito.
E mar aberto.


Manuel Veiga


quinta-feira, junho 27, 2019

CONVOCAREI TODOS OS GESTOS



Um dia serei montanha na escalada
Das palavras. E planície no rubor
Das madrugadas…

E convocarei todos os gestos
E todas as cinzas. E todas as viagens.
E todos os rumos tresmalhados…

E deles farei um archote vivo…

E desatarei então todos os ritos
E serei oficiante de todos os milagres
E hóspede de todos os mostos

E no topo mais alto uma devoção
Muda. E um rosto evanescente
A soletrar, glorioso, a imensidade…


Manuel Veiga

terça-feira, junho 25, 2019

ANTÍTESE...





No corpo do poema
Um murmúrio. Ligeiríssima fuga
Na dispersão da tarde...

Lá fora o Mundo.
Dentro o sopro de uma sonata
Em cada estrofe...

Manuel Veiga

Perfil dos Dias - pág.83
MODOCROMIA Edições - Maio 2019

segunda-feira, junho 24, 2019

Leve Pestanejar Do Sonho





Nada. Nem um suspiro. Nem um bulício.
Apenas o leve pestanejar do Sonho.
A espraiar-se em azul-turquesa.

E aquela ilha!... Ao longe.
Secreto coração do Mundo
Em toda a parte

Batendo em alvoroço
De lume...

Manuel Veiga 

Perfil dos Dias - Pág. 41
Modocromia Edições
Maio 2019

sexta-feira, junho 21, 2019

A CARTA QUE NUNCA TE ESCREVEREI - Take 16






Regressemos, pois, a Terras do Demo e retomemos o fio das coisas ali acontecidas, desvendando outras, ainda placenta e, no corpo mártir da escrita, que tudo aguenta, projectemos outros escorregadios acasos e acontecimentos, alguns já por demais conhecidos, mas que, solicitados a subirem mais uma vez ao palco, irão abrir-se a novos olhares, que é como quem diz, a novas determinações da escrita, matéria ígnea, onde se tece a trama da narrativa e se fazem e refazem veredas, percursos e atribulações das sofridas personagens e as não menos esforçadas as dores do escrevente.

Zé Canhoto que, anos atrás, chegara aquelas terras, vindo sabe-se lá donde, sem ter onde cair morto, definhava, ano após ano, não de sonhos, que esses se reduziam ao mínimo, ou seja às urgentes determinações da sobrevivência, elevando graças a Deus por lhe conceder um dia atrás do outro, mãos fortes e corpo rijo para arrostar dificuldades, mas definhava, porém, na inclinação e no gosto para se “ajeitar”, à carga e à canga, como meeiro e homem de mão de seu amo e senhor Federico Amásio Jacinto Silvestre Campelo do Rego, gosto e inclinação que iam esmorecendo, com o passar do tempo e, como se não bastasse a quebra da sua predisposição anímica, para se ajustar à carga e à canga, na proporção aliás das soldadas prometidas e nunca pagas, vinham também somar-se as rezinguices da mulher, que neste ofício de narrar, nem sequer nome há-de ter que lhe possa conferir vida e identidade próprias, mas apenas como mulher do Zé Canhoto será reconhecida, pois que mulher para o ser, o será em cada momento e para sempre e, assim naqueles rudes tempos e para além deles, a mulher há-de “apagar-se” na sombra do homem, que dela serve para apaziguar o cio e fazer filhos, assim, também, exactamente, com aquelas duas criaturas de Deus, bastante esquecido, aliás, tal Deus, das humanas necessidades materiais do casal e da sua ranchada de filhos, assim, pois, o Zé Canhoto e sua mulher, naqueles lugares e naqueles nefandos tempos de miséria e servidão, empenhando energias e ânimo para além de suas forças, a moirejar, escravos de terra áspera e improdutiva, em que apascentavam minguado rebanho de cabras e arrancavam uns escassos alqueires de centeio, que mal matavam a fome à filharada e que, em sua servidão de meeiros de Federico Amásio Jacinto Silvestre Campelo do Rego, senhor daquelas terras e muitas outras por todo o Concelho e nos concelhos limítrofes, entregavam metade da escassa colheita, fosse ela produtos da terra ou criação de animais e a quem depois recorriam para sobreviverem, exauridos os precários meios de subsistência, acrescentando dívidas e favores, numa espiral de dependências e exploração, a que ficavam acorrentados até à morte.

