sexta-feira, novembro 29, 2019

CASCATA DE ENLEIOS...


Abre-se a paisagem ao horizonte
Em delírio de olhos desmedidos
Como se foram ainda açucenas
E o regaço aberto.

E o joelho incauto
Desguarnecido.

E viesses com a leveza das águas
Em mandil de tempo coado
A desalinhar a orla
Dos sentidos.

Ergo-me declinando o nome.
Caminheiro que sou de devoções pagãs
Tão faceiras, que nelas me reinvento,
Em néscio alvoroço.

Música que invento no declive do corpo
Assim exposto. Toada de abismos.
E coleante rumo dos lábios
E profundos rios.

Águas bravias
E cascata de enleios
E mistérios.

Manuel Veiga



terça-feira, novembro 26, 2019

SOMOS O QUE SOMOS ...


Somos o que somos.
Nem os rios correm para nascente
Nem as velas contra o vento...

Nem a trepidação das cidades
É campo de açucenas...

Quem a este porto se arrima
Sabe ao que vem. Não ao chá das cinco.
Nem a papos-de-anjo…

Somos o que somos ...

Vento suão de mil anos.
E o gelo das montanhas.


Manuel Veiga




sábado, novembro 23, 2019

INVENÇÃO MINHA...


As palavras, meu amor
São apenas insónia
Um rumor mudo
E a flor selvagem
Com que enfeito
Teus cabelos...

Para além delas
E das suas cinzas
Existe uma chama
E esta coisa estranha
De saber-te
Como se foras
Invenção minha...

Manuel Veiga



terça-feira, novembro 19, 2019

A URDIR POR DENTRO


Polpa dos lábios. Maduros frutos.
A desprender-se

Palavra interdita. Voa.
Ainda tímida.

Se acolhe
Em fervor mudo
De meu peito

E sílaba a sílaba
Se inaugura.

Ritmo e percurso
De euforias. Plenas.

Já não lábios. Bocas.
E harmonia de salivas

A urdir por dentro
Tempestade dos corpos

E dulcíssima
Orquestração dos hinos…

Manuel Veiga





segunda-feira, novembro 18, 2019

HEI-DE PLANTAR UMA ÁRVORE...


Um dia plantarei uma árvore
No meu jardim de prodígios. E hei-de regá-la
Todas as manhãs com o suor do meu rosto
E o melhor de meus afectos.

E até com o sangue de meus pulsos
Se for o caso. Para que a árvore cresça
E floresça. E se desprenda generosa
Em apetecíveis frutos.

E abrirei então, de par em par, meus portais abertos
E hei-de gritar ao Mundo e a todos aqueles,
De amor, famintos…

E a todas as invejas
E a todas as pestes
E a todos os ódios…

“Este é meu corpo, tomai e comei!...”

Mas ninguém de mim espere que ofereça
À ofensa, a outra face. E, de hipócritas perdões,
Me faça espúria Lei…


Manuel Veiga

(Poema editado)

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JOSÉ MÁRIO BRANCO !...




quarta-feira, novembro 13, 2019

Vida Em Fingimento Dos Sentidos


Filigrana dos sentidos
E esta ausência
Interior de mim
Escorrendo
Fio a fio

Vida?
A urgência dos corpos
E as sôfregas bocas
E os feminis seios desatando-se
Impossíveis rosas
Em meus dedos.

(Vida agora em fingimento)

Sou talvez
Aquele velho cabeceando
Ou a impaciência
Do moscardo
Ou o grito da gaivota
Lá ao fundo

Ou talvez apenas
A bebedeira de meus olhos
E o infinito-nada deste azul tão claro...
Tão vibrante que arde
E de tão frágil
Se faz mundo


Manuel Veiga


domingo, novembro 10, 2019

CONSUMAÇÃO DE PRODÍGIOS


No indizível magma em que todas as formas
Se demandam – movimentos de alma
E tempestade dos corpos…

E tudo freme em agitação
E no arbítrio dos Acasos…

No eterno sopro dos Nomes
Onde as salivas são pomares
E absurdas metafísicas
E grão de sal a percorrer
O interior das águas
E a erguer a majestade
Dos Oceanos…

Nesse Tempo sem tempo
Em que as memórias
São apenas resgate
E o Devir é fermento
De altivas glórias
E apocalípticos
Lugares …

E na libertação triunfal de Eros
Nessa metamorfose de mostos
E consumação de prodígios
E amorosa dádiva …

Inscrevo o primordial grito – raiz de Língua!
E reclamo a Festa de teu corpo
E minha Fala eufórica – girândola
De fogo e água…

Manuel Veiga



quarta-feira, novembro 06, 2019

MÚSICA E FLOR ...


