domingo, abril 29, 2012

Neorealista me confesso...

Entre patrão e operário,
Entre operário e patrão,
O que é extraordinário
É pretender-se união.

Não vista a pele do lobo
Quem do lobo a lei enjeita.
A propriedade é um roubo.
Ladrão é quem a aproveita.
Negar a luta de classes
É negar a evidência
De um mundo de duas faces,
De miséria e de opulência.

Armindo Rodrigues
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A Ana e o António trabalhavam
Na mesma empresa.
Agora foram ambos despedidos.
Lá em casa, o silêncio sentou-se
Em todas as cadeiras
Em volta da mesa vazia.

"Neo-Realismo!" dirão os estetas
Para quem ser despedido
É o preço do progresso.

Os estetas, esses, nunca
Serão despedidos.

Ou julgam isso, ou julgam isso.
Mário Castrim

sexta-feira, abril 27, 2012

Noticias SEARA NOVA


Foi publicado o nº 1719 - Primavera 2012 da revista
SEARA NOVA.

Destaco do conjunto das colaborações
"Momento de Poesia",
com um poema inédito de
URBANO TAVARES RODRIGUES



segunda-feira, abril 23, 2012

Latejante flor de Abril...


Abre-se o canto latejante flor de Abril
Alvoraçada...

Asas ainda no sonho emoldurado
Que guardamos e polimos
Em gargantas roucas de memória
E amoroso desvelo...

Linhos perfumados ou a rudeza da pedra
Onde estendemos o pão
Veredas insaciáveis por onde germinamos
Frutos ignorados nas margens
Como se Tempo fosse de sentido único...

O caudal de nós derrama-se em excesso
Que nada em nós é mesquinho
Nem o suor, nem as lágrimas, nem a desmesura
Do querer onde implantamos nossas bandeiras...

Filhos do vento e das madrugadas
Incendiamos o olhar no rosto da utopia
Que tecemos nos dedos. E na avidez precária
De nossos gestos soltamos antigos ritos
Que rebentam grilhetas de tão pródigos...

E no cerco dos dias presentes
Na cidade sitiada de sombras
Nos obscuros heróis corroídos
Herdeiros do medo e da fome

Caldeamos o bronze e o modelamos o timbre
Em grito de Liberdade...

Viva o 25 de Abril!...





 


sábado, abril 21, 2012

EUNUCOS POLÍTICOS? ...

... “O Estado privatiza, mas antes financia, recapitaliza, investe a favor dos privados que ficarem com as empresas e quem paga é a CGD, isto é, os contribuintes. Algum banco privado quereria financiar a “privatização” do BPN nas condições que o Governo obrigou a CGD a fazer?

É aqui e desde já que o PS tem de demonstrar que é oposição e que não foi  reduzido ao estatuto de eunuco político. O PS não pode aceitar pacificamente a privatização das águas, ainda que de forma disfarçada; a dos aeroportos e do espaço aéreo; a da TAP, que é um atentado ao interesse nacional; a dos correios; a de um canal da RTP, que não consente nenhuma justificação plausível, etc.

A política de privatizações do Governo não visa sequer a realização de receitas para diminuir o défice, pois que, como já se viu com o BPN, o Governo vai conseguir a proeza de perder dinheiro com as privatizações.

Trata-se de um simples programa de desforra política e de obsessão ideológica, com cuja consumação o Estado aliena soberania e capacidade de regulação económica, comprometendo o futuro do País e deixando os consumidores indefesos perante a pirataria organizada.

Um Partido Socialista que se respeite a si próprio não pode assistir a isto de braços cruzados, sob pena de nunca mais ser levado a sério.”

Miguel Sousa Tavares – in “Expresso” – 21.04.2012       

quinta-feira, abril 19, 2012

Acorde(s) a três mãos...


Pinta os lábios de vermelho, Avó
Pinta
Que o Totó grita
Nele
Todas as cores
Do arco iris
Para ti...


Ilustração - António (4,5 anos)

domingo, abril 15, 2012

Nem de esquerda, nem de direita?