Acontecia, porém que Zé Canhoto e sua mulher, noites adentro, depois de saciados os corpos e acalmado o cio, ficavam abraçados, nus e indefesos, a ruminar na vida e espreitar o céu pelas frinchas do telhado, como quem semeia estrelas na escuridão da noite. A mulher valia-se, então, desses momentos de lassidão e, rodeando-se de feminis artifícios e escolhidas palavras para não lhe soltar o génio, mansamente, passo a passo, que é como quem diz, palavra a palavra, governando o fio da conversa, amorosamente, ia levando a água ao seu moinho, dando seus conselhos sobre as preocupações diárias e insurgindo-se contra aqueles fatais laços que o prendiam ao seu senhor e amo, Federico Amásio, ó “home”, pois tu não vês que o Amásio abusa de ti? Não lhe deves nada, “os favores”, que dele recebes, saem-te bem do corpo, assim, inoculando, a sofrida mulher na alma grande do Zé Canhoto, tão grande e generosa a alma, quão fecundas suas longas mãos e seu corpo esguio, assim, a clarividente mulher, inoculando, com a sabedoria, que nas vidas sofridas se colhe, na mente embotada do companheiro, a semente da insubmissão e abrindo, como flor virgem, o sentido de justiça, que se quer acreditar habite no coração de cada homem, por mais embrutecido que esteja e enganadoras que sejam as circunstâncias da sua vida. 

Esquecia, no entanto, a mulher as afrontas pessoais, para que o seu homem não as pudesse adivinhar, já que de outra forma era desgraça certa, pois é bem mais fácil acertar um tiro na testa de um homem que numa perdiz a voar e o Federico Amásio estaria então morto e enterrado, do que não se arrependeria, por bem feito que era, mas mais que certo também era ficar viúva, com o marido vivo, mas na prisão ou no degredo para toda a vida e ela, com uma ranchada de filhos atrás, como lhes poderia acudir que não fosse entregá-los à caridade pública, pedintes, porta a porta, enxotados como cães tinhosos, dormindo ao relento, andrajosos e famintos, arrastando a sua miséria, de povoado em povoado, a desfiar jaculatórias dê-me uma esmolinha pelas almas do Purgatório …

Calava, por isso, a mulher as afrontas, não apenas afrontas antigas, jovem e garrida, como uma papoila ruiva, pastora de rebanho de ovelhas, que ao domínio da Casa Grande pertenciam quando, um dia, em lugar ermo, sem que ninguém pudesse valer-lhe, seu amo e senhor, Federico Amásio Jacinto Silvestre Campelo do Rego, regressando da caça, dela abusou, valendo-se da força bruta e ela, jovem e frágil, dos dentes e das unhas, bravia, deixando vincos e registo de unhas e de dentes no rosto do abusador, cada vez mais fremente de animalesco desejo, a cada golpe de resistência da rapariga, agora seu corpo rendido debaixo do corpo do abusador, joelho entre as coxas nuas, mãos da mulher aprisionadas pela mão possante do energúmeno que, com a outra, a filava pelo sexo e a acariciava com os dedos, até a sentir rendida e a diluir-se na humidade e a abrir-se ao membro masculino que a fendeu de um golpe e as nuvens e o céu num rodopio fantástico e a sua cabeça atordoada e seu corpo fresco e jovem a perder o tino e acompanhar ritmo e o orgasmo da mulher e do homem fundidos e o grito a ecoar na solidão do ermo e as ovelhas espavoridas e os cães a ladrar e agora a mulher a recompor-se e a ajeitar saia e a limpar o sangue virgem e a tapar as coxas e o homem a acender um cigarro e a bolsar a bestialidade assim putinhas e bravias é que eu gosto e com o dedo indicador em ameaça se dás com a língua nos dentes já sabes onde vais parar – só tens a ganhar se estiveres calada.

Calava, pois, a mulher as afrontas. Calava mas não esquecia. E muito menos perdoava ao seu verdugo. Como a si própria não perdoava aquela sina e aquele sarro, ou aquele gosto, ou aquele fogo que a consumia, aquela ardência dos seios e tremura de pernas, aquele fluxo sanguíneo a percorrer-lhe o corpo, aquele cálido estremecimento, aquele desejo, que abominava, quando seu verdugo, seu amo e senhor, Federico Amásio Jacinto Silvestre Campelo do Rego, dela se aproximava e a tomava, fazendo dela gato-sapato e toma cuidado, mantém o bico calado – aqui a puta és tu! – não vais querer que o cabrão do Zé Canhoto saiba.