Flor é uma flor, é sempre flor!...
Música é música - é outra música…
Música e flor em MI maior
Perfume de dor na dor de meu amor...

Sopro de flor - aquela dor na minha dor
Perfume de música em Dó maior.
Música e flor em redor - na dor da flor.
Música e dor de meu amor...

Sopro de música - flor de amor!
Perfume de flor em LA menor
Na dor da flor. Música e flor
Canto de musa a meu favor.

A mesma música – a mesma flor…
Timbre de flor em SOL maior
Música e flor na dor da minha dor
Em vão, a flor na música da dor!...

Guardo música e flor na dor maior.
A meu favor – canto, musa e flor.
Perfume e dor de amor maior
No canto e na dor de um trovador!

Manuel Veiga

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SOPHIA !...


domingo, novembro 03, 2019

ESBANJAMENTO(S)


Esbanjamento(s) I

No pórtico das cidades futuras
Onde todas as passagens acontecem
E todos os ritos. E todos os registos

Uma inscrição
E dois retratos
Apenas:

“Esbanjaram amor como proscritos…
Por isso são Eternos! …" 

Manuel Veiga

Esbanjamento(s) II

Que se esbanjem todas as letras
E todas as sílabas. E todas as métricas.
E que colapsem todas as palavras.
E todas as caligrafias…

Inventaremos um abecedário de gestos
E eloquentes silêncios. Para dizer
Esbanjamento de amor
Em fim de tarde!...

Manuel Veiga

Esbanjamento(s) III

Na orla dos lábios onde uma flor desponta
E de tão rubra se incendeia…

E no declive dos seios, onde habitam
Pássaros de fogo e o ritmo de um bailado
Em meus dedos…

E no percurso do frémito a inundar
Os corpos como rio em alvoroço

E na enseada aberta de espuma
A ferver em ondas de ternura
E peregrinas bocas

Sorvo o suco de teu mosto a escorrer
Em esbanjamento de línguas.
Como salivas vivas.

Manuel Veiga



sexta-feira, novembro 01, 2019

A CARTA QUE NUNCA TE ESCREVEREI - Take 21


Uniu-se, pois, Camilinha, pelos sagrados laços do matrimónio, com o senhor da Casa Grande, Federico Amásio …, e, com tal casamento, assim Deus o permita, será fundada uma nova linhagem, com vantagens múltiplas para as duas nobres Casas, que alargarão a sua influência social e política e, no mesmo lance, será resgatado o prestígio abalado do visconde de Malafaya, roído pela sífilis e pelas dívidas, que isto de frequentar casinos e putas deixa sequelas graves e arruína famílias.

E que pode fazer uma frágil mulher, pouco mais que adolescente, que não seja obedecer aos desígnios de Deus e dos homens, pois que, mulher piedosa e fidalga, por bravio que seja o seu génio e bem outros os sonhos, deve aceitar, sem recalcitrações ou queixumes, os desígnios da Providência Divina e a vontade dos homens, sejam pais, irmãos ou maridos, pois que maior glória para mulher fidalga e filha extremosa, do que sacrificar vida e sonhos e jogar-se toda num casamento providencial com homem abastado e poderoso, un peu sauvage é verdade, um tanto rústico e violento, é certo, e com fama de maus costumes, sem a menor dúvida, mas se Paris vale uma missa, também a sua nobre família merece, se não uma missa, um casamento faustuoso, ao arrepio das águas, que permitirá afastar a litigância dos credores e a desonra e – Deus não o há-de permitir! – o opróbrio da miséria. Mais valeria, mil vezes, a morte!...