Um dos artifícios em que a ideologia exprime a sua eficácia reside na plasticidade dos seus efeitos. Explico-me: sejam quais forem as contingências históricas em que a ideologia se manifesta a sua função é sempre a mesma, ou seja, interpelar os indivíduos concretos como sujeitos de uma relação imaginária com as suas condições reais de existência.

E o seu horizonte é sempre o mesmo – levar os indivíduos, no quadro de cada ideologia em concreto, a aceitarem livremente as sua condição social; ou seja, dito por outras palavras, o funcionamento da ideologia visa, no seu conjunto, contribuir para realização e auto-reprodução das relações de produção existentes nos diversos contextos histórico-sociais.

Neste sentido, a ideologia, nas suas metamorfoses, é “atemporal”, quer dizer, fora do tempo histórico, pois em todas as épocas e lugares a ideologia prossegue o seu desígnio.

E “não tem exterior”, dado que todos os indivíduos são por ela interpelados, seja qual for o “lugar ideológico” em que individuo concreto se encontre, todos eles impregnados dos mesmos valores. A ideologia será tanto mais fecunda quanto maior for a emersão dos sujeitos nos respectivos valores ideológicos, que então se apresentam como “evidência” irrecusável.
Todos os crentes aceitam “livremente” a sujeição e a obediência aos cânones revelados, mediante os quais os membros da comunidade (religiosa ou laica) mutuamente se reconhecem.

Assim seja!”: – Eis a fórmula consagrada de todas as obediências, implícita nos mecanismos de sujeição de todas as ideologias (religiosas ou políticas, laicas ou ateias, seja qual for o contexto histórico ou geográfico em que se manifestem)!...

Geralmente, quando se fala destas coisas, tem-se sobretudo em vista, as chamadas ideologias políticas, o que se compreende dada a relevância da instância política no processo de dominação social, mediante o exercício do poder de Estado.

Por outro lado, é sabido que a sociedade não é homogénea e que os cidadãos destinatários da política têm entre eles interesses divergentes e opostos e, tantas vezes, conflituais, pelo que não é possível reconhecimento mútuo de todos os cidadãos, no quadro de uma mesma (ou única) ideologia política.

É assim que as chamadas democracias representativas se exprimem na diversidade de propostas ideológicas e políticas, que possam corresponder aos interesses das classes sociais e grupos de interesses em confronto em dada sociedade.

Mas nem por isso as classes sociais dominantes deixam de procurar a hegemonia ideológica e política, tendo em vista esbater diferenças e manietar resistências, em vista a sujeição ideológica e política das camadas da população, cujos valores e interesses fundamentais estão nos antípodas daqueles que lhes são propostos.

Os dias de hoje são exemplares neste domínio: não faltam por aí conceitos e propostas propagandeadas como verdades absolutas, com que se pretende desarmar ideologicamente as classes sociais esmagadas pela crise e pelos ditames da senhora Merkel.

A permanente invocação do “interesse nacional”, o propalado “consenso europeu”, ou “inevitabilidade” das medidas austeridade que se abatem sobre os portugueses de mais fracos recursos, constituem prova irrecusável dessa artimanha de ocultação dos verdadeiros beneficiários das políticas de desastre nacional, realizadas em nome do País.

E, noutro plano, o alegado “fim da História”, hoje desacreditado; ou a proclamada extinção das diferenças entre a esquerda e a direita, que ainda se ouve referida... 

Porém, onde há exploração haverá sempre resistência. E nesse processo de luta, as classes exploradas criam a sua própria ideologia, que se pretende imune às pressões e ideias das classes dominantes.

Uma ideologia alternativa, portanto, que proclama os valores de liberdade e de igualdade concretas, pois que se propõe libertar os homens concretos, na solidariedade dos seus processos de luta e de trabalho, dos grilhões da servidão.

Assim seja!...      

segunda-feira, abril 09, 2012

EXPLICA-ME COMO SE EU FOSSE MUITO BURRO...


O QUE É O BCE?

- O BCE é o banco central dos Estados da UE que pertencem à zona euro, como é o caso de Portugal.