O dia haveria de chegar. De sua vergonha e catarse. E de sua limpeza de alma.

Manuel Veiga



quinta-feira, junho 20, 2019

JOGO DE DADOS...




Uma linha recta
Uma superfície lisa
E um ponto neutro.

Em cada extremo
As perdas e os danos
De meu balanço.

E os ganhos?

Invejosos os deuses
Cedo os levaram
Num jogo de dados...

Manuel Veiga

Perfil dos Dias - pág.87
Modocromia Edições - Maio 2019

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Como em outras ocasiões tem acontecido,
ficam encerrados os comentários
durante os meses de Verão.

Não deixarei de publicar,
ainda com menor frequência,
nem me dispensarei de visitar os blogs
de minha predileção e de deixar comentários,
quando for o caso.


Beijos e abraços
M.V.

quarta-feira, junho 19, 2019

AZUL. VERMELHO. E ÁGUA...


Amáveis dias no coração dos homens
Frémito e rito de aves nos imutáveis destinos
Onde todas as coisas são simples
E sem mácula…

Inesperada, porém, a flor vermelha. Abrupta.
E o declive das rochas. Precipício de cinza
A diluir-se na paisagem
E o gesto de colhê-la.

Azul, vermelho e água.
E o abismo da vertigem a incendiar as margens
Vésperas de um tempo liberto
E de seu canto.

Ferida aberta!...


Manuel Veiga

domingo, junho 16, 2019

RITUAIS DE FOGO


No gume das palavras cálidas
E naquelas outras que se desfazem na boca
Como rubis líquidos.

E também naquelas que se negam
E eternas permanecem irredutíveis
E, na iminência do fogo, se recolhem
Ao interior do silêncio.

Nesse território de afeições
E luminescências onde as esferas são capricho
E o poeta se paramenta de vestes
Usurpadas – sacerdote ou mago! 

Eco de pederneira e combustão
De delírios. Em sua dança e obstinado aferro

E na sinfónica desordem das coisas festivas
Onde todas as auroras são apenas
Reflexo côncavo. E registo breve.

Nesse magma de impossibilidades eternas
Palato e língua na memória dos mostos
E aguilhão de ausências.

Nessa danação de Fausto
E Orfeu enclausurado...

Ergo meu cálice em cerimónia íntima
E em rituais de fogo te proclamo
Vestal e Templo.

E te digo Poema
Fogo e Sarça

E te nomeio.
E te guardo...


Manuel Veiga

quinta-feira, junho 13, 2019

JARDINS DE BABILÓNIA ...


Nos céus de Babilónia um jardim
Habitado. Secretos apenas os nomes
E os rios. E a linha das mãos.
E o alvoroço.

E a líquida ternura
Onde repousa tresmalhado melro
E o festivo cântico.

E a delicada flor. E a pétala
A tombar no rosto. E o perfume
Que se insinua.

E a urgência
Da hora que passa…


Manuel Veiga


terça-feira, junho 11, 2019

Poema "Insurgente" ,,,


Quando um dia for poeta quero ser
Poeta – porém, poeta “insurgente”
E mergulhar em seus abismos.

Então meus dedos hão-de acirrar os ventos
E serei hóspede de infinitas tempestades
E criarei inimizades. (Que meus amigos
De mim sabem. E assim me querem
Desabrido.)

E serei aquele cego das esquinas.
A tocar concertina e exibir fístulas.
E arremedar jaculatórias piedosas. E sem rima.
E a piscar – brejeiro - o olho.
E a apalpar meninas - desprevenidas –
Está mais que visto!...

E a fazer grosso manguito à moeda
Que lhe atiram…

Meus versos então hão-de arder – vivos.
Ou rasgados. Ou serem papel nas latrinas.
Mas nunca terão barbas.
E metáforas serão poucas.

E hei-de rir com meus botões.
Até que os cães acirrados
Se cansem de rosnar à toa
Tão frustrados quanto o dono
A ladrarem à lua e a correrem
Atrás da sombra. Perdidos.

Manuel Veiga

(poema editado)



RÚBEN DE CARVALHO - Um Homem Integral e Íntegro





segunda-feira, junho 10, 2019

Correm Cristalinas Águas


Correm cristalinas as águas e leve brisa
Se insinua nos ramos dos salgueiros.
Soltemos velas, Lydia. Que serenas
Vão as barcas ...

De rosas coroemos a fronte
E o cais de pétalas e de lírios.

E que deslizem sobre águas cristalinas
Serenas barcas. E sem mágoas
Arrostemos o destino
Pagãos e puros.