Assim, Dona Camila Simone de Bernardette e Malafaya, chegada à Casa Grande, de sul para norte, a assumir culpas e pecados, que não dela, mas de sua fidalga estirpe e, imbuída dos mais nobres propósitos, decidida a aceitar, sem júbilo ou mágoa, as escolhas que a vida lhe reservar e a casar com homem que mal conhece e lhe causa, não amor, mas repulsa e, consciente da sua nobre missão de mulher, predisposta a conceber filho barão, o qual, por força das coisas estalecidas e a vontade dos homens, será o rosto visível, herdeiro e depositário do património e dos fidalgos pergaminhos das duas Casas e, pour cause, afastar o opróbrio a Casa Malafaya e a honra perdida do senhor, seu ilustre Pai, que isto de frequentar putas e jogo arruína famílias e desonra os homens mais ilustres.

E, a seu lado, para seu conforto e amenizar o degredo e a solidão na Casa Grande e melhor poder suportar aquele casamento ao arrepio das águas, a Camilinha terá sempre consigo a amizade e a dedicação da crepitosa Violante, de rijas e abundantes carnes, ali chegada, àquelas terras, montada, presume-se, qual fogosa amazona, em poderosa azémola e, para seu proveito ou perdição – vá lá saber-se! – um tanto estouvada, coitada, mas julgue-a quem poder, pois as tentações são muitas e carne é fraca.

A festa do casamento foi de arromba. Passados meses ainda se comentava, por toda a região, o número de convidados e o dispêndio de reses abatidas e almudes de vinho bebidos, durante os três dias de festa, para a qual foram convidadas as autoridades civis e religiosas e, à devida distância, quer dizer, para bem longe dos salões, a população, criados e serviçais da Casa Grande, engalanada com garridas colchas e panos festivos e flores silvestres derramadas pelos caminhos e veredas por onde o cortejo nupcial haveria de passar.

Dos pantagruélicos banquetes poderá ainda hoje falar um certo Zé Ninguém, à Casa Grande chegado, por esses dias, sem ter onde cair morto e, logo ali nomeado Zé Canhoto, por quem, sendo amo e senhor, tem o poder de nomear, fazendo jus à sua crença natural, sua dele, zé-ninguém, que por hábito adquirido, ou entorse congénito, tem queda para usar preferencialmente a mão esquerda e que, sôfrego e famélico, em lugar da malga de caldo e dura côdea, lhe caiu, como sopa no mel, lauta ceia, com os restos do festim que, de travessa em travessa, andavam abandonados, pela cozinha, não tendo então passado despercebido ao ilustre titular da Casa Grande e noivo recém-casado, nem a voracidade, nem a compleição física, nem o tamanho das mãos que hão-de ir da Terra ao Céu na febril imaginação de uma criança, que há-de ser, no corpo desta narrativa que se diz literária, nem a queda para o uso da mão esquerda, que filava os nacos de carne numa fome insaciável e o zé-ninguém, erguido no esplendor da sua recente alcunha, o Canhoto, não ficou um dia, nem dois, mas toda a vida, pois com risco de sua própria vida e sua valentia, haveria de salvar seu senhor e amo, de tiro certeiro, na feira de Trancoso, e, tamanho o susto que, logo ali, lhe foi prometida e jurada, soldada certa e constituído meeiro da Casa Grande, numas terras longínquas e sem préstimo e que pela força de seus braços haveriam de ser produtivas e sustento da ranchada de filhos e da mulher que recebera como sua, por decisão de seu amo e senhor e vontade Deus e, agora, noutro tempo narrado desta escrita, que se diz literária, a mulher a atazaná-lo “és um banana, o teu amo abusa de ti e tu não és capaz de te impor” e a verdade é que, por vezes, é obrigado a dar-lhe razão e a reconhecer que a sua servidão e funesta dependência de Federico Amásio é bem mais lamentável que a mansidão de um burro de carga, pois seu amo e senhor o explora e o carrega, sem que, ele, explorado, ao menos, seja capaz de disparar um coice e, então, a remoer tais inquietantes pensamentos, o Zé Canhoto, que zé-ninguém já não era, decide atirar a carga ao chão e enfrentar seu amo para requerer o que lhe era devido em soldadas nunca pagas e prometidas, quando num ajuste de contas, na Feira de Trancoso, onde apenas os dois, amo e criado, à força de varapau, correram com uma seita de ciganos, não sem que, antes, à traição, um deles tenha disparado arma de fogo e, se não fora a agilidade e destreza, com que Deus o dotara, a ele um zé-ninguém, funesta teria sido aquela hora para o Federico Amásio, que seria, então, estendido por terra, em estertor de morte, como um javali abatido.

