domingo, janeiro 15, 2023

UMA GOTA DE MELANCOLIA

 

Escrevo poemas imaginários

(que jamais serão escritos)

e te envio numa gota de chuva

neste inverno de melancolia

 

sei que vais beber esta água

delicadamente

como se fora um raio de sol  qie se alonga

em tua pele macia e nua…

 

e todos os jardins da cidade

fossem habitados por faunos e ninfas 

em dança pagã

e pura…

 

Manuel Veiga

15.01.03

quinta-feira, janeiro 05, 2023

O Corpo Contra A Noite...


na generosidade do teu corpo

contra a noite

existe uma raiz funda

como se devolvêssemos

sem mágoa nossa vida vivida

ou apenas o perfume  do Tempo

o que agora sentimos…

e que por nós passa,.. ainda! 


há no entanto esta quenturq

e este aconchego

 e a caricía descuidada sobre

a coxa . e  o calor do afago

e meu abraço

e esta ternura à flor da pele

como se a noite

fora outrora…

 

Manuel Veiga

04.01.23

terça-feira, dezembro 06, 2022

COLORIDA GOTA


 

Que a palavra venha, pois

assim secreta. colorido da gota

se derrama

e que fica

 

e em silêncio

se desenha urdidura

E se agita. E cálida se reclama

Solar. E nítida

 

que a palavra venha pois

Sin liberta

e solta

 

e seja númen. E nome

inscrição muitos lábios

na pele nua.

 

Manuel Veiga

in Coreografia dos Sentidos

edição MODOCROMIA

domingo, novembro 27, 2022

Imperfeições


amor é uma linha recta.

infinita no Espaço-Tempo

onde se jogam todas as formas

imperfeita…

 

ligeirissima curva, porém

pertuba a perfeição

geométrica da linha

por onde o amor

se liberta

e denuncia

e celebra

 

caleidoscópio de cores infinitas

a derremarem-se pelo espaço - sem tempo!

primeirissima

árvore

e

fruto proibido

não pecado

ainda,…

 

Manuel Veiga

26.11.22

 

sábado, novembro 26, 2022

PLANURAS...

 

Planuras

 

acendem se brisas

e amanhecem potros

pradarias

nuas

 

grutas. abruptas

veredas líquidas

planuras

e o tropel

as bocas

 

Manuel Veiga

Coreografia dos Sentidos

Ediçáo Modocromia

quarta-feira, novembro 16, 2022

Dois Poemas Simples

 

1  Emulação de rostos

 

emulação de rostos

e o perfil de máscaras

reflexo de palavras

lúcidas

 e Memória dos espelhos

que resistem.

 

2 - Pagãos e puros


por amor de ti

fuzilei todas as palavras

ficamos indefesos

e livres


e inventamos, então,

a linguagem primordial

dos corpos

Pagãos e puros…

 

Manuel Veigq

“Coreografia dos Sentidos”

Edição Modocromia

 

domingo, novembro 13, 2022

Um Corcel a Latejar no Peito

 

 

Felizes, os dias felizes e os dias de sol

Luminosos como a inocência de uns olhos inocentes

E as amáveis coisas que nos rodeiam

E a delicadeza dos nomes

Que enunciamos

 

E um corcel a bater no peito

 Pronto a soltar-se no inesperado

De uma qualquer esquina perdida

Em fusão de Liberdade…

 

E a dor magoada e os ardentes

Anseios que vinculam e ligam

E religam a consciência dos homens´

Ao devir da Humanidade

 

Manuel Veiga

11.11.22

 


domingo, novembro 06, 2022

O Estado Novo de Fernando Pessoa


 

Sim, o Estado Novo e o povo

ouviu, leu e assistiu

Sim, isto  é um “Estado Novo”

Pois é um estado das coisas

que nunca antes se viu.

 

Em tudo paira a alegria

e, de tão íntima que é,

como Deus na Teologia

ela existe em toda a parte

e em parte alguma se vê---

 

Há estradas, e a grande Estrada

Que a tradição ao porvir

Liga, branca e orçamentada,

E vai de onde ninguém parte

Para onde ninguém quer ir

 

Há portos  e o p porto-maca

Onde vem doente o cais

Sim, mas nunca ali atraca

O  Paquete Portugal

Pois tem calado de mais---

 

Há esquadra...  Só um tolo se cala

Que a inteligência propicia

A achar, sabe que, se fala,

Desde logo encontra a esquadra

É uma esquadra de polícia.

 

Visão grande! Ódio à minúscula

Nem para prová-la tal

tem alguém que ficar triste

Unido Nacional existe

Mas não unido nacional!

 

E o Império? vasto caminho

Onde os que o poder despeja

Conduzirão com carinho

A civilização cristã

Que ninguém sabe ou que seja

 

Com diretrizes à arte

Reata-se a tradição

E juntam-se Apolo e Marte

No Teatro Nacional

Que é onde era a Inquisição

 

E a fé dos nossos maiores?

Forma-a impoluta o consórcio

Entre os padres e os doutores

Casados o Erro e a Fraude

Já não pode haver divórcio-

 

Que a fé seja sempre viva

Porque a Esperança não é vã

A fome corporativa

É derrotismo, Alegria!

Hoje o almoço é amanhã!..

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Escrito em 1935, ano em que o Poeta faleceu

dado à estampa por Jorge Sena no Diário Popular

em Junho de 1974

 

MV

 

quarta-feira, novembro 02, 2022

OUTONAIS OS DIAS...

 

Outonais os dias solarengos

E os corpos deslaçados na miragem

E a cor macilenta dos frutos a caírem

De tão maduros…

 

E o céu cobrir.se de prenúncios

Hesitante entre e chuva e sol toldado

 

Chilreiam pelas ruas bandos de adolescentes

Colhendo, descuidados, fugazes primícias

Seios empinados e rostos afogueados

Ponteados de borbulhas, inflamadas

 

E o poeta, qual gato mimado, guarda

Os restos de Sol e recolhe lembranças e memórias

Que desfiam passo a passo e embriagam

Como se o tempo fosse apenas este néctar

Vertido neste Agora.

 

Manuel Veiga

03.11,2022

quarta-feira, outubro 26, 2022

Para Um Novo Teorema da Física Moderna

 

dizem expeditos cientistas que o leve bater

das asas de uma borboleta à distância

de milhares de quilómetros pode causar

uma catástrofe num ponto indeterminado…

 

esse poder a borboleta desconhece, que solta belíssimos voos

enquanto aqui e a ali, vai beijando umas flores

no seu jardim predileto – sem outro dano

ou propósito….

 

assim o poeta ele fosse – poder soltar os seus versos

e o adejar de seus mistérios e a milhares de quilómetros

pudesse agitar a beleza das palavras e com elas

fundir.se na consumação dos tempos como se fora

um novo teorema da física moderna…

 

Manuel Veiga

26.10. 22

UMA GOTA DE MELANCOLIA

  Escrevo poemas imaginários (que jamais serão escritos) e te envio numa gota de chuva neste inverno de melancolia   sei que vais ...