E louvemos os deuses
Que nos quiseram lúcidos.


Manuel Veiga

Nota: Lydia é uma criação literária de Ricardo Reis


quinta-feira, junho 06, 2019

A CARTA QUE NUNCA TE ESCREVEREI - Take 15


Que estranho mistério, ou coincidência, ou que linhas invisíveis no acaso de suas vidas ligava, pois, aqueles dois homens, Manuel Maria e José Augusto, tão diferentes e tão diversos, para além do acaso do seu nascimento, ambos na mesma aldeia ignorada, algures em Terras do Demo, José Augusto, marcado pela rebeldia e nascido uma boa meia dúzia de anos antes, filho primogénito de um tal Zé Canhoto, que um dia, chegou aquele lugar, vindo, como as águas, de norte para sul, sabe-se lá donde, para se fazer meeiro da Casa Grande, por decisão e favor de seu amo, Federico Amásio Jacinto Silvestre Campelo do Rego, caldeado em forte carácter pelas agruras da vida o dito José Augusto, de ora em diante também “Esquerdino”, pois que, na piedosa cerimónia baptismal, que o ungiu, o anátema de “canhoto”, que seu pai carregava, zé-ninguém que àquelas paragens chegara sem ter onde cair morto, tal anátema, dizíamos, por desígnio dos poderes terrenos e inspiração do Espírito Santo foi gloriosamente "transubstanciado" em sibilante “esquerdino”, sem que, para tanto, houvesse necessidade de consulta ou diligência suplementar, pois que esse era desígnio de Deus e vontade dos homens e neófito exibia distintos e poderosos padrinhos, marcado pois, José Augusto pelas circunstâncias de, não apenas de seu nascimento, mas também de baptismo e caldeado nas agruras e na heroicidade de uma vida de luta contra o poder fascista e, neste tempo literário, em que a narrativa decorre, Presidente da Comissão Administrativa de um grande Município da Área Metropolitana de Lisboa, por vontade da população do Concelho o elegeu, por braço no ar, em amplos e democráticos plenários da população, que desígnios da vida, portanto, ou que capricho da sorte lançariam, pois, aqueles dois homens tão diversos, José Augusto Esquerdino e Manuel Maria, este, porém, neste tempo narrado, ainda sem apelidos conhecidos, nascido, contudo, no mesmíssimo lugar distante de Terras do Demo, e criado e educado, numa instituição religiosa, que, para acolher jovens, em contramão com a vida, tais instituições são criadas, protegido por um jovem Padre Operário, que lhe domou as angústias metafísicas e o incitou nos seus juvenis ardores políticos e intelectuais e, neste tempo da narrativa, no auge da Revolução de Abril, empenhado em dar corpo ou expressão prática a uma Arquitectura para o Povo e, para isso, ali estava, naquele amplo salão, decorado, em toda a volta, por retractos e símbolos republicanos, raízes fundas que nem o fascismo conseguiu arrancar, salão nobre de reuniões solenes e agora também espaço de diversas utilidades e local de permanentes reuniões com múltiplas comissões de trabalhadores, comissões de moradores e outros organismos populares de base, que por todo o concelho germinavam e conquistavam o direito à palavra e ali vinham, aos Paços do Concelho, apresentar seus problemas e preocupações e a exigir dos seus eleitos apoio, meios e instrumentos para os resolverem, pois que não se concebe revolução, que se queira democrática, se os reais interesses e anseios do Povo não estiverem na vanguarda da acção política.

Tão diversos, portanto, aqueles dois homens, com vidas tão distantes e tão distintas e, no entanto, haveriam de unir-se nos mesmos ideais, forjando fecundos laços, em que a amizade seria não mais que latência, qual leito de rio, percorrido por frondosas águas e se alarga aos percursos da corrente, sem do leito se procurar saber, assim, também, a amizade daqueles dois homens que, estando presente, a envolver suas vidas, dela não se davam conta, tão tomados estavam, um e outro, pelo desígnio maior de dar corpo e gesta aos nobres ideais da Revolução de Abril, a que dedicavam toda energia, não havendo lugar a outras vivências, cálidas que fossem, a não ser a generosa entrega à causa da emancipação do Povo do Concelho, estimulando e apoiando participação das populações resolução dos seus problemas concretos e na afirmação dos seus direitos e, nesse desígnio revolucionário “tirar o fascismo da cabeça das pessoas”, bem sabendo, um e outro, o proletário José Augusto Esquerdino e o intelectual Manuel Maria, quão limitadas as suas forças e frágeis as suas capacidades, perante a magnitude da tarefa, se não fossem escoradas na vontade colectiva, “aprendendo, aprendendo sempre” , como se a voz do poeta, fosse palavra de ordem
(…)
“Pra aqueles cujo tempo chegou
Nunca é tarde de mais!
Aprende o abc, não chega, mas
Aprende-o!
E não te enfades!
Começa! Tens de saber tudo!
Tens de tomar a chefia!”