Estava, pois, Zé Canhoto decidido a dar-se ao respeito e custasse o que custasse, a repor, se não a justiça, ao menos tentar endireitar a seu favor as suas ditas varas, pois, bem se sabe, que a Justiça dos ricos e poderosos é uma e, outra justiça, bem diferente, para os “zé-ninguém” deste mundo e nunca se viu um rico e poderoso abrir mão de seus privilégios e seu poder, sem que se tenha que lhe forçar a mão, isso a vida lhe tem ensinado, a ele um zé-ninguém, aquelas terra chegado, alguns anos atrás, em tempo de casamento e faustosa boda de seu amo e senhor Federico Amásio, com uma amável senhora, que, vinda de sul para norte, ao arrepio das águas e cuja vida sofrida em tal casamento, apesar de ser mulher distinta e fidalga é, por demais, exemplo das injustiças do Mundo, vítima do poder arbitrário dos homens, seja Pai ou Marido e que, para afastar do opróbrio a Casa Malafaya e a honra perdida de sua Família, a nobre e frágil senhora se sujeitou a enxovalhos e afrontas, que, pela sua condição, estaria longe de imaginar.

Deixemos, porém, as lucubrações do Zé Canhoto para a elas retornarmos, se tal o exigirem os caprichos da escrita e os humores do escrevente, mas anotemos, porém, a lenta metamorfose, qual larva em seu casulo, isto é, a trilha da sua lenta ascensão a estádio superior de consciência, sempre precário, aliás, e ao conhecimento dos logros e engodos com que se tecem as relações entre os homens, em que uns quantos, poucos, tudo podem e mandam e os restantes, muitos, que nada podem e para nada contam, sendo que aqueles que mandam, afirmam sempre assim ter sido e sempre assim continuará a ser, e os outros, que nada contam, para valerem alguma coisa, têm de libertar-se da canga onde estão amarrados e quererem, até ao limite da revolta, uma vida outra, mais justa e igualitária, para todos, mas isto é dizer de escrevente e contas de outro rosário, que para aqui não são chamadas, pois o que agora interessa, neste transe da escrita, que se quer literária, é deslindar as malhas que a vida tece e onde se enredam os enganos e desenganos de uma jovem e fidalga senhora, vinda de sul para norte, ao arrepio das águas, para contrair matrimónio com o senhor da Casa Grande, Federico Amásio.

O casamento foi de arromba, como ficou dito. O mesmo, porém, não poderá dizer-se da noite de núpcias. Fatigada da viagem e das emoções do dia, a festejada noiva recolheu cedo aos seus aposentos, em companhia da dedicada Violante. Federico Amásio, senhor da Casa Grande e, anfitrião da festa, ficou com os convidados, recebendo cumprimentos e elogios e, dando vazão ao seu primarismo atávico e à sua fama de folgazão, despachou o visconde de Malafya e sua luzidia comitiva e mais convidados e desceu ao terreiro, dançou, comeu e bebeu como um ogre, com criados e serviçais e, quando bem entendeu, por entre gargalhadas e piadas de mau gosto, anunciou, a cair de bêbado e a alimentar a galhofa, que se retirava por momentos, pois estava na hora de ir papar um petisco que estava a sua espera.