E DONDE VEIO O DINHEIRO DO BCE?

- O dinheiro do BCE, ou seja o capital social, é dinheiro de nós todos, cidadãos da UE, na proporção da riqueza de cada país. Assim, à Alemanha correspondeu 20% do total. Os 17 países da UE que aderiram ao euro entraram no conjunto com 70% do capital social e os restantes 10 dos 27 Estados da UE contribuíram com 30%.

E É MUITO, ESSE DINHEIRO?

- O capital social era 5,8 mil milhões de euros, mas no fim do ano passado foi decidido fazer o 1º aumento de capital, desde que há cerca de 12 anos o BCE foi criado, em três fases. No fim de 2010, no fim de 2011 e no fim de 2012 até elevar a 10,6 mil milhões o capital do banco.

ENTÃO, SE O BCE É O BANCO DESTES ESTADOS PODE EMPRESTAR DINHEIRO A PORTUGAL, OU NÃO? COMO QUALQUER BANCO PODE EMPRESTAR DINHEIRO A UM OU OUTRO DOS SEUS ACCIONISTAS?

- Não, não pode.

PORQUÊ?!

- Porquê? Porque, porque, bem... São as regras...

ENTÃO, A QUEM PODE O BCE EMPRESTAR DINHEIRO?

- Aos outros bancos: aos bancos alemães, bancos franceses ou portugueses.

AH PERCEBO, ENTÃO PORTUGAL, OU A ALEMANHA, QUANDO PRECISA DE DINHEIRO EMPRESTADO NÃO VAI AO BCE, VAI AOS OUTROS BANCOS QUE POR SUA VEZ VÃO AO BCE.

- Pois.

MAS PARA QUÊ COMPLICAR? NÃO ERA MELHOR PORTUGAL OU A GRÉCIA OU A ALEMANHA IREM DIRECTAMENTE AO BCE?

- Bom... sim... Quer dizer... Em certo sentido... Mas assim os banqueiros não ganhavam nada nesse negócio!

AGORA NÃO PERCEBI

- Sim, os bancos precisam de ganhar alguma coisinha. O BCE de Maio a Dezembro de 2010 emprestou cerca de 72 mil milhões de euros a países do euro, a chamada dívida soberana, através de um conjunto de bancos, a 1%, e esse conjunto de bancos emprestaram ao Estado português e a outros Estados a 6 ou 7%.

MAS ISSO ASSIM É UM "NEGÓCIO DA CHINA"! SÓ PARA IREM A BRUXELAS BUSCAR O DINHEIRO!

- Não têm sequer de se deslocar a Bruxelas. A sede do BCE é na Alemanha, em Frankfurt. Neste exemplo, ganharam com o empréstimo a Portugal uns 3 ou 4 mil milhões de euros...

ISSO É UM VERDADEIRO ROUBO. COM ESSE DINHEIRO ESCUSAVA-SE ATÉ DE CORTAR NAS PENSÕES, NO SUBSÍDIO DE DESEMPREGO OU DE NOS TIRAREM PARTE DO 13º MÊS.

- As pessoas têm de perceber que os bancos têm de ganhar bem, senão como é que podiam pagar os dividendos aos accionistas e aqueles ordenados aos administradores que são gente muito especializada.

MAS QUEM É QUE MANDA NO BCE E PERMITE UM ESCÂNDALO DESTES?

- Mandam os governos dos países da zona euro. A Alemanha em primeiro lugar que é o país mais rico, a França, Portugal e os outros países.

ENTÃO, OS GOVERNOS DÃO O NOSSO DINHEIRO AO BCE PARA ELES EMPRESTAREM AOS BANCOS A 1%, PARA DEPOIS ESTES EMPRESTAREM A 5 E A 7% AOS GOVERNOS QUE SÃO DONOS DO BCE?

- Bom, não é bem assim. Como a Alemanha é rica e pode pagar bem as dívidas, os bancos levam só uns 3%. A nós ou à Grécia ou à Irlanda que estamos de corda na garganta e a quem é mais arriscado emprestar, é que levam juros a 6, a 7% ou mais.