É pois exigência de entendimento e da ordem das coisas narradas que se persigam os fios desatados para que se possam desvendar finalmente os laços e veios e, para além deles e do acaso de suas vidas, podem determinar seu carácter e unir homens tão diversos, em diversas pontas do tempo, como sejam José Augusto Esquerdino e Manuel Maria e que fatais razões do destino ou determinação da escrita poderão levar a que estes dois homens vão entroncar, como em águas matriciais, naquele local ignorado, algures em Terras do Demo.

E, nesta servidão da escrita, como escravo agarrado ao remo, e barco a rodopiar, entregue à força das correntes, sem contudo perder o rumo, teimando agora o escrevente em galgar o espaço e tempo, em larga passada, bem maior que a perna, extrair da oculta vibração das coisas e do (dis)curso dos acontecimentos matriciais, a matéria ígnea e as diversas linhas com que cozem ou se descosem os personagens.

Regressemos, pois a Terras do Demo, dir-se-ia em viagem “de sul para norte” ou, como penitência da escrita, em busca de sentido que a redima.

Manuel Veiga






quarta-feira, junho 05, 2019

MADRIGAL...


 Um dia serei frémito. E paisagem
No bailado de teus olhos.

E serei estio
E teu corpo-seara.
E serei rio.

E serei vinho. E serei bago.
E a doçura de teus lábios.

E serás rosa.
E a ardência dos espinhos.
E serás pétala.

E devoção.
E sacrário.

Em ti guardado.


Manuel Veiga






terça-feira, junho 04, 2019

POESIA "À SOLTA "- SACAVÉM - 7 a 9 de Junho

Biblioteca Municipal Ary dos Santos, em Sacavém
dias 7, 8 e 9 de junho - Bienal de Poesia

 "Poesia à Solta" 

As atividades têm início no dia 7 de junho, às 18 horas, com um Sunset Poético.

Às 21 horas, o jardim da Biblioteca recebe Manuel de Oliveira, acompanhado por Rão Kyao e Filipa Pais, numa performance preparada especialmente para este evento.

No dia 8, decorrem duas atividades para o público infantil. Na primeira, às 11 horas, Sofia Fraga, autora do livro Julião, o melro-poeta, relata a aventura de três amigos improváveis que viajam rumo a um concurso de poesia.

E às 15 horas, terá lugar uma nova sessão das Tardes Mágicas, com a equipa de animação das bibliotecas municipais de Loures a apresentar Estrela da Tarde.

No mesmo dia, a sala Herberto Goulart, recebe, a partir das 16h30, Sena de Phoesia, uma conversa de poetas onde se pretende homenagear os centenários de Sophia de Mello Breyner Andresen e Jorge de Sena.

E, às 18 horas, decorre a apresentação do livro de poesia organizado por Natália Correia, Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica.

À noite, o jardim da Biblioteca promove um encontro da palavra poética com a música, com o espetáculo André Gago – Poemas e Canções

A manhã de dia 9 de junho vai ser dedicada ao público mais novo com As Canções do Professor Jorge ao vivo, e a partir das 16h30, será apresentado o livro de poesia Aves Migratórias, de Gabriela Ruivo Trindade.  

Sunset Poético regressa no dia 9, às 17h30, com Rita Taborda Duarte a apresentar Animais e Animenos.

E a encerrar a Bienal o Karaoke de poesia com poetas locais.

Participe! Todas as atividades são de entrada livre.








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domingo, junho 02, 2019

E SERÁS CORPO...


Um dia serei a forma mais breve
De um poema.

E a palavra rubra à flor
De meu desejo...

Destrancarei então nossas bocas
E serás pasto. E serás corpo.

E grito.

E serás percurso. E viagem.
E enseada. E serás porto.

E serás gruta
Onde fundeio...


Manuel Veiga







CELEBRAÇÃO DO TRABALHO

  Ao centro a mesa alva sonho de linho distendido como altar ou cobertura imaculada sobre a pedra e a refeição parca… e copo com...