Os passos e a voz avinhada de Federico Amásio, a bolsar prosápias e vulgaridades, trôpego de bêbado, ecoavam pelos corredores, e a dócil Camilinha, a encolher-se toda, assustada como pomba tímida, ante o gavião e, trémula, encolheu-se ainda mais sobre o leito, abraçada à sua fiel Violante e, de repente, o temido momento, e a entrada abrupta e cambaleante do noivo nos aposentos nupciais, com uma garrafa de vinho dependurada da mão e a rir como um alarve, ordenou, com um gesto, a saída da crepitosa Violante, que num donaire inesperado se curvou a cumprimentar o noivo e, à passagem, o esboço de um sorriso, onde germinavam mal contidos propósitos, a que desbragado noivo, correspondeu com uma gargalhada alarve e uma sonora palmada do harmonioso traseiro da sorridente rapariga.

Trémula, no seu canto, a Camilinha, com o medo estampado no rosto e as lágrimas a aflorarem nos olhos, ainda balbuciou sou sua esposa e tem direito sobre o meu corpo, mas por alma de quem lá tem, meu marido, esta noite não! Mas Federico Amásio nem sequer a ouviu, cego pela bebedeira, mais do que pelo cio e girava em volta da presa, que procurava abraçar, anda cá, minha cachorrinha, que esta noite vais ver o que nunca viste, e esquivava-se lesta a Camilinha e esse jogo de gato e rato mais excitava o marido e a jovem noiva sem outra saída ainda que retraída e a medo consentiu que o marido se aproximasse de garrafa mão, da qual bebeu um longo trago e quis que também a mulher bebesse levando o gargalo da garrafa aos seus lábios e a jovem senhora, transida, fingiu o golo e o marido, com o polegar, limpou a gota nos lábios da mulher e quis beijá-la e hálito do homem e o arroto alarve e o odor fétido do vinho e o nojo e o asco a treparem e a mulher a subir em dignidade e a empurrar o homem para se libertar do peso do corpo e da prisão do amplexo e o homem bêbado a tombar no chão alcatifado e a erguer-se lívido e a cólera a subir no sangue e a raiva e o bofetão no rosto pálido e o insulto soez sua puta vais saber como te mordem e a violência do homem sem escrúpulos e bêbado, ajudado pelo diabo, e o estupro e o sangue e o grito amordaçado e o Federico Amásio, Senhor da Casa Grande na cama a ressonar como um suíno e a doce Camilinha a chorar lágrimas de sangue.

Nunca mais a Camilinha foi a mesma. Fechou-se. O marido servia-se dela, mas ela fechava-se, terra infértil, como seu ventre, Maria, incapaz de gerar filho e sem Espírito Santo que a guarde. Passou a ser a Machorra, assim conhecida por toda a parte e assim nomeada por quem tudo manda e tem o poder de nomear.

O Visconde de Malafaya morreu pouco depois, roído pela sífilis. E o seu património executado pelos credores. E sem gravidez que se visse, a Camilinha, cada vez mais só no Mundo, é agora a Machorra. Entregou-se a Deus e as obras da Igreja, que grandes serão seus pecados, a que Deus não concedeu o dom da fertilidade. Que mais poderá uma frágil mulher fazer?

O marido, Senhor da Casa Grande, há muito que não a procura. Dormem em se aposentos separados. Desde sempre sabe que a estouvada Violante, de crepitosas carnes, ocupa o seu lugar na cama do marido. Não se importa. Cada um é para o que nasce. E Deus, em sua infinita Sabedoria bem sabe o que faz.

E quando a estouvada (e incauta) Violante apareceu grávida, opôs-se, terminantemente, farei escândalo e todo o Mundo ficará a saber quem e o pai! a que seu marido expulsasse a pobre de Cristo da Casa Grande. Ela amaria aquela criança como se fora seu filho. E seria criado com o amor de duas mulheres.

Quando a criança nasceu, foi ela quem, como madrinha, levou o neófito à pia baptismal. E lhe chamou Manuel Maria. E com pai incógnito foi registado.

Manuel Veiga

Orquestração de Hinos

  Polpa dos lábios. E a interdita palavra Freme… E se acolhe Em fervor mudo E sílaba-a-sílaba Se inaugura… Percurso De euf...