ENTÃO NÓS SOMOS OS DONOS DO DINHEIRO E NÃO PODEMOS PEDIR AO NOSSO PRÓPRIO BANCO!...

- Nós, qual nós?! O país, Portugal ou a Alemanha, não é só composto por gente vulgar como nós. Não se queira comparar um borra-botas qualquer que ganha 400 ou 600 euros por mês, ou um calaceiro que anda para aí desempregado, com um grande accionista que recebe 5 ou 10 milhões de dividendos por ano, ou com um administrador duma grande empresa ou de um banco que ganha, com os prémios a que tem direito, uns 50, 100, ou 200 mil euros por mês. Não se pode comparar...

MAS, E OS NOSSOS GOVERNOS ACEITAM UMA COISA DESSAS?

- Os nossos Governos... Por um lado, são, na maior parte, amigos dos banqueiros ou estão à espera dos seus favores, de um empregozito razoável quando lhes faltarem os votos.

MAS ENTÃO ELES NÃO ESTÃO LÁ ELEITOS POR NÓS?

- Em certo sentido, sim, é claro, mas depois... Quem tem a massa é quem manda. É o que se vê nesta actual crise mundial, a maior de há um século, para cá. Essa coisa a que chamam sistema financeiro transformou o mundo da finança num casino mundial, como os casinos nunca tinham visto nem suspeitavam, e levou os EUA e a Europa à beira da ruína. É claro, essas pessoas importantes levaram o dinheiro para casa e deixaram a gente como nós, que tinha metido o dinheiro nos bancos e nos fundos, a ver navios. Os governos, então, nos EUA e na Europa, para evitar a ruína dos bancos tiveram de repor o dinheiro.

E ONDE O FORAM BUSCAR?

- Onde havia de ser!? Aos impostos, aos ordenados, às pensões. De onde havia de vir o dinheiro do Estado?...

MAS METERAM OS RESPONSÁVEIS NA CADEIA?

- Na cadeia? Que disparate! Então, se eles é que fizeram a coisa, engenharias financeiras sofisticadíssimas, só eles é que sabem aplicar o remédio, só eles é que podem arrumar a casa. É claro que alguns mais comprometidos, como Raymond McDaniel, que era o presidente da Moody's, uma dessas agências de rating que classificaram a credibilidade de Portugal para pagar a dívida como lixo e atiraram com o país ao tapete, foram passados à reforma. Como McDaniel é uma pessoa importante, levou uma indemnização de 10 milhões de dólares a que tinha direito.

E ENTÃO COMO É? COMEMOS E CALAMOS?

 - Isso já não é comigo, eu só estou a explicar...
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Recebido por email, mas dá-(me) que pensar...
Seremos assim tão burros?...



 

quarta-feira, abril 04, 2012

Cântico da Páscoa...


"Que quereis aqui, vós, portentosos sons
Que do céu vindes procurar-me no pó?
Soai antes onde há corações bons.
A mensagem bem a oiço porém falta-me a fé.
E o milagre é da fé o filho amado...”

“Àquelas esferas não ouso aspirar
Donde me vem a boa e doce nova;
Mas quando o som da infância se renova
À vida novamente quero voltar...”

"Então descia em mim a bênção
Do Céu, na paz do Sábado, serena,
E a voz dos sinos, de presságios plena,
E era um prazer fogoso a oração;
Um indizível anseio me impelia
A florestas e campos percorrer,
E entre lágrimas ardentes sentia
Que em mim um mundo começava a nascer...”

"O canto veio lembrar-me os jogos de infância,
Da primavera a festa livre da alegria;
O ânimo infantil sustenta-me a lembrança
Que do derradeiro passo me desvia...”

“Ressoai, ressoai doces hinos do Céu!
Lágrima, corre!...Terra aqui estou eu!...”

Johann Wolfgang Goethe - in Fausto
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Boa Páscoa!...





Orquestração de Hinos

  Polpa dos lábios. E a interdita palavra Freme… E se acolhe Em fervor mudo E sílaba-a-sílaba Se inaugura… Percurso De euf...